Quarta feira da Segunda Semana da Páscoa. O mês de abril vai delineando, já findando a primeira dezena dele. Cada dia vivido é um dia a menos no final das contas. Cada dia é único, não sendo como o de ontem, e nem será como o de amanhã. Por este motivo devemos viver cada dia com a máxima intensidade possível, dando o melhor que podemos dar de nós mesmos. Se o dia é único, as oportunidades e possibilidades também. Amanhã vai ser outro dia! A nossa preocupação deve estar voltada para o presente que se faz agora, deixando as surpresas para o que há de vir. Não nos esqueçamos, que o futuro nos chega à razão de um dia de cada vez.

O presente se faz no aqui e agora, que estamos ainda movidos pelo esperançar do sonho pascal de Deus. Páscoa, não da utopia, mas da certeza de que Ele está mais vivo do que nunca, e faz-se presente em nossa história. “De esperança em esperança”, vamos caminhando sob as coordenadas de outro mundo possível, que desejamos construir, sob a perspectiva do Reino de Deus. Um passo dado de cada vez, tendo como inspiração maior o projeto messiânico de Jesus, acreditando sempre, de que somos capazes de fazê-lo acontecer no chão de nossa historia. Fazendo e acontecendo, inspirados naquilo que rezou o salmista: “Esteja sobre nós o teu amor, Senhor, assim como está em ti a nossa esperança”. (Sl 33,22)

A liturgia desta quarta feira nos coloca ainda no contexto do diálogo entre Jesus e Nicodemos. Se ontem, este ilustre senhor judeu, aprendeu que teria que “nascer do alto”, hoje ele precisa entender que para se chegar a este estado, somente sob a perspectiva do amor. Amor que vem de Deus, pois Ele é amor! Um Deus pleno de amorosidade, capaz de amar infinitamente, os que criou: “Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito, para que não morra todo o que n’Ele crer, mas tenha a vida eterna”. (Jo 3,16) Um Deus que não se contentou em ficar nas alturas, mas quis que o seu Filho fosse um de nós, caminhando conosco pelas nossas veredas, como bem disse o evangelista São João: “O Verbo se fez carne e habitou entre nós”. (Jo 1,14). O Filho é a Imagem do Pai, e o Pai se vê totalmente no Filho, ambos num eterno diálogo de mútua comunicação.

Aliás, ao contrário dos outros evangelistas sinóticos, João descreve amor de uma forma diferente. Se naqueles, ouvimos Jesus dizer: “Ame ao seu próximo como a si mesmo”. (Mt 22,39); em João, Jesus diz a mesma coisa, mas de modo diferente: “amem-se uns aos outros. Assim como eu amei vocês, vocês devem se amar uns aos outros”. (Jo 13,34) Ou seja, o ponto de partida para o nosso amor, é o amor de Jesus para conosco. Amar como Ele amou e se entregou. Talvez João não acreditasse que o amor próprio, fosse suficiente para que possamos amar ao outro a partir deste amor. Certo é que, quem não ama a si mesmo, jamais terá a capacidade de amar a quem quer que seja. Todavia, quando estamos embevecidos com o mesmo amor de Jesus, amamo-nos e somos capazes de amar aos outros na mesma intensidade e medida.

Amor e desamor, duas faces de uma realidade distinta. Vivemos em nós esta “dialética” do amor/desamor. Para quem não sabe, a “dialética” é uma palavra de origem grega “dialektiké”, que significa a arte do diálogo e da convivência de duas realidades distintas que se interagem. Realidades diferentes, convivendo no espaço cotidiano das pessoas. Amamos e odiamos na mesma proporção e intensidade. Ambas as realidades convivem conosco no nosso interior. Deus nos ama e nos criou por amor. Embora sonhados, pensados e criados por laços profundos de amor, deixamo-nos invadir pelo desamor, que é a vertente do mal que se apossa de nossas entranhas, determinando, a partir daí, as nossas ações malévolas, fazendo nos desintegrarmos como humanos.

O convite feito a Nicodemos e a cada um nós hoje é de deixarmo-nos invadir por este mesmo amor de Deus, presente no Filho, que veio nos visitar e fazer morada no meio de nós para sempre. Amar é entrar em sintonia com Aquele que é amor e se dá por amor. Deus não quer que nos percamos no nosso desamor. Pelo contrário, Ele manifesta todo o seu amor através de Jesus, para salvar e dar a vida a todos e todas. Quem ama verdadeiramente, se aproxima de Deus e está na companhia de Jesus. Amar como Jesus amou eis o maior dos desafios. Amar como Deus nos ama. O mandamento do amor supera tudo. Deus e o homem são inseparáveis. E é somente amando as pessoas que amamos a Deus. Fica claro que em Jesus, Deus se fez presente no homem, tornando-o intocável. Este amar sem limites, gera uma comunidade, que oferece uma alternativa de vida digna e liberdade perante a morte e a opressão, fazendo-nos irmãos. Quem não ama, oprime, sufoca, massacra e está longe de Deus.