Sábado da Trigésima Semana do Tempo Comum. Chegamos ao primeiro final de semana do mês de novembro. Neste 308º dia do ano, com a primavera ditando o nosso ritmo de vida e o céu espelhando-nos a fase da Lua cheia, clareando com maestria e beleza natural o Vale do Araguaia. A chuva ainda não deu o ar da graça neste mês, para espanto dos mais velhos por aqui. Nos meus mais de trinta anos de Araguaia, confesso que nunca tinha visto um Dia de Finados sem chuva. Isso não é bom, diria o meu amigo Deodato, que lá de cima, intercede a Deus por nós e pela sua Gameleira, seu pedacinho de chão que tanto amava.

No sábado, segundo a tradição, a Igreja costuma dedicar a Nossa Senhora, pelo fato de ter sido no primeiro Sábado Santo, que Ela viveu sem ter a presença física de seu filho Jesus. Com o coração despedaçado pela dor, a Mãe sente a solidão, do deserto, da morte e do luto. Maria de Nazaré, a mulher forte e guerreira, chorou e sofreu a morte de seu Filho. Experiência esta que nenhuma mãe deseja passar. A Mãe de Jesus e as mães Palestinas, vendo seus filhos serem brutalmente assassinados numa guerra fratricida, na terra que Jesus viveu a sua infância e o seu ministério messiânico. Sábado da Mãe de Jesus que também é nossa, sintetizado neste pensamento de Santo Anselmo: “Deus que criou todas as coisas, fez-se a si mesmo por meio de Maria”.

Para as religiões de Matrizes Africanas, no sábado se comemora dois orixás: Oxum e Iemanjá. Oxum, representando a pureza e a feminilidade, é a deusa dos rios, da riqueza e do amor. Já Iemanjá, muito conhecida no Brasil, é a deusa dos mares e oceanos. No mês da “Consciência Negra”, muito importante conhecer, ao menos um pouco, acerca da realidade das outras religiões, em função da nossa origem ancestral. Somos um país constituído a partir das Raízes Africanas, uma vez que, dos 21 milhões de Negros que foram sacados a força das comunidades ancestrais da Mãe África, um terço deles veio para o Brasil, fazendo de nós a segunda maior população negra do mundo, com quase 57% do total da população nacional.

Sábado que a Igreja Católica celebra também a festa de São Carlos Borromeu. Santo, que era sobrinho do Papa Pio IV, vivendo toda uma vida dedicada aos mais pobres, vindo a falecer por conta da peste-negra. Canonizado por Paulo V, em 1610, a exemplo do Evangelho de hoje, viveu na simplicidade e na humildade, reservando para si apenas o extremamente necessário. Viveu na sobriedade, estando no meio dos pobres, e rezava acreditando piamente no poder da oração com o seguinte pensamento: “A Oração é o princípio, o progresso e o complemento de todas as virtudes”. Morreu aos 46 anos, em 4 de novembro de 1584.

Rezei também nesta manhã, acompanhado por uma centena de papagaios. Esta é a época do ano em que eles saem apresentando para os demais da espécie, a nova geração, que ensaia os seus primeiros voos. Ensejaram uma grande e ruidosa orquestra sinfônica, enquanto degustavam alegremente as saborosas mangas. Um olhar sobre eles e o pensamento voltado para as palavras objetivas de Jesus no Evangelho de hoje: “Quem se eleva será humilhado e quem se humilha será elevado”. (Lc 14,11) Isso na casa de um dos chefes dos fariseus, era mais do que uma afronta: é chamar pra a briga, uma vez que Jesus está criticando o conceito deles que tinham a honra baseada no orgulho e ambição, gerando uma aparência de justiça, mas escondendo os maiores contrastes sociais daquela época.

É bom que fique claro que ser humilde não o mesmo que ser ingênuo ou subserviente. A pessoa humilde tem clareza de suas dificuldades e limitações, e se reconhece assim, buscando o seu crescimento pessoal, a partir dos valores que lhe são intrínsecos. Já a subserviência é a qualidade ou estado da pessoa que cumpre regras ou ordens de modo humilhante. O tempo todo que Jesus passou com os seus na Palestina, viveu na simplicidade no meio dos pequenos. Ele próprio se fez humilde nas mãos de Deus para que assim se cumprisse a sua vontade. Desde o berço materno, espelhou-se na humildade de sua Mãe: “Porque olhou para a humildade de sua serva.” (Lc 1, 48) O Projeto de Deus passa, necessariamente, pela vida dos pequenos, daqueles que se fazem humildes para recebê-lo. Este é o imperativo para todos aqueles e aquelas que quiserem fazer o seguimento de Jesus de Nazaré. O contrário disto é a arrogância e a prepotência, do carreirismo, que busca sempre os primeiros lugares. O amor verdadeiro não é disputa, mas serviço gratuito. Quem ama faz de si mesmo dom para o outro. “Quem quiser salvar a sua vida, a perderá, mas quem perder a sua vida por minha causa, encontrará a verdadeira vida”. (Mt 16,25)