Sábado da Quinta Semana do Tempo Comum. O segundo final de semana do mês de fevereiro, vem em clima de carnaval. Os blocos já estão nas ruas. Numa cidade pequena como São Félix do Araguaia (16 mil habitantes), o barulho é considerável. Só que aqui, os “carnavalescos” esqueceram-se de convidar o velho São Pedro para a festa, que acabou jogando água na cerveja da moçada. Neste período do ano, são normais as chuvas por aqui. O que não é normal é este clima fresquinho, atípico para a nossa região. A natureza está mudada e estamos perdendo a corrida para as mudanças climáticas.

Mudança que atingiu a Capital Federal. Dentre outros, quem pagou a conta nesta semana foi a Universidade de Brasília (UnB). As fortes chuvas desta sexta feira (09) alagaram todo o subsolo daquela Instituição Federal de Ensino Superior brasileira. Vários equipamentos eletrônicos foram arrastados pelas águas, completamente destruídos. Salas inteiras foram tomadas pela força da água. O temporal provocou alagamentos em diversos pontos da Asa Norte de Brasília, deixando vários automóveis submersos. Além das ruas alagadas, moradores da região reclamaram também da falta de energia elétrica em suas residências.

No campo eclesial, estamos hoje celebrando a Festa de Santa Escolástica (490 d.C.-543 d.C.) A italiana Escolástica, era irmã gêmea do grande São Bento, pai do monaquismo. Ao nascerem estes dois irmãos, a mãe perdeu a vida no parto. Tudo indica que ela tenha iniciado a vida religiosa consagrada a Deus antes de seu irmão São Bento. Determinada que era, no seguimento de Jesus de Nazaré, costumava dizer diante de Jesus na cruz: “Um simples olhar sobre a imagem do Crucificado tira-me toda a aflição e suaviza-me o sofrimento”. Santa Escolástica é a padroeira das monjas. Com ela, possamos viver mais plenamente uma de suas máximas: “Quem ama mais pode mais”.

“Tenho compaixão dessa multidão, porque já faz três dias que está comigo e não têm nada para comer”. (Mc 8,2) Jesus, o Filho da compaixão e age pela misericórdia e compaixão. Mais uma vez estamos diante de um dos milagres realizados por Ele. É a segunda vez que Jesus realiza a multiplicação dos pães no Evangelho de Marcos. Aliás, também os outros evangelistas fazem este registro: Jo 6, 1-12; Mt 14,13-21; Mt 15,32-39). Em todos eles, não se trata de uma fé mágica, supersticiosa, mas a manifestação do poder divino de Jesus. A presença de Deus n’Ele, faz com que realize os sinais de Deus, trazendo o Reino para perto de nós.

Os milagres realizados por Jesus não foram fruto de técnicas, ou da atuação de demónios ou anjos, como se Ele fosse um mago, mas como o resultado do poder sobrenatural transcendental de Deus, por meio do Espírito de Deus. Em Jesus se manifesta aquilo que na teologia chamamos de poder Taumaturgo. Ou seja, taumaturgo é aquela pessoa que é considerada capaz de realizar milagres, ou feitos extraordinários através de poderes sobrenaturais ou divinos. O termo “taumaturgo” é de origem grega, “tauma” quer dizer “maravilha” e “ergon” significa “trabalho” ou “ação”. Desta forma, um taumaturgo é alguém que realiza maravilhas ou feitos notáveis através de suas ações, movida pelo poder divino.

O texto de Marcos que hoje estamos refletindo (Mc 8,1-10) precisa ser analisado sob a perspectiva teológica, uma vez que a cena ocorre numa região desértica e este lugar era considerado teologicamente como “lugar de purificação”. Com o coração cheio de amorosidade, Jesus sente compaixão de uma enorme multidão faminta. Como bom pastor que é, resolve saciar a fome daquela gente pobre, numa região onde predominava o paganismo. Com sete pães e alguns peixinhos, o Mestre faz com que toda uma multidão se alimente e fique saciada. Bem que os discípulos tentam dissuadir Jesus da ideia. Não aqui, mas no texto de Mateus, Jesus foi mais incisivo, transferindo-lhes a responsabilidade: “Dai-lhes vós mesmos de comer”. (Mt 14,16)

O número sete é simbólico para a tradição judaica. Na Bíblia, ele nos remete a ideia de totalidade, interação, conclusão, perfeição e consumação. O peixe é também um dos símbolos do cristianismo, não pelo fato de Jesus ter multiplicado os peixes, mas porque, nas primeiras comunidades, na época em que os cristãos eram fortemente perseguidos e mortos, eles usavam uma frase em grego para identificarem-se: “Iesus Christus Theou Yicus Soter”, (“Jesus Cristo, de Deus o Filho Salvador”). A junção destas letras forma a palavra “ICHTHYUS”, que significa peixe. Quando um destes cristãos encontrava-se com outro da mesma caminhada, ambos desenhavam no chão um vértice do arco, sendo assim complementado pelo outro cristão. O peixe era o símbolo da resistência. O texto de hoje nos ajuda entender que todos e todas somos convidados para fazer parte deste banquete: formar uma nova sociedade, constituída por todos e não apenas por alguns poucos privilegiados.