Quarto Domingo da Páscoa. Domingo do Bom Pastor. Domingo de oração pelas vocações. Sempre no Quarto Domingo da Páscoa, somos convocados a rezar pelas vocações. Este já é o 61º ano que assim o fazemos, pois esta data remonta ao ano de 1964, quando o Papa Paulo VI, estabeleceu o Dia Mundial de Oração pelas Vocações. Desde então, este dia tem sido uma oportunidade para reconhecer e agradecer o compromisso daqueles que dedicam suas vidas ao serviço dos outros, seja através das vocações presbiterais, da vida consagrada, do cuidado familiar ou do trabalho em prol do bem comum. O tema estabelecido pelo Papa Francisco para o dia de hoje é, “Chamados a semear a esperança e a construir a paz”.

Vocação é chamado! Chamado e resposta. A palavra vocação é de origem latina “vocare”, que significa chamar, chamado, tendência ou habilidade nata que leva uma pessoa a exercer a sua missão específica. Todos, de alguma maneira, somos chamados por Deus para exercer a nossa missão neste mundo, seja como pai, mãe, professor/a, religioso, religiosa, padre, bispo… Não se trata de um chamado apenas à vida religiosa, como alguns de nós assim pensam. O chamado vem de Deus, direcionado a cada um/a, e requer de nossa parte, a resposta que devemos dar. Portanto, estamos rezando hoje por todas as vocações, e a sua vocação, seja ela qual for, está dentro destas orações de hoje.

O chamado é individual e também comunitário. Chamado à esperança e à paz. Por este motivo o Papa Francisco “destaca a importância de cada pessoa e comunidade dar corpo e coração à esperança do Evangelho, promovendo a unidade e a fraternidade em todas as esferas da vida”. Rezar pelas vocações como quer o nosso pontífice, enfatizando também a necessidade de cada um de nós, envolvermos com coragem e generosidade na construção de um mundo mais fraterno, pacífico e esperançoso. Como ele mesmo nos diz: “Este Dia proporciona-nos sempre uma boa ocasião para recordar, com gratidão, diante do Senhor, o compromisso fiel, quotidiano e muitas vezes escondido daqueles que abraçaram uma vocação que envolve toda a sua vida”.

Eu Sou! Eu Sou o Bom Pastor! Estas são as frases ditas por Jesus, autodenominando-se, como aquele Messias enviado por Deus, para cumprir a missão de tornar o Ser transcendente de Deus vivo em nossa realidade humana. “Eu Sou a luz do mundo”. “Eu Sou o pão da vida”. “Eu Sou o caminho, a verdade e a vida”. “Eu Sou” é uma expressão teológica, já utilizada desde os primórdios no Antigo Testamento, quando Deus se revelara aos patriarcas. Um Deus que sempre foi, como os israelitas experimentaram no passado histórico de libertação: “Deus disse a Moisés: ‘Eu sou aquele que sou’. ‘Você falará assim aos filhos de Israel: ‘Eu Sou me enviou até vocês’” (Ex 3,14) Ou seja, Deus se apresentando como aquele que está presente. O mesmo Deus do passado, se fazendo presente em Jesus, manifestando a sua identidade dentro de um processo de libertação e cuidado para com todos.

Eu Sou o Bom Pastor! O capitulo 10 do Evangelho de São João, sendo objeto de nossa reflexão deste domingo, para que assim possamos entender melhor, que pastor é este que Jesus se auto refere. Importante salientar que os versículos do texto que estamos refletindo hoje, vêm imediatamente após o versículo 10, no qual Jesus faz uma afirmação que vai nortear todo o restante do texto: “Eu vim para que todos tenham vida e vida abundante”. (Jo 10,10) O bom pastor do qual Jesus está falando não é o contrário de “mal pastor”, mas Ele se coloca na condição de ser o verdadeiro pastor. Aquele que da a vida por suas ovelhas. O contrário disto é o mercenário, que além de não cuidar das ovelhas, as exploram, abandonam, pois o que está em jogo são os seus interesses pessoais.

Talvez esta linguagem de pastor, não seja a mais adequada para entendermos hoje, a verdadeira missão de Jesus como aquele pastor que cuida das suas ovelhas, pois esta linguagem tem mais sentido dentro de um contexto rural, diferente do urbanismo ao qual estamos inseridos. Certo é que Ele é aquele que cuida de todas as pessoas que Deus colocou sob a sua missão de salvar e libertar. Como estamos em clima de Páscoa e Ressurreição, o compromisso deste Jesus Pastor é aquilo que João já nos havia dito mais atrás: “E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum daqueles que ele me deu, mas que eu os ressuscite no último dia”. (Jo 6,39) Jesus é o bom pastor. Ao contrário de muitos dos nossos pastores hoje em dia, Jesus é o modelo de pastor: Ele não busca seus próprios interesses; Ele dá a sua própria vida a todos aqueles que aceitam sua proposta. Como arremata Santo Agostinho em um de seus escritos: “Sim, sim, verdadeiramente Jesus é bom pastor: porque ama as suas ovelhas mais que a si mesmo, mais que seu repouso, mais que sua vida”. Sejamos este mesmo modelo de pastor e pastora, por onde quer que andemos, no cumprimento da nossa missão!