Sexta feira da Segunda Semana da Páscoa. Seguimos na trilha para o encontro com o Espírito Santo em Pentecostes. As três Pessoas se fundindo na Trindade Santa: Pai, Filho e Espírito Santo, a comunidade perfeita. Entretanto, os passos de agora nos levam a contemplar e manter viva a esperança do Senhor Ressuscitado. Cada um destes dias que estamos caminhando, reforça em nós o esperançar de Deus, mostrando-nos que a morte não tem a palavra final, e nem é o término de tudo, mas o princípio da vida nova. Jesus não está pregado na cruz, mas é o Filho vivo do Pai que está no meio de nós: Deus conosco – Emanuel.

Sextei madrugando às margens do Araguaia. Um mar de água correndo rio abaixo. Cheio como que, depois das últimas chuvas, cumprindo a sua missão de ser o celeiro de peixes para as populações ribeirinhas. O sol se encarregou de trazer-nos a beleza desta manhã, colorindo e emoldurando de dourado, com o seu reflexo nas águas. Uma verdadeira obra de arte, assinada pelo Deus da criação. Depois de várias manhãs sem aparecer, o astro rei hoje, não se intimidou, se fazendo imponente, mostrando a que veio, acalorando nossos corpos. Para nós, ele funciona como um espelho natural, refletindo a luz de Deus sem si. Rezei agradecido a Deus pelo dom da vida e também por me sentir filho do Araguaia. Sejamos como os raios do sol, irradiando luz e vida a todos quantos esta luz possa chegar.

Meu coração segue embalado pela alegria de viver na terra que Pedro pisou, e fez história, como fiel seguidor das pegadas de Jesus de Nazaré. Ele me inspira, não somente pelo seu jeito evangélico de ser, mas pelos seus escritos proféticos, que moldaram a minha Cristologia, inspirando-me nas causas que abracei como projeto de vida. Seu legado se faz presente no meio de nós, na medida em que vamos esforçando para viver aquilo que ele acreditou e deu a sua vida como Igreja Povo de Deus. Uma caminhada que não se esgota em si mesma, mas como nosso bispo mesmo nos dizia: “a esperança só se justifica naqueles que caminham”.

Esperança com Jesus, presente em nossa caminhada, como a liturgia desta sexta feira nos apresenta, através do Evangelho Joanino. A cena de hoje é bastante conhecida de todos nós: “a multiplicação dos pães”. Aliás, os quatro evangelhos apresentam a narrativa da multiplicação dos pães, realizada por Jesus (Mt 14,13-21; 15,32-39; Mc 6,30-44; 8,1-10; Lc 9,10-17; Jo 6,1-71). Esta é uma das ações realizadas por Jesus, que impactou a multidão que o acompanha naquele contexto, e também as primeiras comunidades cristãs. As pessoas ali presentes ficaram tão comovidas e admiradas, diante do pão que alimentou a sua fome, que quiseram proclamá-lo rei.

A fome era uma realidade cruel no tempo de Jesus. Tanto que o Mestre olha para aquela realidade e se comove, buscando solução para saciar aos famintos. Todavia, esta não foi a mesma atitude dos discípulos de Jesus, numa tentativa de eximirem da responsabilidade, propuseram que se dispensasse aquela turba para que fossem buscar alimentos por conta própria. Diante desta atitude irresponsável, do grupo de Jesus, Ele foi incisivo: “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16) Jesus sabe da sua missão de ser fiel a Deus servindo ao seu povo. Reúne e alimenta as multidões sofredoras, realizando os sinais de um novo modo de vida e de anúncio do Reino. Ele se fazendo Eucaristia, Pão que alimenta a fome, sacramento-memória viva de sua presença na comunidade. Os discípulos demoram em entender, mas acabam cedendo diante do mistério da partilha. Quando todos partilham, o alimento é garantido e ainda sobra.

O evangelista São João situa o milagre da partilha do pão e do peixe próximo de Tiberíades: “Então chegaram outras barcas de Tiberíades, perto do lugar onde eles tinham comido o pão, depois que o Senhor agradeceu a Deus”. (Jo 6,23). Jesus sempre se colocou ao lado dos empobrecidos. Na verdade, a multidão procura Jesus, porque deseja continuar na situação de abundância, de ter o que comer. Entretanto, Ele mostra que essa não é a solução adequada, pois é preciso buscar a vida plena, mas isso exige o empenho de todos. Além do alimento que sustenta a vida material, é necessária a adesão pessoal a Jesus para que essa vida se torne definitiva. Lembro-me da vez em que perguntaram à Madre Teresa de Calcutá se ela tinha feito a opção pelos pobres e, prontamente, ela respondeu que não. A sua opção tinha sido por Jesus e Ele é que a havia enviado aos pobres. Madre Teresa entendeu muito bem que Jesus nos propõe a missão de ser sinal do amor cuidadoso e generoso de Deus, assegurando à todos, sobretudo aos empobrecidos, a possibilidade de subsistência e dignidade para o bem viver. É na comunidade que vamos descobrindo o dom de servir, no desprendimento do partilhar o pouco que somos e temos. Partir e repartir o pão é missão de todo cristão!