Sexta feira da Trigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Sextou com o segundo final de semana de novembro apontando na esquina de mossa história. A primavera com cara de verão segue ditando o nosso ritmo. Não fossem a folhagem nova e o colorido que insiste em florir, diríamos que a primavera não vingou: calor demais e pouca chuva, fazendo diminuir sensivelmente as águas do Araguaia. É a nossa Amazônia passando pelas drásticas mudanças climáticas.

“Há uma primavera em cada vida: é preciso cantá-la assim florida, pois se Deus nos deu voz, foi para cantar!” Assim, a poetisa portuguesa Florbela Espanca (1894-1930) definia a sua visão poética sobre a vida. Somos flores e frutos no jardim da vida que Deus nos deu. Viver cada dia sob esta perspectiva é saber que somos parte de um todo, e cada parte é importante nesta orquestra da vida. A diversidade se faz colorida nas nossas expressões no conjunto da obra que é de Deus. A diversidade nos faz sonhar com um mundo mais justo e igual para todos e todas.

Alguém muito importante no meio de nós soube ser esta peça na partitura libertadora do nosso existir. Muitos o conheceram pelos seus escritos desconcertantes, mas ter trabalhado lado a lado com ele, é um privilégio que vou carregar por toda minha vida. O bispo Pedro era o nosso diferencial e ia à frente, sendo ele mesmo, a Igreja que acreditava e que queria ser, em sintonia com o projeto de Jesus, como ele assim definiu o seu pastoreio: “Tua mitra será um chapéu de palha sertanejo; o sol e o luar; a chuva e o sereno; o olhar dos pobres com quem caminhas e o olhar gloriosos de Cristo, o Senhor. Teu báculo será a verdade do Evangelho e a confiança do teu povo em ti. Teu anel será a fidelidade à Nova Aliança do Deus Libertador e ao povo desta terra. Não terás outro escudo senão a força da Esperança e a Liberdade dos filhos de Deus, nem usarás outra luva que o serviço do Amor”.

Místico, poeta, profeta e pastor dos pobres. Fidelidade a toda prova, como nos pede o texto do Evangelho que meditamos hoje: “Quem é fiel nas pequenas coisas, também é fiel nas grandes; e quem é injusto nas pequenas, também é injusto nas grandes”. (Lc 16,10) Aliás, este versículo acima citado, é a sequência do texto do Evangelho de hoje que vai apenas até o versículo oitavo. Sem esta parte, corremos o risco de achar que Jesus estava elogiando a malandragem do administrador desonesto, com sua astúcia diante de uma situação embaraçosa para si. A fidelidade vista como valor absoluto, que determina toda a nossa forma de ser e viver. Aos que fazem a sua meditação orante da Bíblia, recomendo a leitura até o versículo 13. (Lc 16,1-13)

A fidelidade é parte inerente do ser cristão. É impossível ser fiel nas grandes coisas, quando somos irresponsáveis e negligentes nas pequenas. Fidelidade como proposta de vida. Fidelidade como coerência de uma vida de fé que busca seguir Jesus, pelas estradas da vida. Fidelidade com prudência. Fidelidade como um valor intrínseco ao nosso ser humano. Como diria o filosofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), “só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos”. Jesus elogia o administrador não pela sua astúcia, mas pela sua atitude prudente, na fidelidade às suas convicções.

Jesus foi categórico ao afirmar que: “O Reino de Deus não vem ostensivamente. Nem se poderá dizer: Está aqui ou: está ali, porque o Reino de Deus está no meio de vocês”. (Lc 17,20-21) É inútil procurar sinais misteriosos da vinda do Reino. Ele já está presente em qualquer lugar onde a ação de Jesus é continuada por cada um de nós. O Reino de Deus está no meio de nós! Já e ainda não! Já, enquanto dádiva de Deus, doação total de Jesus a nós. Não quando, com o nosso ser e agir, assumimos atitudes “anti-Reino”. A cada dia, somos desafiados a assumir um processo de conversão, para vivermos conforme a mensagem de Jesus que nos recomenda que façamos o uso da riqueza em favor dos mais pobres, oprimidos e marginalizados. Assim sendo, somos chamados a escolher entre o serviço a Deus e o serviço às riquezas.