Sexta feira da Quinta Semana do Tempo Comum. O segundo final de semana se aproxima como aquele mais comemorado pela população brasileira. O espírito do carnaval corre veloz nas veias de muitos dos nossos foliões de plantão. A festa inicia-se nesta sexta feira e só termina na madrugada da Quarta, que para nós cristãos é a de cinzas, início da Quaresma. Aqui, no Brasil, tem-se o costume de a sociedade civil só engrenar depois do carnaval. Que o digam os senhores nada nobres parlamentares. Enquanto os trabalhadores dão um duro danado, alguns destes senhores e senhoras funcionam como verdadeiros sanguessugas da Nação.

Como a chuva deu uma trégua por aqui, com o sol assumindo as coordenadas do dia iniciando, dei um pulo na “Casa de Pedro”, para rezar na paz e sossego de sua capela, dividindo o espaço com os pássaros em revoada. Inevitável não se lembrar dele ali, presente, nos muitos anos de convivência conosco, ensinando-nos com a própria vida, como seguir os passos da “Testemunha Fiel”, com a sua fidelidade evangélica. Evangelicamente radical, com austeridade, teimosia e resistência fundadas no esperançar pelo Reino. Não dizia o que fazermos. Ia fazendo e mostrando o caminho. Como diz o dito popular: “para bom entendedor, meia palavra basta”.

Tudo ali conspira a favor de uma boa oração. A energia do local fala por si, e transmite todos os fluidos necessários para uma boa conversa com Deus. Não existe fórmula pronta e acabada para se falar com Deus. Cada qual desenvolve o seu jeito próprio para dialogar com Ele. É importante saber que a oração é uma via de mão dupla: ao mesmo tempo em que falamos com Deus, é necessário que saibamos também escutá-lo. Apresentamos a Deus os nossos anseios, angústias e frustrações, e Ele nos aponta o horizonte de nosso caminhar para lá chegar. Quem reza precisa ter o seu coração aberto para que a Palavra possa penetrá-lo e ser eficaz: “Abri-nos, ó Senhor, o coração para ouvirmos a palavra de Jesus!” (At 16,14)

Jesus também tinha os seus momentos de oração. Ele sabia reservar instantes para estar a sós com Deus e, em sintonia com o Pai, fortalecer as suas convicções, acerca do Projeto do Reino. Nós também precisamos reservar alguns instantes da nossa correria diária, encontrando momentos para o ”estar com Deus”. Na oração estabelecemos este espírito dialogal. Nem sempre rezar é falar desenfreada e incansavelmente. Às vezes no simples calar, Deus começa a falar, desde que a nossa sensibilidade esteja atenta ao ouvir com o coração. Quando temos atitudes de escuta, o Espírito Santo inspira as palavras que serão ditas em cada oração que fazemos. Como diria Santo Agostinho: “Quem sabe bem rezar, sabe também viver bem”.

“E Deus viu tudo o que havia feito, e tudo era muito bom”. (Gn 1,31) Esta foi a constatação que o Livro do Gênesis havia chegado diante da obra da Criação de Deus. Dando continuidade a esta obra, Jesus também fazia bem todas as coisas onde quer que estivesse, como no caso de hoje, em que Ele está na região da Decápole. Decápolis era o conjunto de dez cidades gregas, que se estendiam por uma área que abrangia ambos os lados do Jordão, ao sul do mar da Galileia e na direção do norte. As dez cidades originais que formavam a região de Decápolis eram: Citópolis, Pella, Diom, Gerasa, Filadélfia, Gadara, Rafana, Canata, Hipos e Damasco. Alguns doentes deste território, foram curados por Jesus (Mt 4,25; Mc 5,20 e 7,31, como no Evangelho de hoje.

Jesus aprofunda e da continuidade às suas ações messiânicas em território pagão. É interessante observar que na Galileia, seu torrão natal, terra em que fora criado, Ele não fora bem recebido como está sendo em território onde predomina o paganismo. Ali predominava a desconfiança: “Pode vir alguma coisa boa de Nazaré?” (Jo 1,46) Ele não somente é acolhido pelos pagãos, como lhes trazem pessoas doentes para serem curadas por Ele. Hoje é a vez de um homem surdo que falava com dificuldade. Na compreensão dos antigos, este homem era assim porque, ele ou os seus, haviam pecado.

Como em Gênesis, Jesus, o Messias, Verbo de Deus encarnado de Deus, inicia nova criação. Ele traz em si o selo da criação de Deus: “faz bem todas as coisas”. (Gn 1,31). Jesus veio trazendo o bem em si mesmo. Mas, para que isto aconteça, é necessário abrir os ouvidos e a boca das pessoas, para que elas sejam capazes de ouvir e falar, isto é, discernir a realidade e dizer palavras que confortam e fazem as pessoas crescerem. Como Jesus, nós também assim devemos ser: passar pela vida fazendo o bem! Você está disposto e disposta a aceitar este desafio? Como seguidor ou seguidora de Jesus, se tivesse que definir a sua vida numa palavra, qual palavra seria esta? Não se esqueça de fazer bem todas as coisas, onde quer que você esteja!