Sexta feira da Terceira Semana do Tempo Comum. Janeiro “sextando” pela última vez. Uma sexta, em que São Pedro resolveu abrir as “torneiras do céu”. Uma forte chuva nos acompanha desde as primeiras horas da madrugada. Todos agradecemos a Deus pela chuva, sobretudo o Araguaia que recebe festivamente as águas em seu leito. Benvinda chuva, já que hoje comemoramos o Dia Mundial da Educação Ambiental. Data instituída pelas Nações Unidas, em 1975, com o objetivo de fomentar uma maior sensibilização sobre a necessidade de proteger o Meio Ambiente, por meio da educação. Falar de Meio Ambiente nos remete à Chico Mendes que dizia: “No começo pensei que estivesse lutando para salvar seringueiras, depois pensei que estava lutando para salvar a Floresta Amazônica. Agora, percebo que estou lutando pela humanidade”.

Salve Chico e salve também Timóteo e Tito! A Liturgia de hoje nos traz a Memória destes dois Santos, ambos bispos da Igreja, colaboradores diretos do Apóstolo dos Gentios: Paulo, de quem falamos ontem. Timóteo nasceu em Listra, próximo de Tarso. Tito, de família grega ainda pagã, foi convertido por São Paulo em uma das suas viagens apostólicas. São Timóteo era bispo de Éfeso. São Tito, bispo de Creta. Dois santos e um amigo em comum: São Paulo. Ambos, apóstolos da generosidade, dedicando suas vidas à Igreja do Caminho. Segundo a tradição, São Paulo escreveu duas Cartas a Timóteo e uma a Tito. São as duas únicas Cartas do Novo Testamento enviadas a pessoas e não à comunidade.

No primeiro século do cristianismo, no berço nascedouro da igreja primitiva, os primeiros cristãos, eram conhecidos como “os do Caminho”. Toda a ação desenvolvida por eles era na caminhada, cumprindo assim uma jornada. Foram peregrinos e, com seu estilo de vida simples e austera, anunciavam a Boa Nova do Evangelho, um novo estilo de vida, como um renascer, um modo de vida na contramão de sua cultura e da sociedade daquela época. Acreditavam na possibilidade de outro mundo melhor. Com os ensinamentos de Jesus, sua prédica e prática, adquiriram raízes e eram fieis até a morte, raízes que os mantiveram firmes nas adversidades próprias do caminho. Muitos deram a vida pela causa de Jesus. Corajosamente viviam a Palavra, os ensinamentos d’Ele, e o Projeto de Deus se fazia conhecido através deles.

No dia de hoje, pedimos licença ao evangelista Marcos, para meditar, rezar e caminhar com outro evangelista sinótico: Lucas. Falando em caminho, diferentemente de Marcos, Lucas apresenta o caminho de Jesus. Caminho este que inicia na periferia (Galileia) e tem o seu encerramento no centro do poder religioso e político (Jerusalém). Esta cidade é o ponto de chegada do Caminho de Jesus. Ali Ele vai ser torturado, morto e ressuscitar, subindo ao céu, terminando a sua missão. É também o ponto de partida do caminho da Igreja que ressurge e prossegue a missão de Jesus até os confins da terra, trazendo para dentro da história humana o projeto de salvação que Deus tinha revelado, conforme a promessa feita no Antigo Testamento.

O texto de Lucas inicia afirmando que: “O Senhor escolheu outros setenta e dois discípulos e os enviou dois a dois, na sua frente, a toda cidade e lugar aonde Ele próprio devia ir”. (Lc 10,1) Ou seja, Jesus envia um novo grupo: o dos 72 discípulos. E interessante observar que eles são enviados “na frente” de Jesus, como antecessores, como aqueles que preparariam para a chegada da Boa Nova do Reino de Deus. O número 72 é simbólico e indica a universalidade da missão. Segundo a tradição judaica, 72 é múltiplo de 12 para representar a totalidade do povo de Deus.

Discípulos da caminhada em missão! Tal missão, não é uma tarefa somente de alguns poucos privilegiados, escolhidos a dedo do grupo dos Doze, mas uma tarefa que cabe também e principalmente a todos os cristãos e cristãs, que fazem a sua adesão ao Projeto Messiânico de Jesus. Desta forma, a missão possui um caráter universal desde a sua origem e compreende a todos e todas. Pedagógica e estrategicamente, Jesus envia “dois a dois”, pois o anúncio do Evangelho não é uma tarefa pessoal/individual, mas de toda uma comunidade que crê. Caminhando lado-a-lado, “dois a dois” também quer nos mostrar a credibilidade do testemunho, além do fato do encorajamento que um pode dar ao outro, diante das dificuldades, incertezas e obstáculos.

A estratégia de Jesus é certeira. Os discípulos são organizados para anunciarem a Boa Notícia no caminho e começarem a realizar os atos que concretizam o Reino querido por Deus. A sobriedade é algo inerente à vida do discipulado. Nada de levar muita coisa, quinquilharias, as quais, acabamos nos apegando mais a elas que à mensagem de Jesus. Nada de sacolas, bolsas, casulas, sobrepeliz, barretes, rendas e um monte de “arreios”, que estamos acostumados a ver hoje, nos corpos dos padres mais jovens, nas celebrações, destoadas da “Igreja do Caminho”. Certamente, quem adere a estes penduricalhos, não entendeu nada da dica de Jesus, ou não quer mesmo fazer parte deste grupo dos “72”.