Quinta feira da Segunda Semana do Tempo Comum. O mês de janeiro segue sob as coordenadas do verão: calor demais e chuvas intempestivas, geralmente no final da tarde. Por aqui, no nosso solo amazônico, seguimos sofrendo os efeitos das mudanças climáticas. Em trinta e um anos que aqui estou nunca vi o Araguaia com tão poucas águas. “Lá embaixo”, como dizem os mais experientes por aqui. Ele que possui uma dinâmica própria, que é alagar-se, para levar os pequenos peixes aos lagos e trazer os grandes que lá estão, deixados no ano anterior. A natureza com os seus caprichos.

De volta ao meu quintal, rezei ainda muito cedo na companhia dos “amigos” de sempre. Meus anfitriões em festa pelo amanhecer de um novo dia. Eles sabem agradecer mais do que nós humanos, que vemos o dia chegando apenas como mais um deles em nossas vidas. Em oração a Deus, autor da vida, contemplei um lindo casal de araras, diferentes das que normalmente temos por aqui. Cores vivas em vermelho e amarelo. Segundo os estudiosos, este tipo está em extinção. Com a extinção de algumas espécies da natureza, estamos causando a nossa própria extinção. Pena que alguns de nós, não dão conta disto.

O dia 18 de janeiro marca uma data importante em nosso calendário. Comemoramos hoje o Dia da Universidade. Apesar de todo o “negacionismo científico”, felizmente, o Brasil possui cerca de 2.608 instituições de ensino superior e, dentre elas, mais de 200 são universidades públicas, formando as camadas de baixa renda de nossa sociedade, que adentram a Universidade através do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ele que foi instituído em 1998, com o objetivo de avaliar o desempenho escolar dos estudantes ao término da educação básica. O Enem 2023, por exemplo, teve mais de 4 milhões de inscritos e 2,73 milhões de participantes, o que gerou índice de participação de 68%. Um dado importante é que houve quase 500 mil inscritos no Enem de 2023 a mais que em 2022.

“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo”, afirmou o líder sul africano Nelson Mandela (1918-2013). Educação que transforma pessoas e pessoas que transformam o mundo, seguindo na lógica de nosso educador maior Paulo Freire. Educação, mais que saber acumulado, nos leva a refletir, pensar e agir, buscando um mundo melhor para viver, seguindo na proposta de Jesus que aliou o amor, a misericórdia e a compaixão à justiça de Deus. Como enviado de Deus, Jesus nos ensina que não podemos separar a justiça da misericórdia. Em Deus, as duas trabalham juntas, em harmonia. A justiça de Deus é misericordiosa e a misericórdia de Deus é justa, como o salmista nos mostra: “O Senhor é misericordioso e justo; o nosso Deus é compassivo”. (Sl 116,5)

Jesus que no dia de hoje segue anunciando a Boa Nova do Reino e também fazendo acontecer a transformação desejada por Deus. Repelido e perseguido pelas autoridades religiosas judaicas, que queriam mata-lo, Jesus é acolhido pela ralé. Gente simples, vinda dos mais variados recantos da Palestina: pobres, pagãos, doentes, deficientes, prostitutas… Estes reconhecem em Jesus o Messias, servo enviado por Deus para estar ao lado daquela “gentalha”, os indesejados e desvalidos. Jesus que aprendeu bem a lição no berço em que nasceu, conforme nos dizia nosso bispo Pedro: “No ventre de Maria, Deus se fez homem, mas na oficina de José, Deus também se fez classe”.

“Tu és o Filho de Deus!” (Mc 3,11) Tal afirmação não partiu da boca das autoridades religiosas de Jerusalém, mas dos “espíritos maus”, que caíram aos pés de Jesus, reconhecendo n’Ele, quem de fato, Ele era: o Filho de Deus! Jesus que ainda hoje continua sendo reconhecido pelos pequenos, pobres e marginalizados, e um eterno desconhecido para as lideranças religiosas de agora, que preferem aliarem-se aos projetos de exploração das elites do poder econômico. Jesus faz o processo inverso, se afastando do centro, indo para a periferia, pois é lá que Ele quer ser encontrado por mim e por você.

Estrategicamente Jesus se retira. Entretanto, uma imensa multidão, vinda dos mais variados recantos, chega até Ele. Ele acolhe o povo, mas também toma distância. O projeto de Jesus não pode ser confundido com um projeto assistencialista que só atende às necessidades imediatas. É preciso destruir pela raiz as estruturas injustas; estas é que produzem todo tipo de necessidades na vida do povo. Matar a fome de quem está com fome, curar os doentes que lá houver, mas também lutar para acabar com a injustiça que gera uma sociedade em que alguns poucos têm demais e a imensa maioria sem o necessário para viver com dignidade. Fazer valer aquilo que está escrito em nossa Constituição: “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais”. (Art. 3º da Constituição Federal do Brasil)