Quarta feira da Quinta Semana do Tempo Comum. Estamos findando a primeira semana do mês de fevereiro. Algumas pessoas já estão em clima de carnaval, a festa mais popular do povo brasileiro. Pena que ainda estamos sob a ameaça de uma nova variante da Covid-19, além da Dengue, que se espalha feito rastilho de pólvora em algumas cidades brasileiras. Aqui para nós a Dengue é um mistério. Apesar de tantas águas paradas, não a temos entre nós. Vai entender! Segundo dados do Ministério da Saúde a incidência é de 107,1 casos para cada grupo de 100 mil habitantes, enquanto a taxa de letalidade está em 0,9%. O carnaval assim, vai ser samba no pé e Dengue no ar.

A data de 7 de fevereiro é um momento especial para os povos originários. Neste dia comemoramos o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas. Esta data foi estabelecida pela Lei nº 11.696 de 2008. Ela propõe uma reflexão sobre a realidade dos povos originários, como a luta incansável pelo direito sagrado à sua terra (demarcação já), contra a destruição da natureza, a defesa do meio ambiente e a valorização dos saberes tradicionais culturais dos povos indígenas. Considerando que o Senso do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, de 2022, revela que a população indígena brasileira atingiu a marca de 1,7 milhão de pessoas, perfazendo um aumento significativo de 88,82% em 12 anos.

Vivemos num país contraditório: alta concentração de renda nas mãos de uns poucos e má distribuição de rendas e terras. Um país de latifundiários, seja da agropecuária, ou do agronegócio, produzindo (commodities) para exportação. Enquanto isso as terras indígenas ocupam apenas 11,6% do território nacional, que tem uma imensa extensão territorial de cerca de 851 milhões de ha, ou, mais precisamente, 8.547.403,5 km2. Enquanto isso, somos alimentados pela Agricultura familiar que faz chegar às nossas mesas, 70% daquilo comemos. Nosso bispo Pedro bem que profetizou ao dizer: “O latifúndio continua a ser um pecado estrutural no Brasil e em toda Nossa América. ‘Não podeis servir a Deus e ao dinheiro’; não podeis servir ao latifúndio e à Reforma Agrária”.

“O coração tem razões que a própria razão desconhece”, afirmava no século XVII o filósofo francês Blaise Pascal (1623-1662). A luta contraditória entre a sensibilidade do coração e as certezas lógicas da razão, muito embora que já na Grécia Antiga, segundo a concepção do filósofo Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), esta dialética se manifesta através do raciocínio que, embora coerente em seu processo interno, está fundamentado em ideias apenas prováveis, e por esta razão, traz em sua essência a possibilidade de ser refutada. Todavia, entre a filosofia de Pascal e Aristóteles, está o humanismo cristão de Jesus de Nazaré, que no dia de hoje chama a nossa atenção quanto a pureza e impureza.

Estamos mais uma vez tentando entender, refletindo e meditando o Evangelho segundo Marcos. Lembrando mais uma vez que este evangelista nos mostra toda a atividade de Jesus como o anúncio e a concretização da vinda do Reino de Deus para o meio da humanidade. Para tanto, este anúncio se manifesta em atos concretos da transformação radical das relações humanas: o poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha (campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir/sentir a realidade (campo ideológico), pela tomada de posição como agentes de transformação desta realidade, no aqui e agora de nossa história. Anunciar o Reino é fazer com que ele aconteça dentro de nós e se irradie para fora, nas relações de justiça, fraternidade, partilha, comandadas pelas regras do amor incondicional.

No texto de hoje, Jesus não está mais em contendas com os fariseus e mestres da Lei, sendo importunado por estes, mas diante de uma enorme multidão a quem Ele procura instruí-la: “o que torna impuro o homem não é o que entra nele vindo de fora, mas o que sai do seu interior”. (Mc 7,15) A observância severa e cega da Lei deturpava a compreensão daquilo que era considerado puro e impuro. A pessoa impura estava condenada a morrer na exclusão social: pobre doente e excluída. Jesus inverte as coisas, ao afirmar que o impuro não vem de fora para dentro, como ensinavam os doutores da lei, mas sim de dentro para fora. Ou seja, Jesus coloca o puro e o impuro num outro nível, no nível do comportamento ético/moral, abrindo um novo caminho para chegar até Deus e, assim, realizar o desejo mais profundo do povo pobre e marginalizado. Jesus anuncia uma nova moralidade, onde as pessoas podem relacionar-se entre si na liberdade e na justiça, superando as diferenças entre as pessoas, gerando privilegiados e marginalizados, opressores e oprimidos.