Sábado da Segunda Semana do Tempo Comum. Mais um final de semana chegou neste primeiro mês do ano. Devagar as coisas vão se ajeitando, preparando-nos para a rotina de atividades que teremos pela frente, ao longo deste ano. O clima ainda é atípico, pois grande parte das pessoas ainda está com a sua rotina de férias, usufruindo do descanso merecido, para que o corpo e a mente possam triunfar nos desafios que estão por vir. Nas férias alguns levam muito a serio uma das frases de Tim Maia: “O que eu quero? Sossego!” E fazem muito bem!

Por aqui, o verão prossegue aprontando das suas. Depois de um final de tarde turbulento, assustando a muitos, prenunciando um imenso dilúvio, sequer caiu uma gota d’água do céu. A garotada que costuma todos os anos pular de cima do cais sobre o Araguaia, e saindo belos e formosos nadando, estão frustrados. Não me lembro de ter passado por situação semelhante a esta que estamos vivendo. Estamos colhendo os frutos das imensas queimadas e do desmatamento em geral. Como me disse uma liderança Xavante dia desses: “Vocês Waradzu (brancos) se dizem inteligentes, mas estão matando tudo aquilo que traz a vida para vocês”.

A vida está em primeiro lugar! O espirito da criação é a prevalência da vida. Todos os seres vivos estão dentro desta dialética: vida sobre a morte. O sopro divino que recai sobre nós vem com a chancela de Deus, o autor de toda a criação. Ao nos dotar de vida, Ele nos possibilitou todos os mecanismos possíveis para que esta vida alcançasse a sua plenitude. A humanidade é o ponto alto da criação. Ela é chamada a dominar e a transformar o universo, participando e interagindo com a obra da criação. O grande mal da humanidade foi quando ela acreditou que está acima de todos os demais seres da Casa Comum, inclusive os humanos iguais a eles.

Rezei nesta manhã contemplando a vida de um grande santo da História da Igreja: São Sebastião. Nascido em Milão, na Itália, de acordo com Santo Ambrósio, por volta do século III. Filho de família cristã, quando ainda jovem, tomou a decisão de engajar-se nas fileiras romanas e chegou a ser considerado um dos oficiais prediletos do Imperador Diocleciano. Jamais negou a sua fé cristã, tanto que foi perseguido e morto por causa da sua fidelidade a ela. Diocleciano ordenou que os guardas o açoitassem até a morte. Este fato ocorreu no dia 20 de janeiro de 288. O Santo guerreiro.

Como somos um país miscigenado, constituído de vários povos, raças e conhecimentos ancestrais, São Sebastiao é um dos santos mais populares do Brasil. A predominância do povo negro, que chegou por aqui em grande número, a partir de 1538, tem em São Sebastião um de seus grandes defensores. Ainda na África, ele era cultuado como “Ode”, que significa caçador. Por aqui, na Umbanda, São Sebastião é Oxóssi um orixá masculino Iorubá responsável pela fundamental atividade da caça. Que São Sebastião nos ajude e nos defenda do terrível flagelo da peste e de todos os males deste mundo para que, servindo a Jesus Cristo, alcancemos a graça de participar da plenitude eterna. Amém.”

Como estamos no ano litúrgico B, seguimos refletindo o Evangelho de Marcos, que no dia de hoje nos traz apenas dois versículos (Mc 3,20-21). A cena narrada é aparentemente simples, mas de uma grande densidade significativa, com os parentes de Jesus procurando-o, afirmando que Ele estava “fora de si”. Evidente que na concepção deles, Jesus não estava como que “possuído por um demônio”. A expressão “possuído pelo demônio” era muito comum no tempo de Jesus e já foi por demais manipulada, nas hermenêuticas de hoje, tanto que alguns estudiosos contestam o uso desta expressão. Para eles, essa expressão talvez não seja a mais indicada para traduzir o termo original bíblico que fala sobre essa condição.

Jesus sempre esteve possuído pelo Espírito Santo. O Espírito Santo está presente nele, conduzindo-o à missão de libertar e desalienar as pessoas. Ele não se conforma com a situação de injustiça e desigualdade que vivia o povo pobre. É por este motivo que as pessoas acorriam a Ele, pois sabiam que ali estava quem os defendia, orientava e curava de seus males. Por isso que Jesus é acusado de estar “possuído por um espírito mau.” Para a sociedade e os religiosos daquela época, tal acusação é um pecado sem perdão. Jesus tinha que morrer! Por estar defendendo os indefesos, as autoridades buscam um jeito de matar Jesus, já que eles aproveitavam desta realidade de exploração, tirando proveito do mal que fazem; por isso, não reconhecem e não aceitam Jesus. “Felizes de vocês, os pobres, porque o Reino de Deus lhes pertence”. (Lc 6,20)