Segunda feira da Quarta Semana da Páscoa. Mais quatro outras semanas e já estaremos dentro da grande Festa de Pentecostes. A semana iniciando mais uma vez em clima pascal, pois o Cristo Ressuscitado é presença viva em nossa história. Celebrar liturgicamente neste contexto, é como se vivêssemos a cada dia com Jesus ressuscitado em nós, fazendo e acontecendo em nossas vidas. Em Jesus, Deus mostra que a morte não é o fim, mas o princípio de tudo, pois viveremos nos braços do Pai que muito nos ama e quer que tenhamos a plenitude da vida (Jo 10,10). Que a Ressurreição de Cristo nos inspire a superar os desafios e a renovar nossa fé e esperança no futuro.

Esperança que renasce nesta semana com os povos indígenas presentes na Capital Federal. De 22 a 26 de abril, estará acontecendo em Brasília/DF, a 20º edição do Acampamento Terra Livre (ATL). Esta é a principal mobilização dos povos indígenas do Brasil, reunindo milhares de participantes. O lema para este ano é “Nosso marco é ancestral, sempre estivemos aqui“, encabeçando a luta contra o Marco Temporal, que é a tese absurda, de que os povos indígenas somente teriam direito à demarcação de suas terras que estavam ocupadas por eles na data da promulgação da Constituição Federal, em 5 de outubro de 1988. Como eu gostaria de ali estar com eles.

Como vemos, uma aberração jurídica que, apesar do Supremo Tribunal Federal (STF) ter julgado o Marco Temporal inconstitucional, os nada “nobres” deputados, fizeram o favor de inserir na legislação brasileira, por meio de um projeto de lei, aprovado pelo Congresso Nacional. Embora o Presidente da República tê-lo vetado, os congressistas mantiveram-no derrubando o veto presidencial. Certo é que, depois que este tal projeto de lei foi implantado, diversos fazendeiros seguem ameaçando os indígenas nas aldeias, dizendo que os dias deles estão contados sobre aquele território, que ocupam, desde antes da chegada do colonizador invasor. Daqui seguimos na nossa luta e a palavra de ordem é esta: Demarcação já!

Se ontem foi o Domingo do Bom Pastor, seguimos nesta segunda feira na mesma toada, com Jesus contando uma parábola aos fariseus e não aos judeus de maneira geral. Ao se colocar como o pastor que dá a vida pelas suas ovelhas, Ele está fazendo uma crítica contumaz aos dirigentes religiosos de Jerusalém, que usavam a religião para oprimir e explorar os pobres, virando as costas para as necessidades reais da população que sofria em suas mãos. No dizer de Jesus, os fariseus são os pastores que não entraram pela porta que Ele é como representante enviado de Deus para libertar os seus. Aqueles dirigentes religiosos são, portanto, ladrões e salteadores. Jesus é o único pastor, que entra pela porta, que é a própria porta do redil. Lembrando que o termo bíblico redil, ou aprisco, é uma grande cerca, construída com paredes de pedra, onde os rebanhos de ovelhas ficavam protegidos durante a noite.

Jesus é o verdadeiro e legítimo pastor, porque está preocupado com as ovelhas. Ao encarnar-se em nossa realidade humana, veio para servir, e não para ser servido, como Ele mesmo disse: “O Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir, e para dar a sua vida em resgate de muitos”. (Mt 20,28) Ele nos conhece por dentro e sabe quem nós somos, de fato. Como Deus, Ele têm um sentimento de amorosidade para com os pequenos, dando por eles a sua vida na gratuidade de quem muito ama. Na condição de Bom Pastor que não procura dominar e nem exige renúncia a nossa dignidade humana. Ele é o pastor que apenas pede de cada um de nós que tenhamos confiança n’Ele, para alcançarmos a meta de estarmos com Ele na glória do Pai.

Segundo a concepção de Jesus, as autoridades religiosas do Templo, não eram legítimas, porque se baseavam numa interpretação da Lei que esmagava o povo em vez de o libertá-lo. Os dirigentes buscavam o seu próprio interesse e não o do povo. Tanto que Jesus até aconselha os seus dizendo: “Por isso, vocês devem fazer e observar tudo o que eles dizem. Mas não imitem suas ações, pois eles falam e não praticam. Amarram pesados fardos e os colocam no ombro dos outros, mas eles mesmos não estão dispostos a movê-los, nem sequer com um dedo”. (Mt 23,3-4) Jesus mostra que sua mensagem é incompatível com qualquer instituição opressora, e que sua missão é conduzir para fora da influência dela, os que nele acreditam, a fim de formar uma comunidade que possa ter vida plena e liberdade. Jesus é o pastor plenamente solidário com as suas ovelhas, a ponto de dar a vida por elas. Que possamos entrar por esta porta que é Jesus e sermos assim como Ele é, cheio de amor pra dar!