Quinta feira da Quarta Semana da Páscoa. Estamos atravessando o 116º dia do ano de nosso calendário gregoriano. Desta forma 250 outros dias pela frente nos faltam para pisarmos os nossos pés dentro de 2025. Olhar para frente, mas tendo também como perspectiva aquilo que já vivemos, para que possamos dar passos concretos e consistentes na nossa caminha histórica, afinal, o passado é fundamental para entender o presente e intuir o futuro das realizações que buscamos. Enganam-se os que compreendem que “quem vive de passado é museu”. O tempo histórico que se foi é sementeira de novos sonhos, que implantamos no presente, projetando o futuro.

Neste dia 25 de abril, a Igreja celebra a Festa de São Marcos. O evangelista da segunda geração dos seguidores de Jesus. Marcos ou João Marcos é um santo presente, não somente na tradição católica, mas também na devoção de outras Igrejas Cristãs. Segundo a tradição, Marcos era de família judaica. Era filho de Maria, uma viúva, provavelmente de boas condições financeiras, já que, segundo os registros históricos, foi ela que colaborou com os primeiros cristãos, abrigando-os em sua casa, no início do cristianismo. Alguns estudiosos dão conta, que aquele jovem envolto em um lençol, no momento da prisão de Jesus no Getsêmani (Mc 14, 51-52), tenha sido Marcos.

Portanto, a liturgia pascal deste período que estamos indo em direção à Pentecostes, abre um precedente no dia de hoje, para fazermos a memória da Festa do evangelista São Marcos. Ele que escreveu o seu evangelho por volta dos anos 60, 70 de nossa era cristã, em que grande parte dos discípulos de Jesus, já haviam morrido. Ao contrário daquilo que alguns pensam, Marcos não fez parte do primeiro grupo de Jesus. Sua experiência de fé na caminhada, se deu ao lado de Pedro e Paulo. Entretanto, ao escrever o primeiro dos Evangelhos, ele tem a preocupação de responder a pergunta: quem é Jesus?

Em toda a sua narrativa, Marcos aponta a atividade de Jesus, anunciando e possibilitando a concretização da vinda do Reino de Deus: “O tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa Notícia”. (Mc 1,15). E isso se manifesta pela transformação radical das relações humanas: o poder é substituído pelo serviço (campo político), o comércio pela partilha (campo econômico), a alienação pela capacidade de ver e ouvir a realidade (campo ideológico). Respondendo a pergunta de quem é Jesus, Marcos o faz mostrando que Ele traz uma proposta alternativa de sociedade, que leva à construção de relações fraternas e de igualdade entre as pessoas.

No dia de São Marcos, a liturgia evidentemente nos traz uma pequena perícope deste evangelista para a nossa reflexão. Na sua objetividade, o texto de hoje inicia nos fazendo um convite/envio direto: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai o Evangelho a toda criatura!” (Mc 16,15) Pelo que sabemos, Marcos tornou-se um paradigma do seguidor de Jesus, pois seguiu com fidelidade a ordem de ir pelo mundo inteiro pregando o evangelho a toda criatura. Apesar de seu evangelho ser o menor entre os quatro evangelistas, seu texto serviu de base para os evangelistas Mateus e Lucas. Além do mais, o conteúdo de seus escritos é um convite para conhecermos com profundidade quem é Jesus.

Como seguidores e seguidoras de Jesus, somos convidados a levar a mensagem da Boa Nova aos confins de todo o mundo, É Jesus mesmo que faz o envio de todos nós que fazemos a adesão à sua proposta do Reino. Ir além das fronteiras das paredes dos templos e das sacristias, de uma vida de fé marcada pelo devocionismo sacramental legalista, distante da vida sofrida do povo. Ir pelo mundo, significa dar continuidade à missão de Jesus, tornando-nos discípulos e discípulas d’Ele. Falando e fazendo o que Ele fazia. Levar a Boa Nova do Reino, reconhecendo Jesus como o Messias que leva à plenitude de vida, aceitando o seu convite, indo ao encontro do Ressuscitado nos crucificados da história. A esperança do Reino está em nós na medida em que nos fazemos um com Ele, na pessoa d’Ele, levando adiante a sua missão de vida plena para todos.

Alguns estudiosos exegetas afirmam que o trecho do evangelho de hoje não faz do conjunto da obra como um todo, por diferir das características do autor. Entretanto, embora se caracterize como um acréscimo posterior, o trecho conserva o pensamento originário do autor, que convoca os seus leitores a darem continuidade às ações de Jesus. Assim, somos desafiados a sermos no dia-a-dia de nossas vidas, discípulos e discípulas do Mestre Galileu. Assim como os primeiros cristãos, é bom que saibamos que o discípulo, a discípula, não experimentarão menos perseguições do que o seu Mestre. Ide e anunciai! A lógica é esta: quem recebe um enviado de Jesus, não só recebe o próprio Jesus que envia, mas também o Pai que enviou Jesus. Sejamos seguidores de verdade, e não fujamos ao compromisso de sermos um com Ele.