Quinta feira da Trigésima Primeira Semana do Tempo Comum. Estamos vivendo o 313º dia do ano. Outros 52 nos colocam dentro de 2024. A primavera segue ditando a regra geral de nossas vidas, com a lua minguante sobre o céu. Lua esta que exerce pouca influência sobre a terra, uma vez que ela não está alinhada com o sol e por isso, a sua força de gravidade e sua luminosidade são bastante reduzidas. Segundo os costumes e a tradição indígena, a fase da lua minguante é apropriada para plantar raízes e tubérculos, pois nascem embaixo da terra, não enfrentando assim a força de gravidade da terra, que neste período da lua minguante é bem forte.

Nada como começar o dia com o pouco que conheço de história, para que assim possamos entender a geopolítica mundial. O dia 9 de novembro é um dia histórico para a humanidade. O final do século XX viu ruir o “Muro de Berlim”, uma barreira de concreto, que exercia um sistema de controle de fronteiras que dividiu a cidade alemã de Berlim em duas áreas; uma sob influência administrativa da República Federal da Alemanha (RFA), e a outra parte dominada pelo capitalismo ocidental, da República Democrática Alemã (RDA), sob o domínio da URSS. Este muro era o principal símbolo da “Guerra Fria”. Guerra esta que foi um conflito político-ideológico travado entre Estados Unidos (EUA) e União Soviética (URSS), entre os anos de 1947 e 1991.

História geopolítica a parte, voltemos à exegese bíblica, para melhor conhecer os passos de Jesus, mostrando-nos o caminho a seguir. O texto que nos é proposto hoje pela liturgia, vem do evangelista São João, o quarto Evangelho, fora da esfera sinótica de Mateus Marcos e Lucas. Diferentemente destes três outros, João escreve o seu Evangelho seguindo um caminho diferente. Podemos dizer que o seu evangelho é uma espécie de meditação, que procura aprofundar e mostrar o conteúdo da catequese existente na comunidade joanina. Seu evangelho visa, antes de tudo, despertar e alimentar a fé em Jesus Cristo, o Filho de Deus, a fim de que todas as pessoas tenham a vida: “Estes sinais foram escritos para que vocês acreditem que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. E para que, acreditando, vocês tenham a vida em seu nome” (Jo 20,31).

O texto de hoje inicia dizendo que: “Estava próxima a Páscoa dos judeus e Jesus subiu a Jerusalém”. (Jo 2,13) Diferente da comemoração da Páscoa cristã, celebrada no domingo, que marca a Ressurreição de Jesus, o Cristo, a Páscoa Judaica começa no sábado. Ela é conhecida pelos judeus como “Pessach”, que significa passagem, com uma tradição milenar, que relembra a libertação do povo hebreu da escravidão no Egito. A páscoa judaica começa com o “Sêder”, que é o jantar e segue com a leitura do Hagadá, livro que contém toda a história de libertação dos hebreus do cativeiro no Egito. Uma escravidão que durou cerca de 400 anos (1550-1175 a.C.).

Judeu que era, Jesus sobe a Jerusalém e vai ao Templo. Naquele contexto sócio histórico, O Templo era o centro religioso-econômico e cultural da Palestina. Era também centro político, pois ali se reunia o Sinédrio, sob a chefia do Sumo-sacerdote, com cargo vitalício e também o grupo dos saduceus, que eram os grandes latifundiários da época de Jesus. Lembrando que o Sinédrio era a suprema corte dos judeus, o mais alto tribunal. Sinédrio significa assembleia, concílio e tribunal, e vem do grego “synedrion”. Essa palavra também era usada para designar tribunais inferiores, ou seja, qualquer tribunal de justiça.

Uma enorme contradição para aquele que deveria ser considerado como um espaço religioso conforme Lucas: “Está nas Escrituras: Minha casa será casa de oração. No entanto, vocês fizeram dela uma toca de ladrões”. (Lc 19, 46) Todas as negociatas se faziam no templo, inclusive até com moeda própria. Uma casa de todos os “negócios”, menos uma casa de oração e acolhida dos pequenos, pobres e marginalizados. Para escândalo das lideranças religiosas, a reação de indignação de Jesus é imediata, expulsando do Templo todos aqueles salteadores. Mais importante que o espaço do Templo, sagrado mesmo, é o corpo humano: “Ou vocês não sabem que o seu corpo é templo do Espírito Santo, que está em vocês e lhes foi dado por Deus?” (1Cor 6,19)

A atitude de Jesus é profética e subversiva, pois ao acusar e atacar o comércio existente dentro do Templo, Ele confronta-se com as bases sobre as quais se apoiava toda aquela sociedade dominante. Lembrando que era com esse comércio no Templo que se sustentava a economia e os privilégios do país. O gesto de Jesus mexe não só com um modo de vida religiosa, mas com toda uma estrutura de sociedade que usa a religião para estabelecer e assegurar privilégios de uma classe e sustentar uma visão “meritocrática” de salvação: só os que detinham poder e riqueza seriam os que se salvariam. Expulsando os comerciantes, Jesus denuncia a opressão e a exploração dos pobres pelas autoridades religiosas. Evidentemente que todos aqueles que se favoreciam desse sistema, encontram um jeito de matar Jesus, embora temessem a multidão que acorria a Ele. Sei não o que faria Jesus se entrasse em alguns dos templos que temos hoje entre nós!