Vigésimo Nono Domingo do Tempo Comum. No mês missionário por excelência, celebramos hoje o Dia Mundial das Missões. Este já é o 97º Dia Mundial das Missões. O tema para este ano é: “Corações ardentes, pés ao caminho”, inspirado no evangelista São Lucas (Lc 24, 13-15), onde ele retrata a experiência dos discípulos de Emaús, ao encontrarem o Cristo Ressuscitado caminhando com eles e sentirem o seu coração ardendo em brasas. Neste mesmo espirito missionário, conclama-nos o Papa Francisco: “Saiamos também nós, iluminados pelo encontro com o Ressuscitado e animados pelo seu Espírito, com corações ardentes, olhos abertos, pés ao caminho, para fazer arder outros corações com a Palavra de Deus”.

Fé na caminhada! Pé na caminhada! Somos missionários pelo batismo que assumimos em nosso coração, fazendo arder a nossa fé na caminhada com Jesus. Ele é a nossa inspiração maior para darmos continuidade à sua missão, testemunhando pelas nossas ações a presença viva de Deus na nossa história. O amor divinal de Deus, presente na pessoa de seu Filho, nos possibilitou adentrar o campo do sagrado onde, pela Paixão Morte e Ressurreição, somos plenos de amor, ternura e compaixão, convidando todos e todas, a caminharmos juntos pelo caminho da paz e da salvação que Deus, em Cristo, deu à humanidade.

Um domingo em que a paz segue sendo ameaçada pelas armas da morte nas guerras. Corpos humanos, sonhos desfeitos, projetos de vida interrompidos pela estupidez de alguns poucos, que se sentem no direito de traçar os rumos da vida de outros seres humanos. O sonho de Deus sendo interrompido pela truculência dos corações desumanizados ou com baixa humanidade, nos fazendo lembrar da personagem Mafalda, criada pelo cartunista argentino Quino (1932-2020), que dizia: “O planeta ficou doente porque está com a humanidade baixa”. A ausência de paz é a doença que acomete os seres humanos mal amados. Quem quer e planeja a guerra, vive internamente as suas guerras interiores, de corações endurecidos: “Darei a vocês um coração novo e porei um espírito novo em vocês; tirarei de vocês o coração de pedra e, em troca, darei um coração de carne”. (Ez 36,26)

Coração de carne para continuarmos a nossa jornada com o pé e a fé na caminhada como fez Jesus no seu caminho à Jerusalém, apontado pelo texto da liturgia deste 29º Domingo do Tempo Comum. Ele que fora aclamado pelos pobres, pequenos, doentes e marginalizados, assim que pôs os seus pés em Jerusalém (Mt 21,1-9; Lc 19,28-38; Jo 12,12-15), desta vez, está nas dependências do templo. Foi ali naquele ambiente que Ele viveu os maiores conflitos com as autoridades judaicas, saduceus, fariseus, essênios, zelotes e herodianos, que formavam os principais partidos políticos e seitas religiosas daquela época. É bom lembrar que naquele contexto, a nação judaica não era homogênea. Pelo contrário, estava dividida em vários grupos e partidos com doutrinas, ideologias e tradições distintas, movidos por motivações políticas, ou religiosas.

O texto do Evangelho de hoje (Mt 22,15-21), que também aparece em Marcos e Lucas (Mc 12,13-17; Lc 20,20-26), cada qual com as suas especificidades, nos mostra Jesus sendo arguido pelos fariseus, que intencionavam coloca-lo em uma situação embaraçosa: pagar ou não pagar o tributo à César. Uma das controvérsias ou disputas dos fariseus com Jesus. Na verdade o que estava em disputa era a legitimidade ou não de se pagar os tributos ao Império Romano. Se Jesus dissesse que sim, estaria conivente com a dominação romana; se dissesse que não, estaria se contrapondo subversivamente ao poderio dos dominadores. Questão delicada.

Uma situação embaraçosa, mas que Jesus com toda a sua sabedoria, tira de letra: “Dai, pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”. (Mt 22,21) A moeda era de César, portanto, seria devolvida à ele, mas a Deus pertence o povo a quem Jesus veio trazer a vida em abundância. Ao não aceitar a provocação dos fariseus, discutindo a questão do imposto, Jesus lhes mostra que está mais preocupado com o povo: a moeda é de César, mas o povo é de Deus. É este povo que merece e deve ser cuidado, principalmente por aqueles que governam. “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro!” (Mt 6,24) Servir a Deus e a Mamom! Lembrando que, na Bíblia, Mamom, uma palavra em aramaico, significando “dinheiro”, “riqueza”. Jesus usou a palavra Mamom para mostrar como a riqueza pode se tornar a força maior de nossas vidas. O dinheiro escraviza, quando colocado acima de todos os demais valores. Ademais, Jesus condena a transformação do povo em mercadoria que enriquece e fortalece tanto a dominação interna como a estrangeira. “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males. Algumas pessoas, por cobiçarem o dinheiro, desviaram-se da fé e se atormentaram com muitos sofrimentos.” (1Tm 6,10)