Terceiro Domingo do Tempo Comum. “Domingo da Palavra de Deus”. Foi assim que o Papa Francisco determinou, em 2019, que fosse celebrado em todo o mundo este domingo. Isto, com no intuito de levar as comunidades cristãs a dar uma atenção especial à Palavra de Deus, como forma de trazê-la para mais próximo da vida das pessoas que creem. “A Palavra é o Verbo e o Verbo é Deus”, já nos dizia o evangelista São João em seu prólogo. Ou seja, no começo, antes da criação, o Filho de Deus já existia em Deus, voltado para o Pai: estava em Deus, como a Expressão de Deus, eterna e invisível.

Santo Agostinho, com sua lucidez teológica, fez aquilo que poderíamos denominar de uma bela síntese ao afirmar: “Evangelho significa em latim boa notícia ou boa nova. Podemos empregá-la sempre que se anuncia uma notícia feliz, mas reservou-se-lhe o uso para designar a mensagem divina, anunciada pelo Salvador”. Fato é que a Palavra de Deus deve ser o centro da vida de todos aqueles e aquelas que creem. Neste sentido, uma das canções de nosso cancioneiro, nos ajuda a pensar melhor na Palavra quando assim cantamos: “Pela Palavra de Deus, saberemos por onde andar. Ela é luz e verdade, precisamos acreditar”.

Como o Domingo é o Dia do Senhor e da Palavra, reservei alguns instantes desta manhã para estar a sós com o Senhor, rezando em um lugar especial: na capela do Santíssimo da Catedral de São Félix do Araguaia. Ali dialoguei agradecido ao meu Deus pelo dom da vida e pelo privilégio de fazer parte desta Igreja da Caminhada, tendo na pessoa de nosso bispo Pedro, com a sua radicalidade evangélica, a inspiração maior para continuar lutando com esperançamento, na procura do Reino. Como ele mesmo gostava de nos dizer: “Jesus de Nazaré, a sua causa e o seu Reino, é o que devemos buscar”.

Por falar em palavra, na data de hoje, comemoramos o “Dia Mundial da Religião”. Esta é uma daquelas datas que tem o objetivo de promover o respeito, a tolerância e, sobretudo, o diálogo entre as diversas religiões existentes. De quebra, nesta mesma data, aqui no Brasil, comemoramos o “Dia Nacional de Combate à Intolerância Religiosa”. A palavra tolerância é um termo que vem do latim “tolerare” e significa “suportar” ou “aceitar”, “respeitar”. Não importa qual seja a religião, se é monoteísta (acredita em um deus) ou politeísta (acredita em vários deuses e entidades). Em essência, a intenção das religiões é buscar o mesmo objetivo: a paz e o respeito entre os seres humanos e a natureza.

Jesus é a Palavra, Verbo Encarnado que nos provoca as mudanças necessárias para um bom entendimento de sua vida, obra e missão neste mundo. No texto do Evangelho de Marcos, que estamos refletindo no dia de hoje, Jesus está na Galileia. Aliás, os Evangelhos registram que Jesus passou a maior parte de sua vida e de seu ministério nos vilarejos judaicos perto do Mar da Galileia. É bom que saibamos que, no tempo de Jesus, a província da Galileia formava um amplo território retangular, com aproximadamente 64 km por 40 km. Espertamente, Herodes anexou a Galileia ao seu reino. Sendo assim, muitos judeus passaram a habitá-la, numa espécie de re-colonização.

É neste contexto geográfico, econômico, político e social que Jesus vai iniciar a sua vida pública messiânica, e chamar os primeiros discípulos. Segundo o historiador judeu Flávio Josefo, em uma de suas muitas obras (A Guerra Judaica), “a região da Galileia chegou a ter cerca de 240 cidades e vilas, com um exército de aproximadamente 100 mil homens para resistir aos ataques dos romanos”. A estratégia de Jesus é partir da periferia e não do centro (Jerusalém), pois é ali que estão os destinatários primeiros do Reino de Deus: Cafarnaum, Nazaré e Tiberíades. Foi exatamente nesta região que Jesus cresceu e viu de perto as contradições entre a realidade vivida pelo povo, e a vida das autoridades religiosas de seu tempo, cheias de privilégios, benesses e regalias.

O texto de hoje fala que, depois da prisão de João Batista, Jesus entra em ação. São as primeiras palavras d’Ele, apresentando a chave para interpretar toda a sua atividade messiânica. Não é mais tempo de espera (Cronos), mas é a hora de Deus manifestando na história (Kairós). Ao invés da “espera”, a palavra de ordem da vez é “agir”. Com Jesus, o Reino de Deus entra na história humana. O Reino é o amor de Deus que provoca a transformação radical da situação injusta que domina as pessoas. O Reino já chegou! Ele é dinâmico e está sempre em crescimento. Para abraçar o Reino, precisamos passar pelo processo de “Conversão”. A ação de Jesus exige mudança radical da orientação de vida: atitudes, pensamentos, modos de ser e viver. Acreditar na Palavra (Boa Notícia) é aceitar o que Jesus realiza e empenhar-nos com Ele, para que ela continue acontecendo no aqui e agora de nossa história.