Sábado do Vigésimo Terceiro do Domingo Comum. Chegamos ao terceiro final de semana do mês de setembro. Como o enfoque do mês é a Bíblia, somos convidados a fazer uma Leitura Orante da Palavra de Deus. Conhecer, entender, para saber viver! Percorrer o caminho do discipulado de Jesus. Mergulhar profundamente nos mistérios da Palavra Divina, para bebermos das águas límpidas de uma fonte perene de espiritualidade. Fazer a incursão no texto bíblico, entendendo-o a partir de seu contexto, para não virar pretexto que justifique uma espiritualidade desencarnada.

Conhecer a Bíblia é adentrar o mistério absoluto do próprio Deus! Deus se revelando na história humana, fazendo-se presente no meio de nós: Deus Conosco. Quem se propõe fazer a experiência de caminhar com a metodologia da Leitura Orante da Bíblia (Lectio Divina), que é um método muito antigo usado na Igreja Católica, faz um mergulho no Ser Transcendente de Deus. Lembrando que a Leitura Orante (lectio divina) é composta por quatro etapas distintas: lectio (leitura); meditatio (meditação); oratio (oração) e contemplatio (contemplação). Esses passos são um caminho pedagógico-espiritual que mergulha o coração da pessoa no coração de Deus. É um encontro de amor que se faz oração, na intimidade do silêncio fecundo e contemplativo.

Não basta conhecer a Palavra. Necessário se faz um processo de interiorização pela introspecção, para que esta Palavra ganhe vida nas nossas vidas. Tampouco decorar os seus versículos que interessam para, nalgum momento oportuno, serem ditos, geralmente para justificar a postura assumida. Tudo o que vem da Bíblia dará frutos há seu tempo, desde que a fé daquele que acredita, seja cultivada. Como bem profetizou Isaías: “assim acontece com a minha palavra que sai de minha boca: ela não volta para mim sem efeito, sem ter realizado o que eu quero e sem ter cumprido com sucesso a missão para a qual eu a mandei”. (Is 55,11)

Palavra de Deus que nos faz recordar dois mártires da história de nossa Igreja: São Cornélio, Papa, e São Cipriano, Bispo. Uma rica história de amizade de testemunhas de Jesus de Nazaré. Ambos foram martirizados no mesmo dia, com uma diferença de cinco anos. A festa litúrgica do santo Papa Cornélio foi colocada, no calendário da Igreja, no dia 16 de setembro, junto com a de são Cipriano. A memória dos dois santos celebradas juntas como testemunhas de amor pela verdade que não pode ceder, mesmo diante da perseguição. Amaram tanto o que fizeram que deram suas vidas como testemunho eclesial, ao ponto de Cipriano assim dizer: “Não pode ter Deus como pai quem não tem a Igreja como mãe”.

Duas árvores que souberam dar bons frutos. Dois corações que transbordaram da presença transcendente de Deus, como podemos ver no texto de hoje que a liturgia nos reservou. Jesus falando sobre as árvores que dão bons frutos e os corações que sabem acolher a Palavra e dizer coisas boas do fundo deles: “Não existe árvore boa que dê frutos ruins, nem árvore ruim que dê frutos bons”. (Lc 6,43) “O homem bom tira coisas boas do bom tesouro do seu coração. Mas o homem mau tira coisas más do seu mau tesouro, pois sua boca fala do que o coração está cheio”. (Lc 6,45) Somos conhecidos pelos nossos atos (frutos), e por aquilo que sai da nossa boca. A boca expressa aquilo que vai no coração, já que este é a fonte raiz de onde procede todas as nossas ações. A boca fala o que quer, mas são as nossas atitudes que dizem quem realmente somos. Em sintonia de amor, coração e boca se irmanam.

“Quem me ama, realmente, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele nós viremos”. (Jo 14,23) Somos seres imperfeitos e limitados e, somente com as nossas forças, não chegaremos ao pleno êxito das nossas realizações pessoais e comunitárias. Temos em nós a presença de Deus pelo Espírito Santo. Ele é a memória viva de Jesus que continua sempre presente na nossa história de vida. É Ele que nos ajuda a manter e a interpretar a ação de Jesus em qualquer tempo e lugar. Quem põe em prática a mensagem de Jesus, constrói a vida pessoal e comunitária sobre alicerce firme, que resiste à alienação, aos conflitos e até mesmo à perseguição. Quem fica somente no ouvir ou no falar, jamais colaborará na construção da nova sociedade. Diante deste contexto, quais têm sido os frutos da árvore de sua vida? Que tipos de palavras são as que saem de sua boca? Seu coração está cheio do que mesmo? Precisamos deixar que o coração coordene as nossas ações, seguindo a inspiração de William Shakespeare: “O amor não prospera em corações que se amedrontam com as sombras”.