Terça feira da Sexta Semana do Tempo comum. “Terça feira gorda”, ou seja, o dia que antecede a Quaresma. Palavra utilizada para designar o período de 40 dias, no qual, nós católicos, realizamos a preparação para a Páscoa, a mais importante festa do calendário litúrgico cristão. Todos os preparativos estarão voltados para a celebração da Páscoa, a Ressurreição de Jesus, a base principal da fé cristã. A vitória da vida sobre a morte! A Quaresma começa na “Quarta-feira de Cinzas” e termina na Quarta-feira da Semana Santa. Somos todos e todas convidados/as a passar por um processo de conversão, onde balizaremos as nossas vidas e a nossa prática de fé, com as mensagens contidas nos Evangelhos. Evangelizados para evangelizar!

Todos os anos, desde 1964, a Igreja no Brasil mobiliza as comunidades a viverem, no período da Quaresma, a Campanha da Fraternidade. Esta campanha teve início em 1961, quando três padres que trabalhavam na Cáritas Brasileira, um dos organismos da CNBB, planejaram uma campanha para arrecadar recursos a fim de financiar as atividades assistenciais da instituição, dando o nome de “Campanha da Fraternidade”. Todavia, na Quaresma de 1962, foi realizada pela primeira vez a Campanha da Fraternidade na cidade de Natal, no Rio Grande do Norte. Dois anos depois, (1964) esta campanha foi assumida como uma ação da Igreja no Brasil, como gesto concreto no período da Quaresma.

A Campanha da Fraternidade nasceu também embasada à luz do Concílio Vaticano II (1962-1965). 60 anos se passaram de bom êxito desta campanha, embora que alguns setores ultraconservadores da Igreja, veem nesta campanha uma manipulação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), naquilo que eles chamam de “esquerdistas da Teologia da Libertação”. Fato é que a Campanha da Fraternidade teve ao longo da história, uma aceitação massiva da Igreja, por enfocar temáticas atuais que requerem um posicionamento mais claro daqueles que professam a fé cristã. A Igreja no Brasil viu na Campanha da Fraternidade, uma forma de trazer para dentro de nossa realidade eclesial os propósitos do Concílio.

A primeira Campanha da Fraternidade foi em 1964 e trouxe como tema: “Igreja em renovação”, e o lema: “Lembre-se: você também é Igreja”. Ali, a Campanha da Fraternidade ganhou caráter nacional, com carta enviada por Dom Hélder Câmara, (Secretário-Geral) a todos os bispos, comunicando que a CF de 1964 seria em âmbito nacional. No ano de 1965 a “Cáritas” (Confederação de organizações humanitárias da Igreja Católica) e a Campanha da Fraternidade passaram a estar vinculados diretamente ao Secretariado Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Desde então, a CF passou a ser coordenada pela entidade dos bispos do Brasil.

“Fraternidade e Amizade social”, este é o tema da Campanha da Fraternidade de 2024. O lema é “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). A partir de amanhã, estaremos refletindo mais uma campanha, cujo objetivo maior é contribuir para nos despertar sobre o valor e a beleza da Fraternidade humana, promovendo e fortalecendo a experiência da “Amizade Social”. Somos desafiados a superar a cultura da indiferença, do preconceito, do ódio e da omissão, para com as outras pessoas, que nos torna como que portadores do mal da cegueira, da insensibilidade, nos proporcionando atitudes nada compassivas e nem de misericórdia, mas de descaso diante das necessidades alheias.

Brinquemos o carnaval, façamos com alegria e descontração, mas na quarta feira, olhemos para Jesus e miremos no seu jeito compassivo e misericordioso de nos mostrar o rosto maternal de nosso Deus que muito nos ama de paixão. O Deus da misericórdia e da amorosidade está com Ele e se faz presente no meio de nós na pessoa de seu Filho muito amado. Ele que no texto da liturgia de hoje está chamando a atenção de seus discípulos. Os fariseus, eternos adversários (inimigos) de Jesus, não o conheciam, mas também os seguidores de Jesus dão mostras de não conhecê-lo, na sua essência: “Ainda não entendeis e nem compreendeis? Vós tendes o coração endurecido? (Mc 8,17)

A cegueira deles também fazia com que o seu coração se fechasse e não acolhesse a proposta do Reino, que é vida para todos: pão para quem está com fome; terra para quem dela precisa para plantar; trabalho para se sustentar; casa para morar. O sistema estrutural de morte, defendido pelas autoridades do tempo de Jesus, e também das de hoje, não pensa nos pequenos, mas no acúmulo das riquezas, bens e propriedades. Jesus dá uma dura nos seus discípulos para não ficarem presos a um sistema que visa a acumular coisas para ter segurança (fermento dos fariseus e de Herodes). A fraternidade é a partilha! É preciso confiar na partilha: tudo o que se reparte, torna-se até mais do que suficiente e saciam a todos, todos, todos! Será que o nosso coração também está endurecido, como o dos discípulos de Jesus naquele contexto?