Sábado da Quarta Semana da Quaresma. Mais um final de semana aproximando, nos enviando para a segunda quinzena do mês de março. Este é o 76º dia, somado a 290 outros mais, e estaremos às portas de 2025. 32º de nosso retiro quaresmal que, como o povo hebreu, estamos saindo do deserto. A diferença nossa para eles, é que lá, foram 40 anos, deserto adentro. Segundo alguns estudiosos, esta foi uma das estratégias de Moisés, para que morresse uma geração, que não se adaptaria à vida em liberdade. Assim, o líder hebreu, sacrificou o seu sonho de chegar à Terra Prometida, já que morrera no deserto.

No tempo quaresmal, somos convidados a fazer uma experiência mais aprofundada de deserto. Procurar o deserto para entrarmos em sintonia com Deus e conosco mesmo. Como disse o Papa Francisco: “o deserto é também o lugar do essencial”. Mais que um lugar geográfico, é também um lugar teológico. Lugar para encontrar com Deus. Na Bíblia há relatos de importantes experiências espirituais feitas a partir do deserto. A crueza geográfica e a sede real dos que atravessam regiões desérticas e secas, encontra seu correspondente na sede que todos nós humanos temos de vida em situações de injustiça, opressão e desafios. Encontrar Deus e nós mesmos.

Na compreensão bíblica, encontramos a palavra “midbar”, traduzida como deserto. Já a palavra hebraica “dabar” significa falar. Midbar é na verdade “o lugar da palavra”, o lugar onde a palavra de Deus, foi comunicada a Israel. Assim, na Bíblia, o deserto simboliza a hostilidade, ocasião em que Deus põe a prova o seu povo, no intuito de mobiliza-lo para os dias que virão à frente. “Não endureçam seus corações como aconteceu em Meriba, como no dia de Massa, no deserto, quando seus antepassados me provocaram e tentaram, mesmo vendo as minhas obras”. (Sl 95,8-9) Isto nos serve para recordar que a nossa vida esta totalmente nas mãos de Deus. O deserto é o lugar de sentir esta presença protetora de Deus sobre todos e cada um de nós.

Quaresma é tempo para entrar no deserto teológico, o encontro pessoal com Deus, conosco, e com o irmão que caminha ao lado. Já como lugar geográfico, somos hoje desafiados a pensar na vida do planeta, já que na data de 16 de Março, comemoramos o “Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas”. Altas temperaturas, secas e espécies em extinção, são alguns efeitos danosos das mudanças climáticas no mundo inteiro. Os efeitos das mudanças climáticas podem ser sentidos diariamente com o aumento das secas, alagamentos, aumento do nível do mar, apontando para um desequilíbrio ambiental de consequências imprevisíveis para toda a humanidade. Pensar um ambiente saudável, é responsabilidade de todos nós, se quisermos viver dias melhores.

Dias melhores não foram os de Jesus, estando ele em Jerusalém, por ocasião da “Festa das Tendas”, conforme nos relata o evangelista João, no texto da liturgia deste sábado. Havia entre o povo e as autoridades religiosas, várias divergências acerca da origem de Jesus: “Este é, verdadeiramente, o Profeta. Outros diziam: Ele é o Messias. Mas alguns objetavam: Porventura o Messias virá da Galileia?”(Jo 7,40-41). Quem era Jesus, mesmo? De onde Ele vinha? Qual a sua procedência? Perguntas que circulavam entre todos, pois todos sabiam da sua origem geográfica: pobre da periferia de Nazaré, filho de um carpinteiro, com uma mulher simples do meio do povo. Família pobre de trabalhadores da periferia. Jesus tinha consciência de si e de sua origem divina messiânica, para desespero dos líderes religiosos que não admitiam tal procedência d’Ele.

Quem és tu? Jesus é o Filho enviado do Pai. Mas aqueles que estão bem de vida, satisfeitos com a situação estrutural, jamais vão aderir a Jesus porque não desejam mudanças nos seus modos de viverem. Apenas os que estão abertos à novidade de Deus no mundo, conseguem acreditar e dar sua adesão a Jesus. As autoridades querem mata-lo, pois a sua atividade entre eles, colocava em cheque aquele tipo de organização da sociedade. Os que detêm o poder não suportam mensagem de Jesus, porque ela acabaria com todos os seus privilégios. Por este motivo, os líderes religiosos, além de amaldiçoarem o povo simples, procuram um jeito para prender Jesus, usando a Lei como arma repressiva a seu favor. Jesus ensina que, mais importante que os mais de 600 mandamentos individuais na Lei do Antigo Testamento, devemos nos concentrar em amar a Deus sobre todas as coisas e amar aos irmãos como a nós mesmos, resumindo assim toda a Lei e os profetas. Afinal Ele é a nova Lei, vinda diretamente de Deus. E para você, quem é Jesus mesmo?