Sábado da Vigésima Oitava Semana do Tempo Comum. O penúltimo final de semana do mês das missões chegando até nós. Nossa missão principal é viver na dignidade com que Deus nos criou. A vida é o dom maior de Deus para nós. Entretanto, o nosso viver, está relacionado com o viver do outro. A vida é minha, mas o serviço dela tem como objetivo à convivência feliz, saudável e fraterna com o outro. Assim, não vivemos para nós mesmos, mas para o plano maior, como Deus nos concebeu. Quem vive para si mesmo, faz do seu egocentrismo o centro da sua própria destruição e não experimenta em sua vida a extensão das promessas de Deus.

Ser e fazer da vida uma missão. Nossa missão é caminhar pelas mesmas trilhas por onde caminhou Jesus. Ele que saiu de si mesmo e assumiu a nossa condição humana, encarnando em nossa realidade histórica, mostrando-nos a face de um Deus pleno de misericórdia, ternura e amorosidade. Unidade e unicidade entre Pai e Filho, transcendente e imanente, se fazendo numa pessoa humana como nós: Jesus. Deus Pai na pessoa de seu Filho. Teologicamente, dizemos que a imanência e a transcendência de Deus se fazem na relação com a Criação. Se Deus é o Ser Superior, Ele está acima de Sua Criação. Nesta relação se configura a sua transcendência. Entretanto, este mesmo Deus transcendente pode ser encontrado ativamente dentro de Sua Criação, configurando assim a sua imanência.

Somos seres de paz. A paz é a fonte principal de nossa essência, enquanto seres criados por Deus. Não a paz do conformismo ou da indiferença acomodada do “tanto faz”. A paz de Deus é a paz inquietante da ação comprometida e transformadora dos gestos concretos pela paz. Nosso bispo Pedro, num de seus poemas revolucionários, nos inquieta e provoca a buscar a paz onde ela realmente deve ser encontrada: “…a PAZ que luta pela PAZ! A PAZ que nos sacode. Com a urgência do Reino”, denunciando a paz dos cemitérios de nosso conformismo e da nossa indiferença preguiçosa. Paz que não é apenas ausência de guerras, mas estado de espírito em favor da vida.

“A paz é a única forma de nos sentirmos realmente humanos”, afirmava Albert Einstein. No mundo de hoje, sacudido por uma guerra insana e fraticida, bem que aqueles que arquitetam tais guerras deveriam, por princípio, serem os primeiros a lutarem a batalha na linha de frente de seus projetos de morte. Assim, estaríamos todos em paz, já que tais arautos da guerra pensariam duas vezes antes de colocar os jovens para matar seus semelhantes, sem nenhuma razão para tal. Neste clima tão hostil das guerras, bem que poderíamos seguir o sábio conselho do cantor e compositor jamaicano Bob Marley (1945-1981): Se todos dermos as mãos, quem sacará as armas?”

“Eu deixo para vocês a paz, eu lhes dou a minha paz!” (Jo 14,27) assim Jesus se transforma no “Deus da paz”. Paz fundamentada na justiça do Reino, fruto do Espirito Santo de Deus atuando em nós. Espirito Santo que nos renova por dentro, nos fazendo testemunhas da paz, já que os dons do Espírito Santo são: sabedoria, inteligência, conselho, fortaleza, ciência, piedade e temor de Deus, segundo o Catecismo da Igreja. Aos que nos abrimos para acolher estes dons, tornamo-nos capazes de seguir as inspirações divinas, compreendendo o que devemos fazer, desfrutando-os e trazendo paz aos nossos corações e o entendimento das coisas de Deus.

Viver a ação do Espirito Santo de Deus em nós não com palavras, mas com o testemunho concreto da própria vida. Testemunhar a favor de Jesus e de seu projeto de amor, conforme o texto do Evangelho de hoje nos propõe: “Todo aquele que der testemunho de mim diante dos homens, o Filho do Homem também dará testemunho dele diante dos anjos de Deus”. (Lc 12,8) Estabelecemos assim a sintonia entre o nosso agir real e o sonho de Deus para nós neste mundo. Não desprezemos a força libertadora do Espirito Santo agindo através de nós. “Quem blasfemar contra o Espírito Santo não será perdoado”. (Lc 12,10) Não caiamos na tentação de achar que sozinhos iremos conseguir, mas com a força de Deus e de seu Espirito, nos transformaremos (conversão) e a realidade a nossa volta, uma vez que quem é fiel ao Filho, o terá a seu favor diante de Deus. “Dá-nos, Senhor, aquela PAZ inquieta, que não nos deixa em PAZ!” (A Paz inquieta – Pedro Casaldáliga)