Quinta feira da Vigésima Semana do Tempo Comum. Neste dia, a liturgia abre espaço para celebrar a Festa de São Bartolomeu, também conhecido por Natanael. Nos Evangelhos Sinóticos, era chamado Bartolomeu, mas, em João, era Natanael. Ele foi um dos primeiros a serem chamados por Jesus para fazer parte de seu discipulado. Um simples pescador de Caná, uma pequena vila da Galileia. Pouco se sabe sobre sua vida. Dentre os evangelistas, São João é o que nos traz um pouco de como foi o seu chamado. Como conhecia bem a região em que vivia, olha com desconfiança sobre a possibilidade de vir de Nazaré, aquele que iria libertar o seu povo.

No contexto literário do Evangelho de João, que é o escolhido pela liturgia para a nossa reflexão hoje, temos várias testemunhas. Natanael é uma destas testemunhas acerca do Messias. Certamente que, como bom judeu, conhecia uma das profecias de Isaias que dizia: “Do tronco de Jessé sairá um ramo, um broto nascerá de suas raízes”. (Is 11,1) Alguém que traria uma realidade nova, uma nova sociedade alicerçada na justiça, produzindo paz e harmonia. Tal profecia foi interpretada pelo Novo Testamento, vendo-a ser cumprida na pessoa de Jesus. É a partir da ação deste Messias que se constrói o mundo novo, onde todas as coisas se reconciliam.

Todavia, Natanael não consegue assimilar que este Messias viria exatamente de Nazaré. Seu olhar de ceticismo e desconfiança está na sua pergunta: “De Nazaré pode sair coisa boa?” (Jo 1,46) Lembrando que Jesus passou a maior parte de sua vida em uma aldeia chamada Nazaré, localizada entre as montanhas da baixa Galileia. Talvez para ficar mais fácil a sua locomoção, já que o local fica em Israel, a 157 quilômetros ao norte de Jerusalém. Esta era uma região sem força e expressividade. Na verdade, esta região só ganha destaque mesmo após o nascimento do Messias. Foi em Nazaré, por exemplo, que Maria recebeu o anjo anunciando sua gravidez e, dali, ao lado de José, partiu para Belém para dar à luz ao Filho.

Portanto, Nazaré era uma região desprezada pelos judeus. O contexto de hoje trazido pelo Evangelho é o inicio do ministério de Jesus. Tempo em que Ele estava constituindo o seu grupo com o chamamento dos discípulos. Jesus dirigindo-se a algumas pessoas convidando-as a estarem com ele e serem suas seguidoras. Pode ser que tenha recebido algumas respostas negativas. A Bíblia, porem, não registra. Ela somente nos transmite o nome daqueles que ouviram o chamado e se dispuseram a seguir Jesus de Nazaré. Pessoas simples, vindas dos mais inesperados lugares.

É da periferia que vem a salvação. O Projeto de Deus nasce no meio dos pobres, de lá, onde não se esperava nada. Deus escolhendo os últimos para serem os primeiros. (Mt 20,16) Natanael não acredita que entre as pessoas simples como ele, pudesse nascer aquele que viria libertar a todos. Porém, Natanael é desafiado pelos próprios companheiros: “Vem ver!” Ele viu e acreditou: “Rabi, tu és o Filho de Deus, tu és o Rei de Israel”. (Jo 1,49) Ver, acreditar e conhecer Jesus, através da fé e da confiança de que Ele é o Deus-Conosco e nos chama para com Ele caminhar.

Os relatos bíblicos nos dizem que as pessoas encontraram Jesus e começaram a conviver com Ele. Na caminhada com Ele, vão descobrindo que Ele é o Mestre, o Messias, o Filho de Deus. O mesmo também acontece conosco: enquanto caminhamos com Jesus, vamos fazendo as descobertas e progredindo no conhecimento a respeito d’Ele. Quem fica sempre esperando que um dia tal fato possa acontecer consigo, corre o risco de nunca o encontrar, uma vez que ele se manifesta no movimento de sair de nós mesmos e irmos ao encontro d’Ele, como fez Natanael.

Vinde e vede! Esta é a prerrogativa de quem está sempre em busca da verdadeira vida. Mais do que ver, é preciso enxergar. Alguns veem, mas não enxergam. O exercício do enxergar vai além do simples ato de ver. Ver com os olhos do coração. Sentir que Deus está em nós e também nos outros como nós. Pobres que acreditam nos pobres. Fracos apostando nos fracos, pois a nossa libertação não virá dos grandes centros, mas da força da “Nazaré” que há em cada um de nós. Na simplicidade e na humildade é que se encontram os maiores tesouros. Deus apostando nos fracos para deles fazer acontecer o seu Projeto de Amor. Quem é chamado e acredita sabe ser fiel. Fidelidade que acontece no seguimento, fazendo valer aquilo que nos dizia o filósofo Friedrich Nietzsche (1844-1900): “Só se pode alcançar um grande êxito quando nos mantemos fiéis a nós mesmos”. Vem ver!