Terça feira da Segunda Semana da Páscoa. Dia 9 de abril. Estamos atravessando o 100º dia do ano de nosso calendário gregoriano, deste ano bissexto. Mais 266 dias, cairemos dentro do ano de 2025. O período litúrgico é ainda dominado pela Páscoa do Ressuscitado. O Clima é pascal, com as aparições de Jesus aos seus, devolvendo-lhes a esperança. Mais outros quarenta dias, estaremos celebrando a Festa de Pentecostes, que é a vinda do Espírito Santo sobre os apóstolos. Para o nosso bispo Pedro, uma das ocasiões de pentecostes para a nossa Igreja da América Latina foi a conferência de Medellín, traduzindo para nós as diretrizes firmadas no Concílio Vaticano II (1962-1965).

Igreja pobre, com os pobres e para os pobres. Esta é a realidade de nossa Igreja latino americana, que as Conferências Episcopais de Medellín (1968), Puebla (1979), Santo Domingos (1992) e Aparecida (2007), firmaram o compromisso de seguir os passos de Jesus de Nazaré, como Igreja Povo de Deus, na caminhada das Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). Documentos estes muito importantes para a história de nossa Igreja e que, certamente não estão nas estantes dos “padres midiáticos”, dos padres mais jovens, ou não foram estudados por estes, já que vivem alheios à realidade de pobreza e exploração em nosso continente. Os embatinados e adeptos das vestimentas douradas ignoram por completo o sofrimento dos empobrecidos e sua luta pela sobrevivência.

Seguindo a orientação do Concilio, Medellín faz a opção pelos pobres. A pobreza ofende a dignidade da pessoa humana. Esta pobreza deve ser combatida e superada. É uma afronta ao sonho de Deus na criação, já que fomos pensados por Ele, para sermos felizes e termos a vida em sua plenitude. Somos todos e todas convidados/as a colocar toda a nossa confiança em Deus, buscando em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e sermos desapegados, administrando a vida e os bens de acordo com a vontade de Deus. Todos os cristãos, devemos buscar uma vida simples, austera, livre do consumismo e solidária com os empobrecidos, lutando pela justiça social e praticando a partilha dos bens. O nosso desafio é o de superar a triste situação denunciada por uma das conclusões de Puebla: “Há ricos cada vez mais ricos, às custas de pobres cada vez mais pobres”.

A liturgia desta terça feira não nos traz as aparições de Jesus aos seus, como vínhamos refletindo anteriormente. No dia de hoje, o evangelista João nos apresenta um dos diálogos de Jesus com Nicodemos. Nicodemos é um personagem bíblico, que pertencia ao grupo dos judeus, chamado de fariseus. Ao contrário dos fariseus, que não acreditavam que Jesus Cristo tivesse sido enviado por Deus, Nicodemos acreditava em Jesus, por causa dos milagres que Ele fazia. Nicodemos fazia parte do Sinédrio, que era uma associação de juízes judeus, onde ali, defendeu Jesus diante de seus pares. Foi também ele, uma das pessoas que auxiliou no sepultamento de Jesus, juntamente com José de Arimateia.

“Vós deveis nascer do alto”. (Jo 3,7) Um diálogo entre Jesus e Nicodemos que se transforma num monólogo, com Jesus tentando convencer o seu interlocutor a ter uma visão diferenciada. É como se fosse uma profissão de fé usada na comunidade joânica, que contém uma síntese da história da salvação. Jesus de Nazaré é o Filho do homem descido do céu, o único capaz de revelar o amor total de Deus pelas pessoas, como de fato assim aconteceu na sua morte e ressurreição: “ninguém subiu ao céu, a não ser aquele que desceu do céu, o Filho do Homem”. (Jo 3,13) Para o evangelista João, Jesus é o enviado de Deus, aquele que revela o Pai às pessoas. Deus nos ama tanto e quer dar-nos a vida. Jesus revela esse amor e realiza a vontade do Pai, dando sua vida em favor da humanidade.

É preciso nascer de novo. Nicodemos demorou para compreender esta dinâmica da salvação. Esta é a compreensão que devemos ter diante do seguimento da propostra de Jesus. João insiste na importância da fé: para compreendermos a grande revelação da transformação pascal. Há que crescer na fé. Há que acreditar em Jesus, o Cristo ressuscitado, ainda que não tenhamos subido ao céu para compreendermos tamanho mistério. Ele, que desceu do céu (v. 13), é capaz de anunciar a realidade do Espírito, e é capaz de estabelecer a verdadeira relação nossa com Deus. Só Jesus é o caminho da presença de Deus em nós. Por isso que não tem cristianismo sem o caminho do calvário e sem a cruz, “para que todos os que n’Ele crerem tenham a vida eterna”. (Jo3,15) Ter fé e acreditar em Jesus não é só admirar o que ele diz e faz. É entrega para o compromisso total com Ele, exigindo de nós uma transformação profunda, que significa um novo nascimento. Nascer de novo. Renascer é acreditar e perder o medo e o receio de querer mudar.