Quarta feira da Trigésima Quarta Semana do Tempo comum. Novembro vai dando o seu adeus. Já podemos sentir que dezembro está logo ali. A nossa caminhada prossegue num ritmo alucinante dos tempos modernos, de inteligência artificial. Estar conectado às redes é a sintonia que estabelecemos com o mundo. Tudo vem por ela, coisas boas e ruins também. Cabe a cada um de nós filtrarmos, para que possamos aproveitar o melhor que elas podem nos dar. Tudo é informação, mas bem pouco é formação. Sem este cuidado essencial, correremos o risco de sermos pegos naquilo que foi dito pelo sociólogo e filósofo polonês Zygmunt Bauman (1925-2017): “As redes sociais são uma armadilha”.

A noite bem dormida me fez descer da cama cedo. O dia nem ainda apontava no horizonte e ali estava eu, rezando diante do túmulo do pastor. Enquanto rezava, pedindo a sua interseção junto a Deus por todos nós, também pedi pela nossa Igreja da caminhada. Igreja que ele soube conduzir como fiel seguidor de Jesus, mas que hoje, alguns setores dela, estão bem distantes da proposta de Jesus. Que saudades que nos dá dos bispos que caminhavam junto do povo pobre e sofrido. Vivi um tempo histórico privilegiado, por ter tido dom Hélder Câmara, dom Tomás Balduíno, dom José Maria Pires e o nosso Pedro de todas as horas. Igreja pobre, com os pobres e para os pobres, contra a pobreza. Conclui a minha oração me lembrando de uma das frases ditas por ele “Só vivendo a noite escura dos pobres, é possível viver o Dia de Deus. As estrelas só se veem de noite”. (P. Casaldáliga)

Uma manhã que nos deixa tristes, com as noticias que vem de Roma. A pedido dos médicos, a viagem do Papa a Dubai foi cancelada. Desde sábado (25), Francisco, apresenta um quadro gripal e uma inflamação do sistema respiratório. Mesmo estando com a saúde debilitada, não impede que este homem de Deus se preocupe com o massacre do Estado de Israel, sobre o povo palestino: “Cada criança palestina que morre, sem ter nada a ver com o ataque do Hamas (e já são vários milhares), é como uma lágrima que cai dos olhos de Deus através do choro das suas mães”. Sensibilidade do pastor que está sintonizado com os que sofrem, e sendo perseguido por causa das suas opções.

Ainda bem que a liturgia desta quarta feira vem nos acalentar, apesar do clima amedrontador que pode parecer para alguns. Jesus está ensinado no Templo de Jerusalém, descrevendo o fim dos tempos. É o discurso escatológico que o evangelista Lucas narra pela fala de Jesus. Na realidade, Jesus não quer amedrontar nenhum dos seus, mas também não os engana, dizendo que, segui-lo de forma radical, é estar pronto e preparado para as inevitáveis perseguições. “Todos vos odiarão por causa do meu nome”. (Lc 21,17) O nome de Jesus é forte e quem se coloca na mesma estrada com Ele, de forma coerente, sabe que vai ser perseguido e até morto.

“Em um país de injustiças, se a Igreja não é perseguida, é porque é conivente com a injustiça”, dizia a seu tempo santo Óscar Romero (1917-1980), bispo de São Salvador, em El Salvador. Foi duramente perseguido e assassinado, por se aliar ao Projeto do Reino anunciado por Jesus. Muitos outros ainda, mártires da caminhada, pagaram com a vida pelas causas do Reino. A Igreja da Caminhada possui muitos mártires anônimos, homens e mulheres que levam adiante, em sua missão pelo testemunho, o sonho de Deus, acreditando naquilo que foi dito por Jesus: “Vós não perdereis um só fio de cabelo da vossa cabeça”. (Lc 21,18) Com tantas igrejas (templos) espalhadas por este Brasil afora, pouco vemos de profetismo, de anúncio e denúncia das injustiças. Padres e bispos fazem verdadeiros malabarismos e conseguem desviar do foco principal de uma Igreja da Caminhada, perseguida pela sua sintonia à Testemunha Fiel: Jesus.

No trecho que refletimos hoje, Jesus quer nos dizer que a relação entre Deus e as pessoas continua através dos discípulos e discípulas, que devem prosseguir a mesma missão d’Ele pelo testemunho fiel. Da mesma forma que Jesus encontrou resistência, também eles e elas: serão perseguidos, presos, torturados, julgados e até mesmo mortos por continuarem a ação de Jesus de Nazaré. Contudo, não devemos ficar preocupados com a própria defesa. O importante é a coragem de permanecer firmes até o fim, como nos foi dito pelo Livro do Apocalipse: “Permanece fiel até a morte, e a coroa da vida eu te darei!” (Ap 2,10) Jesus é o vencedor da morte. Quem com Ele caminha também é vencedor, pois tem consigo a presença d’Ele. Ser perseguido por causa do Reino e a sua justiça é o nosso bem maior.