Terça feira da Vigésima Sétima Semana do Tempo Comum. A primeira dezena do mês das missões está findando. Enquanto a 16ª Assembleia Sinodal sobre Sinodalidade transcorre em Roma, seguimos por aqui repercutindo em nós este contexto de comunhão, participação e missão. Escutar as múltiplas vozes, para que assim possamos caminhar juntos. Como o Papa Francisco já houvera dito: “Ter ouvidos, ouvir, é o primeiro compromisso. Trata-se de ouvir a voz de Deus, colher a sua presença, interceptar a sua passagem e sopro de vida”. Ouvir atentamente o Espírito Santo, como está descrito no livro do Apocalipse: “Quem tiver ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas”. (Ap 2,7)

No mês de outubro celebramos a missão que queremos ser com a presença viva de Jesus em nosso meio. Em Jesus, Deus se faz morada em nós, sendo gente como a gente. Ele é a luz que ilumina as nossas ações e o caminho ao qual colocamos os nossos pés, nas estradas da história. Viver a fé em sua profundidade é assumir um compromisso com o Nazareno, de dar continuidade às suas ações, onde quer que estejamos. A vida acontece dentro das opções que vamos acolhendo em nós. Escolher e viver, embasados pelo nosso compromisso com a vida em sua plenitude, acreditando naquilo que Jesus mesmo dissera: “Sem mim nada podeis fazer” (Jo 15,5)

Somos da comunidade de Jesus. Nossa missão é viver grávidos deste amor absoluto de Deus. A comunidade cristã não pode ser uma instituição, mas uma participação integral na vida de Jesus. Unidos a Ele, cada um de nós é chamado a testemunhá-lo, na procura do Reino. Reino de paz, justiça, fraternidade. No Reino, a vida pede passagem. Viver o Reino é abrir-nos ao ilimitado de Deus, que na sua divindade amorosa, se dá por inteiro a nós na pessoa do Filho. A hora de viver nesta intensidade transcendental é no aqui e agora, na mesma linha de raciocínio do filósofo estoico espanhol Sêneca: “Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida”.

Viver com e como Jesus que no dia de hoje, Lucas nos coloca no contexto de uma de suas visitas aos seus amigos pessoais, Marta, Maria e Lázaro. Ele está na cidade de Betânia, uma pequena aldeia que ficava a cerca de três quilômetros da cidade de Jerusalém, do outro lado do Monte das Oliveiras, conforme a descrição do evangelista São João (11,18). Esta vila estava na estrada para Jericó, perto de Betfagé. As duas mulheres acolhem Jesus em sua casa, com cada uma delas, tendo um tipo de preocupação: Marta preocupou-se logo em servir o jantar a Jesus e se ocupou com muitos afazeres para recebê-lo; Maria, por sua vez, sentou-se aos pés de Jesus para ouvi-lo.

A nossa vida é feita de escolhas e opções. O nosso texto de hoje realça que, enquanto Marta se ocupou com outros afazeres, Maria escolheu a melhor parte, estar com Jesus para ouvi-lo. Jesus ainda chama a atenção da outra irmã: “Marta, Marta! Tu te preocupas e andas agitada por muitas coisas. Porém, uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte e esta não lhe será tirada”. (Lc 10,41-42) Escolher a melhor parte é eleger como foco principal a parte fundamental da experiência e não as partes acessórias e supérfluas. Uma escolha não muito fácil de fazer, sobretudo diante deste atual contexto em que vivemos, onde as multimídias desviam o nosso foco e atenção.

Escolher a melhor parte é o “x” da questão. Fazer o discernimento entre o supérfluo e o essencial. Escolher a vida baseada nos valores do Evangelho e não na superficialidade das coisas do momento. Cada um faz as suas escolhas e delas decorrem as consequências. O povo de Israel foi aconselhado por Deus: “Escolhe, pois, a vida para que vivas”. (Dt 30,19) A vida e a morte, a felicidade e a desgraça dependem da opção histórica que fazemos entre o Deus da liberdade e da vida, e os ídolos, que produzem escravidão e morte. Mais importante do que fazer as coisas, é fazê-las de modo novo. Para isso, é preciso ter os ouvidos atentos como os de Maria, para ouvir a palavra de Jesus, que mostra o que fazer e como fazer. Aprendamos a ouvir no silêncio a voz de Deus, que fala no mais fundo de cada um de nós. E aí, você está escolhendo a melhor parte? Será?