Sexta feira da Quarta Semana do Tempo Comum. Dia de festa para a comunidade católica e também para alguns membros das Religiões de Matriz Africana. Como temos entre nós um sincretismo religioso bastante forte e, aproveitado da força do macro ecumenismo, no dia 2 de fevereiro, ao mesmo tempo em que celebramos a Festa da Apresentação do Senhor, para os católicos, celebra-se também a Festa de Iemanjá. Ela que também é conhecida como “Rainha do Mar”, um orixá africano feminino, que faz parte da Religião do Candomblé e de outras religiões afro-brasileiras. É considerada padroeira dos pescadores, jangadeiros e marinheiros.

A Igreja Católica celebra neste dia, a Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo, ou também chamada de “Festa das Luzes”. Uma celebração que nos traz a memória do dia em que o Menino Jesus, no seu quadragésimo dia de vida, foi levado ao Templo de Jerusalém, por seus pais Maria e José, e apresentado aos sacerdotes e consagrado a Deus. Este ritual cumpria aquilo que já estava escrito no livro do Êxodo: “Consagre a mim todos os primogênitos, todo aquele que por primeiro sai do útero materno entre os filhos de Israel, tanto dos homens como dos animais: ele pertencerá a mim” (Ex 13,2) Ou seja, segundo o Pentateuco, o primeiro filho era o responsável pela descendência: consagrá-lo era reconhecer que Deus é o Senhor da vida e o responsável pela continuidade do seu povo.

A Festa da Apresentação do Senhor é também chamada de “Festa das Luzes”, porque o Menino Jesus é a luz que veio iluminar as trevas da escuridão do pecado, como o próprio Jesus, mais tarde, vai autodenominar-se: “Eu sou a luz do mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas possuirá a luz da vida!. (Jo 6,12). Ele se declara a luz do mundo, e convida as pessoas a segui-lo, renunciando às riquezas para servirem uns aos outros e, assim, testemunharem a presença de Deus no mundo.

Estamos, portanto, a quarenta dias depois do Natal. Liturgicamente, a festa de hoje fecha o ciclo das celebrações natalinas, encerrando as grandes festividades ligadas ao Natal, como por exemplo: a festa da Epifania e do Batismo do Senhor. De agora em diante, o foco principal da liturgia será a festa central do calendário cristão que é a Páscoa. Este mesmo menino, apresentado no Templo, entregará o seu corpo e se transformará, depois de sua Paixão, Morte e Ressurreição no Cristo vivo e será exaltando por Deus a mais alta posição. (Fp 2,9-11) Jesus que se apresenta à humanidade como simples homem. Abriu mão de qualquer privilégio, tornando-se apenas um homem que obedece a Deus e serve às pessoas.

Excepcionalmente no dia de hoje não estamos refletindo com o Evangelho de Marcos, como vínhamos fazendo até aqui. A liturgia do dia nos traz uma longa narrativa, escrita pela Comunidade Lucana. São 19 versículos, extraídos do capitulo 2 de Lucas, em que o evangelista, descreve desde a purificação da Mãe e do Filho, encarregando de nos mostrar o sentido da apresentação do primogênito dentro da cultura judaica da época. É importante que se saiba que, o texto não tem a preocupação de fazer uma narrativa histórica, mas teológica, conforme os estudiosos historiadores como o romano Flávio Josefo 37 (ou 38 d.C.) – 100 (63 anos), que é considerado o mais importante historiador da Antiguidade judaica.

O cristianismo nasce no berço do judaísmo. Como primogênito, filho de um casal de judeus da periferia de Nazaré, seguia todos os ensinamentos que receberam, advindos da Torá (livro sagrado do judaísmo). Eles eram fieis aos ensinamentos dos antigos. Ali estava escrito como determinação que, todo primogênito pertencia a Deus, e devia ser resgatado por meio de um sacrifício. Nessa ocasião, também se fazia a purificação da mãe, e se oferecia um cordeiro. Pobres como eram os pais de Jesus Maria e José, eles só podiam oferecer duas rolas ou dois pombinhos, em lugar do cordeiro, conforme esta escrito no Livro do Levítico (Lv 5,1-8).

Todo o contexto mostra a pobreza do casal e a origem de Jesus no seio desta família pobre de Nazaré, convivendo naquela realidade de empobrecimento e marginalização social. Jesus, o Messias nasce num lugar pobre, vem pobre, para os pobres. Um casal pobre, cumprindo um ritual dos pobres. Como não entender esta realidade de um Deus que, através de seu Filho, faz a sua opção pelos pobres como destinatários primeiros do Reino de Deus? Tem razão o Papa Francisco, quando diz claramente: “Estar do lado dos pobres é Evangelho, não comunismo”. Que sejamos como Jesus: pobre, com os pobres e para os pobres! Como Medellín (1968) e Puebla (1979), já nos orientaram como testemunho vivo da Igreja que quer ser de Jesus de Nazaré.