Segunda feira da Vigésima Sétima Semana do Tempo Comum. O mês das missões segue trilhando a nossa história, nos chamando ao compromisso de fazer da vida uma missão permanente pelo Reino de Deus. A hora é agora e o tempo urge que saiamos de nós mesmos e abracemos o caminhar com Jesus, na pessoa de todos aqueles e aquelas que mais necessitam de nós e do nosso cuidado. Fazer o Evangelho vivo nas ações que vamos realizando na construção do Reino. Cada passo dado, rezando com o salmista: “Mostra-me o caminho certo, Senhor, ensina-me por onde devo andar. Guia-me pela tua verdade e ensina-me, pois és o Deus que me salva; em ti ponho minha esperança todo o dia. (Sl 25,4-5)

Uma segunda feira que amanheceu triste. A Igreja dos pobres está de luto. Nesta madrugada, o nosso pastor, Dom Mauro Morelli (1935-2023), fez a sua páscoa definitiva. D. Mauro foi bispo auxiliar da arquidiocese de São Paulo e primeiro bispo da Diocese de Duque de Caxias, RJ. Destacou-se pela sua atuação na luta por uma igreja aberta aos problemas do mundo e na luta pela dignidade humana. Nos anos 1986 a 1990, juntamente com o Pastor Presbiteriano Jaime Wright e Dom Waldyr Calheiros, integraram a junta jurídica do Serviço Paz e Justiça na América Latina. Destacou-se também no combate à miséria e à fome e na luta pela ética e cidadania. Foi um dos fundadores do Movimento pela Ética na Política.

Rezei nesta manhã invocando a Deus pelo acolhimento em seu Reino à pessoa deste bispo, que serviu de referência para todos nós, desde os bons tempos de estudante de teologia em São Paulo. Assim como Pedro, Dom Mauro fez história, marcando sua época, com a uma atuação firme e decidida na luta pela dignidade humana. Foi também um dos entusiastas do pontificado do Papa Francisco, na perspectiva de uma Igreja em Saída. Fosse mais novo e sem os problemas de saúde, estaria, com certeza, presente em Roma nesta 16ª Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, acontecendo em Roma, discutindo a Sinodalidade. Dom Mauro Morelli, presente na caminhada!

Liturgicamente, começamos bem a semana. O texto que nos é proposto hoje traz uma temática importante: quem é meu próximo afinal? Desejoso de colocar Jesus numa situação embaraçosa, a pretexto de ganhar o Reino dos Céus, um mestre da lei, faz tal pergunta a Jesus. Todavia, este não a responde de imediato, mas, como é de praxe, conta-lhe uma de suas parábolas, para que aquele teólogo chegasse por si mesmo à conclusão. Talvez um dos textos mais conhecidos de todo o Novo Testamento: a parábola do bom samaritano. Não basta saber quem é o próximo, mas é preciso amá-lo concretamente, uma vez que não se ama apenas com as palavras.

Judeus e samaritanos eram povos rivais. Os judeus não se davam com os samaritanos porque eles consideravam os samaritanos um povo mestiço e sincrético, mais dados ao paganismo, portanto, impuros. O conflito entre judeus e samaritanos remonta aos tempos do Antigo Testamento. No tempo de Jesus, o ódio mútuo de judeus e samaritanos é registrado em algumas passagens do Novo Testamento, apontando a rivalidade e divisão entre os dois grupos. O próprio Jesus passou por situação semelhante, quando se aproxima de uma mulher samaritana e é questionado por ela: “Como, sendo tu judeu, me pedes de beber a mim, que sou mulher samaritana? (porque os judeus não se comunicam com os samaritanos)”. (Jo 4,9)

Quem é o nosso próximo afinal? Para Jesus, próximo é aquele que o enxergamos com olhar de misericórdia. Aquele a quem abrimos o nosso coração para acolhê-lo nas suas misérias e dificuldades. Aquele que acolhemos e dele cuidamos. Situação nada fácil para nós que vivemos dentro de uma cultura do descartável, e fazemos a mesma coisa em relação às pessoas, descartando-as se elas não nos interessam. Esta cultura contribui para que hajamos com indiferença e comodismo em relação ao próximo necessitado de cuidados. O samaritano que era marginalizado, rejeitado e mal visto, se torna o verdadeiro cumpridor da vontade de Deus.

Assumir o próximo como próximo é a nossa missão de seguidores de Jesus de Nazaré. Todos os dias, temos a chance de exercitar esta prática de acolher o próximo. Não nos faltam oportunidades, mas iniciativa e comprometimento, uma vez que nos deixamos perder dentro de nosso comodismo. Comodismo e indiferença são as duas faces de uma mesma moeda. Como diria o escritor Elizeu Nieser: “O comodismo é um abismo, localizado entre dois extremos: o desejar e o agir”. Se bem que pior que o comodismo é o conformismo. Aceitar como normal a nossa indiferença e comodismo. O Samaritano agiu e fez bem feito. Ajamos e façamos também nós a diferença na vida do próximo, sendo próximos de corpo e alma.