Trigésima Primeira Semana do Tempo Comum. O ano civil caminha para o seu ocaso, acumulando mais uma etapa de experiências em nossas vidas. Três domingos nos separam do Domingo do Advento, iniciando assim o novo ciclo de outro ano litúrgico: ano B. A Igreja estabelece esta divisão com o objetivo de nos possibilitar que durante o ano inteiro celebremos na liturgia a vida de Jesus de Nazaré, desde a sua em Encarnação no seio de Maria, passando pelo seu Nascimento, Paixão, Morte, Ressurreição, até a sua feliz Ascensão e a vinda do Divino Espírito Santo. Um ciclo em que somos chamados a refletir, trazendo para dentro da realidade de nossas vidas, para que assim possamos reavivar a nossa fé com esperança, apesar de todas as vicissitudes.

Domingo da Solenidade de Todos os Santos e Santas. Apesar de já termos passado por este dia, no início deste mês, a Igreja traz para dentro do primeiro domingo de novembro esta Solenidade. Santos e Santas são aquelas pessoas, homens e mulheres que, com todas as suas limitações e fraquezas (pecados), deixaram-se atrair por caminhar com Jesus, assumindo a sua proposta e aceitando percorrer o caminho das Bem-aventuranças. É assim desde os primórdios do cristianismo, sendo que grande parte deles e delas, passaram pela experiência dolorosa do martírio, testemunhando a sua fé. Como nos dizia nosso bispo Pedro, “a maior graça é o martírio”.

O dia 5 de novembro é também um dia especial para os amantes da língua bem falada e escrita. Hoje é comemorado o Dia Nacional da Língua Portuguesa. Mesmo que o Dia Mundial da Língua Portuguesa seja comemorado no dia 5 de maio, para nós o dia de hoje é uma oportunidade para ressaltar a língua falada em todo o território nacional, configurando assim a identidade sociocultural dos brasileiros. Isso, graças aos Profissionais das Letras e aos Pedagogos/as, que são aquelas pessoas que mais diretamente nos ajudam nos estudos linguísticos e gramaticais, possibilitando-nos fazer da língua um instrumento fundamental para interação social e socialização de saberes. O Brasil está entre aqueles países que falam português, como Angola, Cabo-Verde, Guiné-Bissau, Guiné-Equatorial, Moçambique, Portugal, Timor-Leste e São Tomé e Príncipe. Viva a nossa língua!

Viva também o “Sermão da Montanha!” No dia de hoje, a liturgia nos faz refletir sobre o início deste grande projeto. São três capítulos (5 a 7), em que o evangelista Mateus nos apresenta os ensinamentos de Jesus aos seus primeiros seguidores e também a nós, como um projeto para toda a vida. De acordo com Mateus, Jesus pregou no “Sermão da Montanha” as “Bem Aventuranças” (5,1-12) que, de acordo com o Evangelho de Lucas, (6, 20-49), Jesus pregou no “Sermão da Planície”, para ensinar e revelar às pessoas a verdadeira felicidade. Nelas está contida uma síntese de todo o Projeto Messiânico de Jesus na sua revelação maior como Verbo Encarnado. Como bem resumiu o Papa Francisco: “As Bem-aventuranças são um mapa de vida que nos convidam a manter puro o coração, a praticar a mansidão e a justiça, a ser misericordiosos com todos, a viver a aflição unidos a Deus”.

As “Bem-Aventuras” é um dos textos mais conhecidos de todo o Novo Testamento e que desperta a admiração não somente das pessoas que professam a fé cristã. Mahatma Gandhi, líder e ativista indiano, conhecido por sua filosofia de não-violência e luta pelos direitos civis e sociais, via as “Bem-Aventuranças” como uma fonte de inspiração e orientação e uma fonte valiosa de princípios éticos e espirituais que poderiam guiar as ações individuais e coletivas em direção à justiça, paz e transformação social. Olhando para as “Bem-Aventuranças” dizemos não a “religião do medo”, do “castigo” e apontamos para o Deus da misericórdia, que propõe a transformação social de todas as realidades, onde imperam as injustas.

Mas nem sempre tem sido assim a observância deste belíssimo texto. Algumas lideranças religiosas mais conservadoras, legalistas e com o pensamento burguês, quando não ignoram esta passagem bíblica, fazem uma hermenêutica capenga, completamente adversa à proposta originária de Jesus, mostrando apenas um “Jesus piedoso”, mais próximo das suas conveniências e de seus status sociais elitistas. Fato é que as “Bem-Aventuranças” é um resumo conciso do ensinamento de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz na história. Texto extremamente revolucionário, que nos convida à felicidade, porque proclama a libertação, e não o conformismo ou a alienação. Elas anunciam a vinda do Reino através da Palavra e ação de Jesus. As “Bem Aventuranças” tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis, descartados, invisibilizados, ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na ganância, na riqueza que explora e no poder que oprime. Os destinatários primeiros desta proposta são os pobres, que são aqueles que vivem sufocados no seu anseio pelos valores que a sociedade injusta rejeita. “Vinde a mim todos vocês que estão cansados de carregar o peso do seu fardo, e eu lhes darei descanso”. (Mt 11,28)