Sábado da Vigésima Quinta Semana do Tempo Comum. Setembro dando o seu adeus. A um passo do paraíso, aponta o mês missionário por excelência. De Bíblia na mão, o abrir do coração para acolher a palavra de salvação. Deus falando a seu povo, desde os primórdios do Antigo Testamento, quando ouviu atentamente o clamor deste povo de quando escravizado no Egito: “Eu vi a aflição do meu povo que está no Egito. Ouvi o seu clamor contra seus opressores, e conheço os seus sofrimentos. Por isso, desci para libertá-lo do poder dos egípcios e para fazê-lo subir dessa terra para uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel”. (Ex 3,7-8). Deus se alia à causa do povo sofrido ao longo da história, objetivando à sua libertação.

Dia 30 de setembro é uma data especial para a Igreja Católica. Celebramos hoje a memória de São Jerônimo (340-420), presbítero e doutor da Igreja. De família rica, culta e cristã da Dalmácia (hoje Croácia), Jerônimo era um homem de mente privilegiada, dedicando-se aos estudos, com os melhores mestres da época. Assumiu a radicalidade evangélica e, a exemplo de João Batista, procurou o deserto como lugar teológico para construir a sua espiritualidade. Foi a partir dali que resolveu dedicar-se ao estudo da Palavra de Deus, para transmitir o cristianismo em sua máxima fidelidade, ao maior número de pessoas passível. Ficou conhecido como escritor, filósofo, teólogo, retórico, gramático, dialético, historiador, exegeta e doutor da Igreja.

Estudioso que era e, como dominava bem o hebraico e o grego, em virtude de seus abnegados estudos, conheceu a Bíblia a partir de dentro, nas suas línguas originais. Sua fama se espalhou, chegando até Roma. Foi por isso que o Papa Damaso (37º Papa da Igreja Católica), o chamou e lhe deu a missão de traduzir a Bíblia para o Latim, a língua do povo. Esta sua tradução foi chamada de Vulgata, ou seja, popular. O pontífice queria uma tradução mais fiel possível do hebraico e do grego para o latim, e que, ao mesmo tempo, o povo pudesse compreender na sua linguagem comum. Por causa disso é que temos hoje a Bíblia traduzida para o Português e várias outras línguas. Todas estas traduções vieram da Tradução Popular de São Jerônimo. Com a Bíblia na mão, a Palavra no coração e os pés fincados no chão!

Um homem que conheceu a Palavra como ninguém e a viveu na sua radicalidade. São Jerônimo morreu com quase 80 anos, no dia 30 de setembro do ano 420. A Igreja lhe deu o título de Padroeiro dos estudos bíblicos, dos exegetas, que são aquelas pessoas estudiosas da Bíblia. O dia da Bíblia foi colocado no dia de sua morte. Uma de suas frases relacionada à Bíblia ficou bastante conhecida: “Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus, e quem ignora as Escrituras, ignora o poder e a sabedoria de Deus; portanto, ignorar as Escrituras Sagradas é ignorar a Cristo”.

Palavra de Deus que nos fala hoje, apontando o caminho que devemos seguir, para sermos fieis ao Projeto de Deus. O exto de hoje nos conclama a conhecer mais de perto o caminho de Jesus. A liturgia deste sábado da 25ª semana do tempo comum nos apresenta a cena onde Jesus fala com seus discípulos, apresentando-lhes o caminho da cruz, de sua perseguição, condenação e morte: Paixão Morte e Ressurreição. Os discípulos, não compreendem que tal missão passasse pela vida de Jesus. Era-lhes inadmissível que o Mestre deles, tivesse um fim tão trágico e ficam confusos. Não compreendem o caminho da cruz como caminho de redenção.

Não é esta a primeira vez que Jesus faz o anúncio de sua paixão. Ele já tinha feito isso antes, quando teve que afastar Pedro, colocado como obstáculo: “Fique longe de mim, Satanás! Você é uma pedra de tropeço para mim, porque não pensa as coisas de Deus, mas as coisas dos homens!” (Mt 16,23) Assim como Pedro, os demais discípulos tinham também uma ideia errada a respeito de Jesus, vendo-o como um Messias triunfalista e nacionalista, ignorando que Jesus sofrerá e morrerá na mão das autoridades do seu tempo. Não nos esqueçamos de que Jesus foi denunciado pelas autoridades religiosas de seu tempo, num conluio com os romanos.

Não existe cristianismo sem cruz! A cruz faz parte do itinerário de coerência daqueles e daquelas que abraçam as causas do Reino. Jesus não engana ninguém! Ao contrário, diz aos que desejam fazer o mesmo percurso d’Ele: “Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu. Do mesmo modo perseguiram os profetas que vieram antes de vocês”. (Mt 5,11-12) A comunidade cristã é a casa daqueles que acreditam em Jesus como a fonte da fraternidade entre todas as pessoas. O caminho da cruz proclama a libertação e não o conformismo ou a alienação. A vinda do Reino chegando até nós através da palavra e ação de Jesus. Estas tornam presente no mundo a justiça do próprio Deus. Justiça para aqueles que são inúteis ou incômodos para uma estrutura de sociedade baseada na riqueza que explora e no poder que oprime.