Quinta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Fevereiro chegou! Janeiro ficou! Iniciamos fevereiro nos inspirando na Sagrada Família de Nazaré, já que a Igreja Católica dedica este mês a ela. Tudo porque, após as celebrações do Natal, a Igreja quer que olhemos para ela como paradigma, pois foi no berço desta família que Jesus viveu toda a sua vida antes de começar atividade pública na Galileia. No seio da Grande Família, Ele aprendeu os principais valores, humanos/teológicos, trabalhou na carpintaria de José, preparando-se para a grande missão de anunciar o Reino de Deus. Como escreveu certa feita nosso bispo Pedro: “Jesus, Maria e José, sagrada família do curral de Belém, valei-nos!”

No passo a passo da vida, vamos adentrando em mais um mês de nosso Calendário Gregoriano. Alguns vislumbrando o carnaval. Outros a Quaresma, que está logo ali. Entre um e outro, como cristãos e, à luz do Evangelho, somos chamados a refletir sobre a Campanha da Fraternidade, que, todos os anos nos propõem uma temática nova, objetivando a nossa reflexão e posicionamento. Se no ano que passou o tema foi “Fraternidade e Fome”, com o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer!” (Mt 14, 16), para o ano de 2024 a temática escolhida pela CNBB é “Fraternidade e amizade social” e o lema “Vós sois todos irmãos e irmãs” (Mt 23,8).

Já são 60 anos de mobilização da Campanha da Fraternidade em todo o Brasil, já que a primeira delas, em nível nacional, aconteceu no inicio dos anos de chumbo, 1964. É bom que saibamos que a Campanha da Fraternidade, dentro do caminho penitencial da Igreja, propõe também, durante a Quaresma, um convite à conversão à amizade social e ao reconhecimento da vontade de Deus de que todos sejamos irmãos e irmãs. Nesta perspectiva, ela está alicerçada em três pilares básicos: “despertar o espírito comunitário e cristão no povo de Deus, comprometendo, em particular, os cristãos na busca do bem comum; educar para a vida em fraternidade, a partir da justiça e do amor, exigência central do Evangelho; renovar a consciência da responsabilidade de todos pela ação da Igreja na evangelização, na promoção humana, em vista de uma sociedade justa e solidária”.

Como a grande família de Deus que somos, todos e todas somos chamados a evangelizar, sustentando assim a ação evangelizadora e libertadora da Igreja, como o foram os doze apóstolos, que Jesus enviou à sua frente. Cada um e cada uma é parte integrante nesta comitiva do grupo de Jesus, se assim fizermos a nossa adesão ao seu projeto libertador do Reino. A iniciativa é do próprio Deus em Jesus e requer a nossa resposta decidida e confiante, com o nosso sim dado a cada dia, a exemplo da Mãe: “Faça-se em mim segundo a tua vontade”. (Lc 1,38) Entrega total nos braços de Deus.

No texto de Marcos de hoje, que é a continuação do de ontem, vamos ver que Jesus decide enviar em missão seus discípulos e dá-lhes poder de expulsar os espíritos impuros. Depois de terem sido chamados nominalmente por Jesus, com o proposito de “estar” com Ele e “aprender” com Ele, agora são enviados com o poder do Espírito Santo, a fim de provocar uma radical mudança na sociedade. Na bagagem, apenas o necessário para se cobrir e proteger os pés (sandálias). A sobriedade deve ser a marca característica daquele/a que é enviado. O alimento virá daqueles que os acolherem. Os discípulos estiveram com Jesus de d’Ele aprenderam as orientações. Agora é seguir em frente.

“Começou a enviá-los dois a dois”. (Mc 6,7) A colegialidade é também um dos distintivos dos seguidores de Jesus. Nada de individualizar as ações. A Sinodalidade deve estar presente no processo de evangelização: Missão, comunhão e participação. Esta foi também a experiência vivida pelas comunidades cristãs primitivas, levando a serio aquilo que fora dito por Jesus: “Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estou aí no meio deles”. (Mt 18,20) Austeridade, simplicidade e dedicação às causas do Reino na vivência do Evangelho que se prega. Pregações com ações concretas de libertação, sobretudo dos pobres, pequenos e marginalizados.

Os discípulos são enviados para dar continuidade à mesma missão de Jesus: Missão que compreende uma mudança radical da orientação da própria vida (Metanoia – conversão), Abrir a mente e as correntes das pessoas (libertar dos demônios), Dar prioridade a vida humana em sua plenitude (curas). É por este motivo que os discípulos devem estar livres, ter bom senso e estar conscientes de que a missão vai provocar choque com os que não querem transformações. Quão distantes estamos desta proposta de envio de Jesus, uma vez que os que se sentem chamados para esta missão, comportam-se mais como “funcionários do sagrado”, cheios de badulaques, roupas finas, adereços e quinquilharias mil, impedindo, inclusive às pessoas de terem acesso à comunhão eucarística, esquecendo-se completamente do que fora dito por Jesus: “Os sãos não precisam de médicos, e sim os doentes. Não vim chamar os justos, e sim os pecadores”. (Lc 5,31-32) Estamos carentes de discípulos que ouçam a proposta de Jesus, a entendam na sua essência e sejam continuadores da missão d’Ele.