Vigésimo Terceiro Domingo do Tempo Comum. Já vivemos 1/3 do “Setembro Amarelo”. Mês da Bíblia e também, neste dia 10 é, oficialmente, o “Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio”. Uma triste realidade que atinge as populações do mundo inteiro. O Brasil não fica fora desta triste estatística, uma vez que, cerca de 14 mil casos acontecem a cada ano por aqui, inclusive entre os povos indígenas. Nesta semana mesmo, tivemos um acontecimento numa das aldeias Iny (Karajá), aqui da Ilha do Bananal. Uma linda jovem tirou a sua vida. Quando morre alguém, vítima de suicídio, morre um pouco de cada um de nós, que não fomos capazes de cuidar da vida dos nossos.

Aos que somos da caminhada da Igreja, acordamos neste domingo de alma, mente e coração lavados. Depois do ápice da Romaria dos 50 da PJ em Aparecida/SP, com a celebração de ontem, podemos continuar sonhando e acreditando, de que a Igreja pode retomar o caminho de volta e acolhida dos nossos jovens. Um banho de alegria, entusiasmo e energia, contagiando a todos nós, mesmo que na distância, proporcionado pelas dezenas de milhares de jovens que atenderam ao chamado e foram mostrar a sua cara na romaria. Diante da tela de meu televisor, fiquei arrepiado, presenciando aquele momento profético, bem ao estilo do nosso jovem Francisco de Roma.

Em um dos trechos da mensagem do Papa Francisco aos jovens da PJ, ele assim se manifestou: “Caros amigos, em meio às incertezas e inseguranças de cada dia, em meio à precariedade que as situações de injustiça criam ao redor de vocês, tenham uma certeza: Maria é um sinal de esperança que lhes animará com um grande impulso missionário. Ela conhece os desafios em que vocês vivem. Com sua atenção e acompanhamento maternos, lhes fará perceber que não estão sozinhos”. Quem sabe, diante deste momento de resistência e teimosia destes jovens, a Igreja caia na real e se volte para os jovens e os pobres, como Igreja de Jesus de Nazaré, profética e libertadora de todas as situações de injustiça. “PJ aqui, PJ lá, PJ em todo lugar!”

Igreja da inclusão dos excluídos de nossa vil sociedade. Igreja da misericórdia à semelhança do nosso Deus. Igreja do amor gratuito e do serviço às causas dos que mais sofrem. Igreja do perdão solidário e fraterno. Igreja da inclusão pelo perdão, conforme o texto de Mateus, escolhido pela liturgia para a nossa vivência de fé em nossas comunidades neste domingo. Jesus alertando os seus discípulos quanto a necessidade do perdão, sobretudo porque todos somos pecadores. A limitação humana nos faz errantes e pecadores. Assertivamente, Jesus já nos alertara em outra ocasião: “Quem dentre vós não tiver pecado, atire a primeira pedra” (Jo 8,7)

O texto de hoje faz parte de um dos discursos de Jesus: o “discurso eclesial” ou “discurso da comunidade”. Lembrando que o texto deste evangelho é também dirigido à comunidade judaica. O judeu não mantinha contato com pagãos e pecadores, uma vez que estes eram considerados impuros. Portanto, estar ligados a eles, era também um sinal de impureza para os judeus. Jesus vem quebrar esta lógica, apresentando a necessidade do exercício do perdão, uma vez que a comunidade é constituída de pessoas, e as pessoas são limitadas, errantes, portanto, pecadoras. Perfeito só Deus com a sua infinita misericórdia.

O erro (pecado) não coloca apenas a vida do pecador em risco, mas a de todos os demais. Quem erra e reconhece o seu erro merece ser perdoado. Não há limites para o perdão. Quem ama, sabe perdoar. Quem não perdoa, não sabe ainda o que é amar. Amor pressupõe o perdão. Somente um coração cheio de amor tem espaço para o ato generoso de perdoar. Perdoar é promover a inclusão da pessoa na vida da comunidade. A pedagogia da convivência em comunidade requer o acolhimento e a inclusão pelo perdão. Todas as chances devem ser dadas àqueles que erraram, a não ser que eles mesmos resolvam permanecer em seus erros. “Errar é humano, mas também é humano perdoar. Perdoar é próprio de almas generosas”. (Platão)

Deus nos acolhe a todos assim como somos, com as nossas imperfeições, limitações e defeitos. Somente um Pai pleno de amorosidade é capaz de agir assim como Deus. Mesmo diante de seus erros (e não foram poucos), Santo Agostinho assim dizia: “Já li, Sócrates, Platão e Aristóteles, mas em nenhum deles li: “vinde a mim, todos os cansados e oprimidos que eu vos aliviarei”. O texto de hoje nos chama a atenção sobre a necessidade constante do perdão. Quando um dos nossos erra, prejudicando o bem comum, a comunidade deve agir com prudência e justiça, procurando corrigir aquela pessoa. Reunida em nome e no espírito de Jesus, a comunidade tem o poder de incluir ou excluir as pessoas do seu meio. Entretanto, a nossa missão não termina com a exclusão do pecado, mas devemos procurá-lo, como o pastor que sai em busca da ovelha perdida, a exemplo da parábola. (18,11-14).