Terça feira da Segunda Semana da Quaresma. A oração, o jejum e a solidariedade (caridade) seguem como a espinha dorsal deste período litúrgico, sem nos esquecermos da Amizade Social, que a Campanha da Fraternidade nos convoca. Você é meu irmão, minha irmã: somos todos irmãos e irmãs e fazemos parte da Grande Família de Nazaré. Quarenta dias de caminhada deserto afora, de uma conversão necessária.

Só chegaremos à Páscoa definitiva, passando pela experiência da cruz do caminho do calvário. Não a cruz do castigo aos malfeitores, mas a cruz redentora de quem dá-se por inteiro e por amor. Cada passo andado, cada dia vivido, devem nos identificar como seguidores e seguidoras de Jesus. Nossa esperança é Ele. Assim, devemos estar alegres, contentes e confiantes, porque sabemos em quem depositar o nosso esperançar.

Foi com este espírito que, humildemente, rezei nesta madrugada, enquanto aguardava o valente ônibus que trafega pelos 190 quilômetros de estrada de chão. Chacoalhar é preciso para chegar à São Félix. Numa das vezes em que nosso Pedro dormia sossegadamente dentro do ônibus, alguém lhe perguntou como conseguia? “Talvez por causa da consciência tranquila”, foi a sua desconcertante resposta. Pedro e suas tiradas!

Na leitura orante que busquei fazer do texto bíblico desta terça, dei de cara com Mateus, relatando mais um dos ensinamentos de Jesus. Falando às multidões e também aos seus discípulos, o Mestre os orientam a não ter a mesma conduta dos fariseus e mestres da Lei. Aqueles, viviam uma religião de aparência, no intuito de serem vistos pelos homens.

Religião não salva ninguém. Refugiar-nos nos templos, numa atitude de fuga alucinada da realidade é a comprovação de uma fé alienada e descomprometida. O que salva é uma prática de fé consciente, fundamentada nas atividades messiânicas de Jesus. Fé que tem como perspectiva a construção do Reino no aqui e agora de nossa história. É por este motivo que Jesus insiste tanto na busca pela justiça do Reino.

Fujam e se afastem dos fariseus. Não sejam seus imitadores, aconselha Jesus. Vejam o que eles fazem, mas não se espelhem neles para viver a fé. Estas lideranças religiosas eram os piores exemplos de quem quer seguir os passos de Jesus. Era assim, no tempo d’Ele, e é assim também hoje. Há muitos fariseus que se escondem atrás de uma pretensa religiosidade, “afastando-se das “coisas do mundo”.

A experiência de fé profunda passa pela misericórdia, pela compaixão, pelo perdão, ambos orientados por um amor incondicional às causas dos pequenos. Coisas que os fariseus e mestres da Lei não entendiam, já que manipulavam a religião para salvaguardar os seus próprios interesses, mantendo assim uma sociedade estruturada na exploração dos pequenos. Há muitos fariseus hoje dentro das religiões, que mantém a mesma conduta daqueles de outrora. Pelo visto, não entenderam nada do recado dado por Jesus. Religião não combina com farisaísmo. “Pois eles falam e não praticam”. (Mt 23,3) Religião combina com amor. Amor incondicional, até às últimas consequências.