Sexta feira da Primeira Semana do Advento. 8 de dezembro, dia em que a Igreja Católica celebra a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria. Imaculada Conceição refere-se a um dogma através do qual a Igreja declarou que a concepção de Maria foi sem a mancha (mácula em latim) do pecado original. Segundo a concepção da Igreja, desde os primeiros dias de sua existência, Maria foi preservada do pecado pela graça de Deus. Ela sempre foi cheia da graça divina: “Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!” (Lc 1,28)

Desde os tempos da Igreja primitiva, acreditava-se que Maria, a Mãe de Jesus, foi concebida sem a marca do pecado original. No começo do cristianismo o dogma da Imaculada Conceição já era tido como uma “verdade de fé” para os fiéis. Entretanto, foi o Papa Pio IX, que proclamou o dogma da Imaculada Conceição, recorrendo principalmente à afirmação do livro do Gênesis: “Eu porei inimizade entre você e a mulher, entre a descendência de você e os descendentes dela”. (Gn 3, 15). Desta forma, segundo a profecia, seria necessário o ventre de uma mulher sem pecado, para dar à luz ao Menino Jesus, vindo reconciliar as pessoas com Deus.

Ao longo da história esta ideia foi amadurecendo e, com os importantes escritos dos Padres da Igreja (Patrística), como Irineu de Lyon e Ambrósio de Milão. Santo Tomás de Aquino, por volta de 1252, manifestou o pensamento de que Maria foi, pela graça, imunizada contra o pecado original. Estes escritos defendiam o dogma do privilégio mariano, que seria declarado e definido séculos mais tarde. Porém, o dia da festa da Imaculada Conceição foi definido em 1476 pelo Papa Sisto IV. A existência da festa era um forte indício da crença da Igreja na Imaculada Conceição, mesmo antes da definição do dogma no dia 8 de dezembro de 1854, dia da festa, o Papa Pio IX, com a Bula intitulada Deus Inefável (Ineffabilis Deus), definiu oficialmente o dogma da Imaculada Concepção de Maria.

No dia da festa da Mãe, fiz questão de rezar, em meio a uma revoada de periquitos, junto daquele que a conheceu muito de perto. Nosso bispo Pedro tinha uma relação muito estreita com a Mãe de Jesus. Para ele, ela era a “Comadre de Nazaré”. Foi ele que me mostrou o caminho de aproximação com esta mulher guerreira, que teve a sua história registrada, longe dos espaços sagrados do templo, dos castiçais dourados e dos sacrários banhados a ouro. Como digna representante da comunidade dos pobres, Maria foi visitada em seu casebre, nas quebradas da periferia de Nazaré. Longe dos poderes das lideranças religiosas em seus palácios, o anjo vai estar com uma mulher no meio da ralé.

Deus comunica os seus planos de libertação, através do anjo, informando à Maria que ela seria a Mãe de Jesus, o Salvador, e Mãe dos pobres como destinatários primeiros do Reino. Uma mulher pobre e marginalizada pela sociedade de seu tempo, fica sabendo que o caminho do menino gestado em seu ventre é o da pedagogia que ensina a fazer a história dos pobres que buscam um mundo mais justo e mais humano. Uma mulher sendo protagonista do projeto do Filho, trazendo uma ordem nova, a libertação que leva as pessoas à relação de partilha e fraternidade, substituindo as relações de exploração e dominação. Um caminho difícil de ser trilhado, mas este é o caminho próprio da vida de Jesus.

Maria recebe como missão, ser aquela que vai gestar o projeto salvador de Deus. Uma mulher que se faz co-educadora com o seu filho Jesus, que vai mostrar pela sua palavra e ação, pela sua morte, ressurreição e ascensão, o caminho que leva à salvação e comunhão com o Pai, fonte e fim de toda a vida. Ela se faz a representante da comunidade dos pobres que esperam pela libertação. Dela nasce Jesus Messias, o Filho de Deus. Para desespero dos moralistas de plantão, o fato de Maria ser “Mãe solteira” ao conceber sem ainda estar morando com José, indica que o nascimento do Messias é obra e graça da intervenção divina de Deus. O coração maternal de Deus nos mostra que aquele que vai iniciar uma nova história surge dentro da história de maneira totalmente nova, tendo como protagonismo o jeito feminino de Maria ser. “De agora em diante, todas as gerações me chamarão bem-aventurada, pois o Poderoso fez grandes coisas em meu favor; santo é o seu nome”. (Lc 1,48-49) Em Maria, cumprindo a promessa, Deus assume o partido dos pobres, e realiza uma transformação na história, invertendo a ordem social: os ricos e poderosos são depostos e despojados, e os pobres e oprimidos são libertos e assumem a direção dessa nova história.