Quarta feira da Quinta Semana da Quaresma. 20 de março, uma data importante, se olharmos sob a perspectiva da Astronomia. Hoje, dá-se o início do outono, ou mais precisamente, “equinócio do outono”. Segundo a Astronomia, “equinócio” é um fenômeno que acontece quando os raios solares incidem perpendicularmente sobre a Linha do Equador (paralelo de 0º), o que faz com que os hemisférios Norte e Sul recebam a mesma quantidade de iluminação solar. Esta é a estação do ano que vem depois do verão e antes do inverno. Tradicionalmente, apresenta clima mais ameno, com tendência para mudanças bruscas de temperatura. É nesta estação, que no meu quintal, as folhas caem em profusão, forrando todo o chão.

Rezei nesta manhã ainda muito cedo, contemplando a folhagem ainda verde de meu quintal, que daqui a alguns dias estará toda no chão. Como os indígenas, pensei nos nossos guardiões ancestrais, buscando absorver deles toda a sabedoria que nos legaram. Impossível não pensar em Pedro, e tudo aquilo que nos ensinou com a sua própria vida, dando um testemunho autêntico de seguidor das pegadas de Jesus de Nazaré. A fidelidade ao projeto de Jesus acontecia todos os dias, através de seu jeito simples e austero de viver, levando a sério aquilo que nos dizia: “Ser o que se é, falar o que se crê, crer no que se prega, viver o que se proclama até as ultimas consequências”. Com Pedro, esperançando aqui na busca do Reino.

Ancestralidade da qual fala Jesus no texto do Evangelho que a liturgia nos possibilita refletir no dia de hoje. Num dado momento do texto joanino, os judeus introduzem no dialogo que estão tendo com Jesus a figura do grande “pai de todos”: “Somos descendentes de Abraão, e nunca fomos escravos de ninguém”. (Jo 8,33) Ressaltando que Abraão foi o patriarca bíblico que atuou por volta de 1800 a. C., e que recebeu de Deus a grande missão de chefiar os povos semitas (hebreus, israelitas, judeus) na sua migração para Canaã, terra dos cananeus. Abraão era originário da cidade de Ur, dos Caldeus, no sul da Mesopotâmia. Era filho de Taré, descendente de Sem, filho de Noé. Falava com Deus frequentemente. Numa delas, expressa a sua total confiança n’Ele: “Senhor, se alcancei o seu favor, não passe junto ao seu servo sem fazer uma parada”. (Gn 18,3)

“Sai-te da tua terra, do meio de seus parentes e da casa de seu pai, e vá para a terra que lhe mostrarei. Eu farei de você um grande povo, e o abençoarei. Tornarei famoso o seu nome, de modo que se torne uma benção. Abençoarei os que abençoarem você e amaldiçoarei aqueles que o amaldiçoarem. Em você, todas as famílias da terra serão abençoadas”. (Gn 12,1-3) Esta foi a proposta que Deus fez a Abraão e ele acreditou e levou adiante com muita confiança. Quando os judeus dizem a Jesus que eles são descendentes do patriarca, eles têm a consciência de que a história de Abraão está diretamente relacionada à história de toda a humanidade, pois com ele, começa a surgir o embrião de um povo que terá a missão de trazer a bênção de Deus para todas as nações da terra.

“Se sois filhos de Abraão, praticai as obras de Abraão!” (Jo 8,39) Somos também nós, filhos e filhas de Abraão, mas também precisamos entender que somos filhos e filhas da Nova Aliança, que se inaugura com a vinda do Messias para o meio de nós. A promessa de Deus se cumpriu, com o Verbo Encarnado. Deus mesmo vem visitar o seu povo e fazer morada na pessoa do Filho, que se fez um de nós sendo Deus-conosco. O Divino de Deus, na pessoa do Filho, veio nos trazer a verdade que liberta e salva: “Se permanecerdes na minha palavra, sereis verdadeiramente meus discípulos, e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8, 31-32) A verdade que liberta é aceitar a vida nova trazida por Jesus, que joga por terra tudo aquilo que antes parecia absoluto: riqueza, poder, prestígio, regalias. Na compreensão de Jesus, a liberdade só é possível quando se rompe com a ordem injusta, que impede a experiência do amor de Deus, através do amor e da amizade entre as pessoas, que buscam uma vida mais humana e fraterna. (Amizade Social)

“Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. (Jo 8,32) Infelizmente, este seja, talvez, um dos versículos mais manipulados de todo o Novo Testamento. Pessoas que apropriam da letra deste texto do Evangelho de São João, para fazer as interpretações (hermenêuticas) mais absurdas, que já vimos no campo religioso. Ao se referirem ao texto bíblico, tais pessoas não colocam em evidência, esta verdade da qual se refere o texto que é a pessoa de Jesus, com sua palavra, que se traduz em ações concretas de libertação para os pobres e marginalizados. A verdade é Jesus! Conhecer Jesus é tornamo-nos seus seguidores e onde Ele estiver, lá também estaremos nós, levando adiante o seu projeto de libertação dos pequenos, pobres e marginalizados pelos sistema opressor que não suporta a verdade e quer matar Jesus ontem e hoje.