Sexta feira da Décima Oitava Semana do Tempo Comum. Em tempos de Solstício de Inverno, dando as suas coordenadas, o calor e a baixa humidade vão predominando por aqui. Segundo os pesquisadores, nesta época do ano, as noites são mais longas e os dias mais curtos, recebendo menos radiação solar. Se bem que o Astro Rei, por aqui reina absoluto desde o seu acordar, com cada um tendo a oportunidade de ter mais de um sol pessoa. O bom mesmo são as praias que o Araguaia nos oferta a cada ano, e os lagos, para onde deslocam boa parte das famílias. Assim, os finais de semana são esvaziados aqui na cidade de São Félix.

No dia de ontem, a Igreja da Caminhada celebrou mais um de seus mártires: Tito de Alencar Lima (1945-1974). Cearense de Fortaleza foi encontrado enforcado no dia 10 de agosto de 1974, na França, onde estava exilado, tentando escapar interiormente de torturador, Sérgio Paranhos Fleury. Tito era um dos religiosos dominicanos presos pela ditadura militar, sob a acusação de apoiar as ações de resistência contra a ditadura. Foi barbaramente torturado nas dependências do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), em São Paulo. Seu torturador conseguiu implantar em Tito a sua figura algoz, destruindo o interior deste religioso que não conseguiu desvencilhar-se, vindo a cometer o suicido.

O calvário de Tito passou pela cruz também de Jesus: prisão, tortura e suicídio. Muitos corpos foram perseguidos, torturados e mortos durante este terrível regime. Custo a acreditar que alguns que se dizem cristãos, reivindiquem o retorno da ditadura militar no Brasil. Nunca pensei que fosse viver para ver tamanha e estupida barbárie. Seguir a Jesus e defender o regime militar e a pena de morte, significa não ter entendido nada sobre Jesus de Nazaré, um prisioneiro político, torturado e morto pelas forças opressivas de dois poderes: o Império Romano (sinédrio) e as lideranças religiosas de Jerusalém (escribas, fariseus, doutores da Lei, anciãos do povo). Frei Tito se transformou no símbolo da luta por uma sociedade mais justa, fraterna, solidária e de igualdade social.

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça do Senhor, porque o reino dos céus há de ser deles!” (Mt 5,10) Esta é uma das falas de Jesus captada por Mateus, que serve de paradigma para todo aquele e aquela que quer fazer o seguimento do itinerário de Jesus. Assumir as suas causas e por elas dar a vida. Vidas pela vida! Vidas pelo Reino! “As minhas causas valem mais que a minha vida!” Este foi o lema da vida de nosso bispo Pedro. Sempre esteve disposto a dar a sua vida pelos outros: pobres, posseiros, indígenas, ribeirinhos, gente pobre do “Vale dos Esquecidos”. Seguiu a risca o propósito de Jesus: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. Pois quem quiser salvar a sua vida vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (M16,24-25)

A cruz do martírio está no horizonte do seguidor de Jesus. O calvário está itinerário daqueles e daquelas que abraçam as mesmas causas de Jesus, já que o seu programa de vida seguiu fielmente e na radicalidade a profecia de Isaías: “O Espírito do Senhor está sobre mim, porque Ele me ungiu. Me enviou para dar a boa notícia aos pobres, para curar os corações feridos, para proclamar a libertação dos escravos e pôr em liberdade os prisioneiros”. (Is 61,1) Os destinatários são os pobres, porque eles estão mais abertos à fraternidade e à partilha. Tomar a cruz de cada dia é assumir o compromisso com a justiça do Reino, lutando por um mundo mais justo, fraterno e igual para todos e todas. Como diria o poeta e escritor Augusto Branco: “Um pequeno gesto de fraternidade e amor vale muito mais que uma grande ação de ódio e destruição”.

Seguir a Jesus, assumindo a cruz de cada dia é trabalhar pela justiça social no que diz respeito a uma prática de mútuo reconhecimento no interior da comunidade, suprimindo toda forma de regalias e privilégios, objetivando uma igualdade de direitos. Segundo a Doutrina Social da Igreja (DSI), a pessoa humana é um ser concreto constituída de direitos. A ela são devidos todos os bens necessários para sua realização nas dimensões concretas da vida, seja individual, racional, cultural e coletiva. A igualdade básica de cada pessoa humana é a igualdade nesta dignidade como conceito fundador da experiência e dignidade de filho e filha de Deus. Como conclui o comentário da Bíblia Edição Pastoral: “A morte de cruz era reservada a criminosos e subversivos. Quem quer seguir a Jesus esteja disposto a se tornar marginalizado por uma sociedade injusta (perder a vida) e mais, a sofrer o mesmo destino de Jesus: morrer como subversivo (tomar a cruz)”.