Sexta feira da Primeira Semana da Quaresma. Uma quaresma, em que a amizade, quer falar mais alto dentro de cada um de nós, conclamando-nos a pensá-la socialmente. Uma amizade pensada sob a lógica do Reino, como sinal de justiça, que anseia pela fraternidade de irmãos e irmãs que todos somos: “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8). Irmãos pra toda a vida.

“Somos gente nova vivendo a união. Somos povo semente de uma nova nação”. Este foi o refrão de uma das canções de nossas comunidades que veio a minha mente, assim que tomei contato pelo celular, com o texto do Evangelho de hoje (Mt 5,20-26). Estava ainda dentro do ônibus, rezando e tentando rabiscar na manhã de hoje, chegando à cidade de Barra do Garças. Não tive êxito na empreitada, uma vez que o meu companheiro de poltrona roncava absurdamente alto.

Desisti da ideia sem muito esforço e, sem delongas, me convenci de que os rabiscos ficariam para mais tarde. Rezei “male má”, como dizem aqui na Prelazia, os mais vividos. Sem esquecer, claro, das pessoas especiais, por quem sempre rezo a cada manhã. Tentando fazer a minha parte, no compromisso com a Campanha da Fraternidade: “Fraternidade e Amizade Social”. É feliz quem tem um/a amigo/a para compartilhar seus sonhos e angústias; mesmo na distância, estão sempre ligados na mesma sintonia. Eu que o diga!

Justiça seja feita! Justiça maior do Reino. Justiça superior a dos mestres da Lei e dos fariseus, como quer Jesus no texto de hoje. Voltamos ao capítulo 5 do Evangelho de Mateus. Sempre é bom sabermos que, do capítulo 5 ao 7, este evangelista traz para nós o “Sermão da Montanha”. Ali está um resumo dos ensinamentos de Jesus a respeito do Reino e da transformação que esse Reino produz na vida das pessoas que abraçam as mesmas causas d’Ele.

A montanha é um lugar teológico da Teofania, ou seja, da manifestação de Deus. Foi assim, no Antigo Testamento com Moisés, comandando os desígnios de Deus. É assim também no Novo Testamento, com Jesus proclamando sobre a montanha a vontade de Deus que leva à libertação das pessoas, através da prática da justiça do Reino.

Cumprir a Lei, não é praticar a justiça pura e simplesmente. A justiça do Reino está intimamente ligada à prática do amor, da misericórdia, da compaixão, embasados pelos gestos concretos de solidariedade: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus”. (Mt 5,20) A pertença ao Reino passa pela prática da justiça.

Justiça maior do Reino, não como cumprimento de leis. Aliás, a lei não pode e não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça. A justiça precisa estar implícita na lei. Neste sentido, achei por demais interessante e oportuno, o comentário de rodapé da Bíblia Edição Pastoral da Paulus: “Cumprir a lei fielmente não significa subdividí-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante; significa, isto sim, buscar nela inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que o homem tenha vida e relações mais fraternas.” O nosso critério de justiça é superior ou igual a dos fariseus?
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