Quinta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. A primeira dezena de agosto já se foi. O tempo passando a galope. A rapidez como tudo acontece nos surpreende. O tempo corre veloz. Viver intensamente cada dia é a perspectiva de quem não quer deixar para amanhã o que pode ser vivido hoje. Amar e servir hoje no aqui e agora, fazendo e dando de nós o melhor que podemos ser, pois cada dia é único e este não se repetirá. Viver na intensidade que a vida requer, pensando como Renato Russo: “Não sei onde estou indo, só sei que não estou perdido, aprendi a viver um dia de cada vez”.

Mais um dia de “martiria” para a Igreja. Neste dia 10 de agosto, celebramos a Festa de São Lourenço, diácono de mártir (225-258). Lourenço é considerado um dos sete primeiros diáconos da Igreja. Viveu num período difícil da História do Cristianismo, onde os primeiros cristãos eram duramente perseguidos pelo imperador Valeriano. Foi decretada a pena de morte para os bispos, presbíteros e diáconos. Até o Papa Sisto II fora assassinado por este sanguinário imperador. São Lourenço de Huesta, foi executado de forma cruel, preso numa grelha, enquanto era lentamente queimado vivo, aos 33 anos. -“Se queremos realmente ser imagem de Deus, devemos assemelhar-nos a Cristo, pois Ele é a imagem da bondade de Deus e ‘imagem fiel da Sua substância’. (Heb 1,3).

Ainda dentro da Terceira Semana Pedro Casaldáliga, nosso bispo Pedro levou a sério a proposta de Jesus e deu a sua vida pelos pequenos. Entusiasmado com a Conferência de Medellín (1968), que provocou a Igreja a assumir a “Opção Preferencial Pelos Pobres”, traduzindo para o contexto latino americano, as diretrizes e determinações do Concílio Vaticano II (1962-1965). Para ele, Medellín “foi sem dúvida o nosso segundo Pentecostes”. Pedro opta pelos pobres e pela teologia que reflete a realidade deles, a Teologia da Libertação (TdL). Esta sua atitude fez com que nunca usasse uma mitra sobre sua cabeça, cajado e anel, símbolos da ostentação institucionalizada. Escolheu como cajado um remo feito pelos indígenas Tapirapé, um chapéu de palha ao estilo dos nordestinos daqui e o anel de tucum que não abandonava.

Traduziu em vida esta opção. Sua “residência episcopal”, seu jeito de vestir e falar, seus pensamentos, escritos e poesias falavam por si. Quem o visse não imaginava que estivesse diante de um bispo. E ele fazia questão que assim o fosse. Estava sempre em sintonia com a realidade sofrida do povo, pois, segundo ele, “oitenta por cento da pastoral são as visitas feitas de casa em casa”. Dia desses encontrei-me com uma senhora já idosa, e ela me confidenciou: “padre Chico, o bispo Pedro sempre me visitava aqui em minha casa. E olha que eu não sou da mesma igreja dele. Ficávamos conversando. Que saudades eu tenho dele!” Assim era o nosso pastor com cheiro das ovelhas. Como disse o nosso Papa Francisco: “homem misericordioso e compassivo, o padre caminha com o coração e o passo dos pobres…, torna-se rico com a sua convivência”

Hoje a liturgia dá uma parada na linha sequencial de Mateus, tomando emprestada uma perícope (recorte) da comunidade joanina. É bom que saibamos que João, diferentemente dos Evangelhos Sinóticos de Mateus, Marcos e Lucas, procura aprofundar e mostrar o conteúdo da catequese existente em sua comunidade. Seu evangelho visa antes de tudo a despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que as pessoas tenham a vida. Para João, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai às pessoas. Deus ama as pessoas com tamanha ternura e amorosidade que quer dar-lhes a vida. Jesus plenifica esse amor e realiza a vontade do Pai, dando sua vida em favor da humanidade.

“Aquele que me segue não caminha entre as trevas, mas terá a luz da vida”. (Jo 8,12) No texto de João escolhido para hoje, Jesus, na sua catequese com os seus discípulos, fala do grão de trigo que passa pela experiência da morte para dar-se em forma de outros frutos (vida). “perde-se” para encontrar-se. O discipulado sendo chamado a amar e servir até as últimas consequências. Jesus que dá a vida para salvar e reunir o povo, convida os seus a fazerem o mesmo: dar a vida como uma semente de vida e amor no serviço. Quem ama, serve! Quem muito ama, serve muito! Como nos diria o filósofo Platão: “Quem ama extremamente, deixa de viver em si e vive no que ama”, seja diante do poder, das riquezas, ou da vida sofrida dos pobres, como fez Pedro.