Segunda feira da Segunda Semana do Tempo Comum.

Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

A semana começando e os que são da cultura popular e da Igreja da caminhada estão de luto com a páscoa do Frei Chico, ocorrida na manhã deste último sábado (14). Frei Francisco van der Poel, holandês de nascimento, naturalizado brasileiro, dedicou grande parte de sua vida à pesquisa e tradição cultural popular do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Homem de luta que nos deixou de luto, ocasionando uma grande perda para a Igreja povo de Deus.

Os meus pés já não pisam as terras mineiras do Norte de Minas. Voltar a torrão natal e conviver com os familiares, não tem preço. Depois de muito sacolejar, vendo Minas ficar para trás, desembarquei em Goiânia, com o vai e vem frenético de seus carros. Meu Araguaia está mais próximo do que dantes, me fazendo sonhar com os “banzeiros” típicos de suas águas, para a alegria dos poetas e suas rimas. “Araguaia, meu Araguaia, de mistério e de temor”.

Trago no peito as marcas da convivência feliz da família de sangue. Com os “janeiros” se fazendo presentes em nossa experiência de vida, vamos dando mais valor às pequenas coisas da vida, aprendendo a viver grandes momentos com quem sabe apreciar pequenos instantes. As histórias de vida nos ensinam que basta tão pouco para ser feliz e, muitas vezes se leva a vida inteira para alcançar esta sabedoria. Aprende que não importa o que os outros pensam e falam de você, pois este dito deles, não lhe diz respeito.

Caminhar na estradas da vida fazendo a história acontecer. Caminhar no caminho de Jesus, fazendo o Reino rejuvenescer. Caminhar com os irmãos da caminhada na busca incessante por outro mundo, onde as regras do amor, da justiça e solidariedade, se façam irmandade em nossa sociedade. Fazer da fé o instrumento revolucionário de transformação das relações de exploração, em relações fraternas de igualdade e bem viver entre todos, pois somos todos passageiros nesta Casa Comum.

Uma fé íntegra de coerência e não apenas de observância de leis, preceitos e normas. Uma fé que transcenda os aspectos das aparências de nossa sociedade, mas que vá no âmago da nossa essência enquanto ser que foi criado para viver na plenitude do sonho de Deus. Mas este ser profundo do estar com Jesus, não chegou ao entendimento daqueles que estavam preocupados com o fato de alguns não estarem cumprindo as observâncias do jejum e perguntam ao Mestre: “Por que os discípulos de João e os discípulos dos fariseus jejuam, e os teus discípulos não jejuam?” (Mc 2,18)

É bom que se saiba que, antes da vinda do Filho para o meio de nós, o jejum caracterizava aquele tempo de espera cheio de expectativa. Todavia, esse tempo terminou. Chegou a hora da festa do casamento entre Deus e a humanidade, isto é, da nova e alegre relação entre Deus e as pessoas. A atividade pública de Jesus mostra que a amorosidade de Deus vem para salvar o ser humano concreto e não para manter as velhas estruturas que massacra as pessoas..

Bem que o profeta Isaías nos alertou nos idos dos anos 740 e 701 a. C., quando escrevera sobre o jejum que agrada a Deus “Não é esse o jejum que eu quero. Eu quero que soltem aqueles que foram presos injustamente, que tirem de cima deles o peso que os faz sofrer, que ponham em liberdade os que estão sendo oprimidos, que acabem com todo tipo de escravidão”. (Is 58,6)

Mais do que uma fé de observância de dogmas, preceitos, somos desafiados a viver a fé sintonizada com as agruras da vida. Mais do que contemplar imagens gélidas nos templos, somos chamados a cuidar dos corpos quentes e ávidos de quem com eles possam descobrir novos horizontes de esperançamento. Que a Palavra de Deus se faça viva em nossos corações para que sejamos vida de esperança no coração do mundo.