Terça feira do Tempo do Natal antes da Epifania. Estamos dando o segundo passo adentrando o novo ano. As festas se foram. Hora e vez de pisar o chão da realidade. Todas as projeções idealizadas sendo colocadas na ordem do dia, como perspectiva de vivermos num mundo melhor, mais justo, humano, fraterno e irmão. Que nos sirva de inspiração aquilo que fora dito por Dalai Lama: “Só existem dois dias no ano que nada pode ser feito. Um se chama ontem e o outro se chama amanhã, portanto hoje é o dia certo para amar, acreditar, fazer e principalmente viver”.

Rezei nesta manhã respirando os ares de Campinas. Nada como voltar a esta cidade e rever os amigos de outrora! Cidade que me possibilitou conhecer o mundo da filosofia, nos vários anos que fui “filho da PUCC”. A juventude virada ao avesso pelos pensamentos dos muitos filósofos, graças a participação ativa dos bons professores que tive. Um horizonte se descortinou à minha frente sob as coordenadas do livre pensar. Nunca mais fui o mesmo.

Amanheci neste dia com o pensamento voltado para o dia de ontem. Ontem foi o aniversário da páscoa de um grande amigo. Três anos nos separam de Antônio Luiz Marchioni, que todos conhecíamos por Padre Ticão. Morreu na noite do dia 1º de janeiro de 2021, em São Paulo, aos 68 anos. Sua prática e amizade foram essenciais para ensinar-me os primeiros passos no sacerdócio, identificando-me com as causas populares.

Quem és tu? Está é a frase/indagação que norteia o nosso pensar no dia de hoje. Quem sou eu? Quem é você? Quem somos nós? De há muito, sei quem sou, o que sou e como sei ser: um matuto enfronhado em meio às causas indígenas, na procura do bem viver, nas terras sem males. Procuro viver o Projeto de Deus em sintonia com os saberes tradicionais e a ancestralidade dos povos originários. “Eu sei que nada sei”, mas sei ser com eles, nas causas deles.

Quem és tu, afinal? Esta foi a pergunta feita ao grande profeta do deserto e que a liturgia de hoje nos motiva refletir. “Eu não sou, quem vocês estão pensando que eu sou”, respondeu prontamente João Batista, àqueles que buscavam uma resposta. João tinha plena consciência de quem ele era, e qual seria a sua missão, diante daquele que era “o cara”: “Eu não mereço desamarrar a correia de suas sandálias”. (Jo 1,27)

João Batista não é Elias, muito menos o Messias. Ele é a testemunha chave que tem como função preparar o caminho para os homens chegarem até Jesus: “Eu sou a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor’”. (Jo 1,23) Poderia muito bem encher-se de vaidade e colocar-se no lugar daquele que ele não era, como infelizmente vemos em nossas igrejas ainda hoje, de padres, bispos e lideranças religiosas que, num excesso de zelo egocêntrico e vaidade, pregam a si mesmos no lugar de Jesus. O eu transformado em vaidade, desprovido de humildade e simplicidade. “Vanitas vanitatum et omnia vanitas” – “vaidade das vaidades, tudo é vaidade”. (Ecl 1,2)

João Batista é a testemunha fiel. Sua missão principal foi a de preparar o caminho para que chegássemos até Jesus. Como testemunha, usou de toda humildade e de sincera intenção, de não querer o lugar da pessoa que ele está testemunhando. Diante deste contexto, devemos sempre nos perguntar: quem sou eu dentro deste projeto de Deus? Quem sou eu como testemunha deste amor de Deus no mundo em que estou? Quem sou eu para as pessoas que convivo, sobretudo para aquelas que necessitam dos meus cuidados? Quem sou eu para Deus? Que o espírito do Batista baixe em cada um de nós!