Quinta feira do Tempo do Natal antes da Epifania. A primeira semana do ano está se desdobrando em atos. Aos poucos, vamos nos adequando ao novo ano, mesmo com as projeções, que muitos de nós, tínhamos em mente, a mesmice das velhas atitudes seguem dentro de cada um. A cena das praias cheias de sujeira, de gente que comemorava a virada do ano, pedindo paz, saúde e um mundo melhor, repercutem contraditoriamente em nossas mentes.

Ano novo, vida nova! Nem tanto assim! A aporofobia, que é um nome bonito para significar todo o ódio, rancor e ressentimento contra os pobres, ficou evidenciado na atitude de um dos vereadores do legislativo da cidade de São Paulo, que deseja aprovar uma CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito, para investigar o trabalho realizado pelo Padre Júlio Renato Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua, junto às pessoas em situação de rua. Puro oportunismo.

Onde moras? Esta foi a pergunta feita à Jesus pelos discípulos de João Batista, quando viram Jesus e resolveram segui-lo. A resposta de Jesus foi categórica: “vinde ver!”. (Jo 1,39) Viram que a morada de Jesus é onde moram os pobres. Onde não mora “ninguém”, porque os “ninguém” que lá residem, são os rejeitados por toda aquela “gente do bem”. Gente que até passa por aquele “resto” para irem ao templo para rezar.

Que Jesus vão encontrar em suas igrejas, em suas devoções, em seus cultos, suas adorações, ficamos a nos perguntar. Certamente não é o mesmo Jesus de Nazaré. Este Jesus está nas encruzilhadas da vida, nas quebradas da periferia, pois foi exatamente em lugares assim que Ele resolveu iniciar o seu projeto messiânico: na Galiléia dos pagãos, no meio dos pobres, doentes, prostitutas, cobradores de impostos, ambos marginalizados e invisibilizados pelo sistema político-religioso da época e de hoje.

“Se você não consegue ver Cristo no mendigo na porta da igreja, não poderá encontrá-lo no cálice”, dizia-nos São João Crisóstomo. Onde mora mesmo esse Jesus que buscamos na nossa fé? O conhecemos, de fato, ou Ele é apenas uma imagem que criamos no nosso subconsciente, pronto e disposto a satisfazer os nossos caprichos e interesses cotidianos? Sou capaz de ver no rosto daqueles que sofrem, o mesmo rosto do jesus da minha fé? Que Jesus é esse?

Como o texto da liturgia de hoje nos diz, temos um encontro marcado com Jesus. Ele está a um passo do nosso olhar. À nossa frente, ao nosso lado, à beira do caminho. Se a nossa fé não nos leva a enxergá-lo, precisamos trocar as lentes dos olhos do nosso coração. Mentes e corações abertos para acolher e servir os caídos. O fermento da fé verdadeira cresce no coração de quem sabe amar com misericórdia e compaixão. Na mesma amorosidade com que Deus nos criou.

“O que vocês estão procurando?” (Jo 1,38) Esta pergunta foi feita por Jesus à seus primeiros seguidores e também a cada um de nós que tomamos a decisão de seguir os passos d’Ele. O que buscamos na vida determina o modo com que respondemos a esta pergunta. O profeta Isaías já denunciava este desvio de comportamento errático, muito comum entre nós: “este povo chega junto a mim apenas com palavras sem atitude, e me honra somente com os lábios, enquanto seu coração está muito distante de mim. A adoração que me prestam é tão somente de regras e doutrinas criadas por homens”. (Is 29,13) Toda fé que não é acompanhada por uma prática de vida, a devoção à Deus, cai no formalismo vazio e se transforma na hipocrisia de uma falsa religião.