Quarta feira da Quarta Semana da Páscoa. Estamos cada dia mais próximos da Festa de Pentecostes: vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos e nós. Exatos vinte e cinco dias mais, e seremos renovados pela força da Terceira Pessoa da Trindade Santa. No mistério divino de Deus, o Pai, o Filho e o Espírito Santo, possuem a mesma natureza divina, a mesma grandeza, bondade, amorosidade e santidade. Pai, Filho e Espírito Santo é o mistério de Deus em si mesmo. Não há como provar por meio de argumentos racionais, mas depende exclusivamente da revelação de Deus pela fé e, acima de tudo, da Encarnação do Filho, da sua vida na carne e do envio do Espírito Santo.

Deus é Pai e é Mãe de todos nós! Sua amorosidade para conosco chega ao extremo da nossa pequenez e limitações. Quem verdadeiramente crê, se joga no espaço abissal do coração de Deus e se deixa levar pela ação do Espírito em nós. Ele nos criou pelo sopro divino da criação, para alcançarmos a plenitude da vida. Sem Ele, nada somos e com Ele chegamos ao ápice do humano se fazendo divino, projetados que fomos com o sonho de Deus para sermos felizes e realizados em plenitude. Abandonarmos nas mãos de Deus é a nossa maior virtude, seguindo um dos conselhos de Santo Afonso Maria de Ligório: “Feliz aquele que vive inteiramente unido e abandonado à vontade de Deus”.

Nesta quarta feira, a liturgia dá um salto importante, oportunizando a nossa reflexão neste clima pascal. A perícope de hoje (Jo 12,44-50) encerra o ciclo do “livro dos sinais”, da estrutura literária do Evangelho Joanino. Todavia, Jesus segue no mesmo ritmo anterior, dando as coordenadas de sua identidade messiânica. Na realidade, Ele está chamando a atenção de seus ouvintes, quanto a necessidade das pessoas acreditarem n’Ele. E aqui entra a questão teológica: vê-lo, significa acreditar e ver também Aquele que o enviou, reforçando assim o tema da unidade e unicidade: o Pai e Jesus são uma só coisa. Nesta relação de amorosidade entre Pai e Filho, Jesus é a presença do Pai, aproximando-nos de Deus, e nos fazendo divinos como Ele é.

Jesus, palavra e ação. Não somente comunica-nos o plano de Deus para nós, mas o faz acontecer pelas suas ações. Palavra e ação em harmonia de realização. Ele é a luz do mundo. Sua missão é portadora de libertação, de salvação. Diante desta sua missão no meio de nós, resta-nos a decisão, se pelo acolhimento da palavra e ação de Jesus, ou pela incredulidade e recusa, não escutando sua palavra. Ou seja, a revelação de Deus em Jesus nos põe em julgamento. Diante da luz da revelação, a nossa vida se esclarece. Assim, podemos assumir duas atitudes distintas: vivermos conforme a vontade de Deus, aproximando de Jesus e o aceitando; ou vivermos não conforme a vontade de Deus, nos afastando dessa luz, rejeitando Jesus.

É importante observar que o evangelista São João salienta o tempo todo no seu evangelho, as reações que as pessoas têm diante de Jesus. Reações positivas de aceitação, que levam à vida, e de recusa, que por sua vez levam à morte. Recusa e hostilidade que, inclusive, levam Jesus à morte; aceitação que produz a primeira comunidade reunida em nome d’Ele. Somos estes continuadores desta mesma comunidade e temos a missão de levar adiante a missão de Jesus, nos tornando pessoas “crísticas”. Em resumo, podemos dizer que, Deus Pai testemunhou sua amorosidade total, entregando seu Filho único para que todos nós tenhamos a vida. Todavia, as pessoas, por sua vez, respondem ao amor do Pai quando, do mesmo modo, nos abrimos para o dom do amor maior, pondo-nos a serviço da vida dos nossos irmãos e irmãs.

Deus é amor! Deus é vida! Deus é luz clareando os nossos dias de escuridão. “Quem crê em mim, não é em mim que crê, mas naquele que me enviou”. (Jo 12,44) Toda ideia ou teoria sobre Deus que não esteja de acordo com a palavra e ação de Jesus é ilusória e falsa. Porque Jesus é a revelação do próprio Deus. E a missão de Jesus se estende a todos, mas cada um de nós é livre para aceitar ou não, a sua proposta. Se bem que a recusa da palavra e ação de Jesus, traz consigo a escolha da própria morte. Desta forma, somos convidados a ler este Evangelho de hoje, colocando-nos em clima de julgamento, para nos abrirmos à luz de Deus que, mediante Jesus, ilumina a nossa vida e nos leva a tomar uma decisão: aceitar e continuar a obra de Jesus para termos definitivamente a vida, ou rejeitar Jesus e estarmos definitivamente condenados. É pegar ou largar. Você decide!