Quarta feira da Oitava da Páscoa. Se na quaresma estávamos nos preparando para a Páscoa do Cristo Ressuscitado, agora estamos a caminho de Pentecostes. Assim chamado por tratar dos cinquenta dias que vai do Domingo da Ressurreição até a vinda do Espírito Santo sobre a comunidade dos discípulos reunida, marcando um momento especial de renovação do poder transformador do Espírito Santo, manifestando o poder divino de Jesus ressuscitado no meio da comunidade. Lembrando que o Dia de Pentecostes é a festa de grande importância na história da igreja, que remonta aos primeiros tempos do cristianismo e tem raízes também na tradição judaica.

Estamos dando os passos do quarto dia dos oito que teremos que percorrer para perfazer a Oitava da Páscoa. O clima não pode ser de tristeza nem de decepção, mas de alegria e esperança, uma vez que a Páscoa é o centro da vida cristã. Reunimo-nos em comunidade para celebrar a Ressureição de Jesus de Nazaré, seu triunfo sobre a morte. Na Páscoa é o Cristo vivo que vem nos dar novamente a possibilidade de acesso à graça e à vida divina, uma vez que o Cristo ressuscitado dos mortos é o fundamento da nossa fé. O mistério da ressurreição é maior do que podemos compreender na sua amplitude, mas pela fé, podemos fazer este caminho de aproximação com o Deus da vida que está em Jesus ressuscitado.

A experiência autêntica e coerente de fé é realizada num caminho, em que vamos ao encontro de Jesus, aprendendo com Ele, para sermos um com Ele. Foi assim no tempo dos seus primeiros chamados, e é assim também com todos aqueles e aquelas que fazem a sua adesão ao Projeto do Reino. A fé não é um estado de espírito, mas uma caminhada que começa desde quando recebemos de Deus o dom da vida. Alguns de nós aprofundamos esta experiência, conhecendo mais de perto este Jesus, fazendo assim o seguimento radical com Ele. Outros ficam na superficialidade e contentam-se apenas com uma fé devocional sacramental de final de semana. Estar com Jesus, e fazer parte de seu grupo, exige muito mais do que uma simples concepção de fé que se perde no cumprimento de preceitos, dogmas e rituais religiosos, regados a muita “fumaça” e falatórios desconexos e sem sentido.

Hoje temos a oportunidade de compreender um pouco mais da nossa caminhada de fé com o texto proposto pela liturgia. O Evangelho de Lucas nos traz a experiência dos discípulos de Emaús, caminhando com Jesus Ressuscitado. Ainda abalados pela morte de seu Senhor e Mestre, dois discípulos estão se afastando do centro (Jerusalém), onde haviam ocorridos todos os horrores, com a morte de Jesus. O clima era de decepção, medo, tristeza e fracasso, afinal, aquele a quem eles depositavam a maior esperança, havia sido pendurado numa cruz como um malfeitor subversivo. Uma das primeiras aparições de Jesus após a ressurreição, no primeiro dia da semana, logo após a sua crucificação e à descoberta do túmulo vazio.

Apesar do texto se referir a “dois” dos discípulos de Jesus, tudo indica que se tratava de um casal de discípulos: Cléofas e Maria de Cléofas, aquela mesma mulher, que estivera junto com as outras mulheres aos pés da cruz de Jesus. O texto em questão não nomina esta mulher, seguindo a cultura e a tradição judaica da época, em que as mulheres eram consideradas como seres inferiores, inclusive para os discípulos de Jesus. Na trajetória desenvolvida pelo casal, acontece um grande encontro teológico, cheio de nuanças que, às vezes, passam despercebidas por grande parte dos leitores do texto.

O primeiro aspecto a ser destacado é o de que Jesus aproxima-se daquele casal desesperançado. Aproximando-se, coloca-se ao lado deles com eles, numa atitude de intimidade de quem os conhece e faz questão de estar ali. Estando ali com eles, os ouvem atentamente. Somente depois destas atitudes aproximativas de Jesus é que Ele dá-se a conhecer na condição de Ressuscitado. Primeiro recordando-lhes a Palavra das Escrituras e depois com o partir do Pão. No Pão partilhado, Ele se dá a conhecer como irmão de todos. Diante destas atitudes de Jesus, o coração deles ardia no peito e reconhecem a pessoa do Ressuscitado que está ali com eles. É como se eles acordassem daquela letargia em que se encontravam.

Todos nós, de alguma maneira, somos ou temos momentos de nossa vida como a dos discípulos de Emaús. Ficamos abatidos, tristes e desanimados com os desafios que a vida nos apresenta. Em momentos como estes, não é hora para o desespero e nem para desistir de tudo e das causas que abraçamos. Nestas horas é que temos que ter em nós, as mesmas atitudes de Jesus: aproximar, colocar-nos juntos, ouvir, falar aquilo que o nosso coração está sentindo, e acreditar nas palavras que Jesus continua falando ao nosso íntimo: coragem, Eu venci e você vai também vencer, se junto comigo você estiver! O Deus da vida aqui está! “Naquela mesma hora, eles se levantaram e voltaram para Jerusalém onde encontraram os Onze reunidos com os outros”. (Lc 24,33) A coragem vence o medo! O desespero dá lugar à esperança de quem acredita e vai a luta! Quem abandona a luta não saboreia o gosto da vitória.