O BRILHO DO ANEL NO CÉU.

Nelson Peixoto. Diretor de Liturgia da UNESER.

Em Julho deste ano pandêmico de 2021, publicara um flash historico da vida de um idoso. Ontem soube, com surpresa, de sua morte.
Neste Natal, ele já celebra com o Ressuscitado toda a Redenção que Santo Afonso resumia nas palavras plenas de sentido: Presépio, Cruz, Eucaristia, como eterna Gratidão e Memória Viva.

 

ELIZEU E SEU ANEL DE ESMERALDA.

Caminhava entre árvores e prédios, acreditando que cada vida que ali residia tinha uma história valiosa para contar. Meus vizinhos tiveram sonhos de um final feliz, mesmo que  o itinerário tenha se passado, entre sorrisos e lágrimas, perdas e achados, surpresas e ações medidas.

Voltando por onde já tinha andado, soube de uma vila chamada “Moisés”. Nome que me lembrava o líder libertário do Egito, quando Deus falou, através de um arvoredo ardente. Deus alertou que o encontraria outras vezes na natureza e na sua história de vida, dali para frente.

De repente, encontrei, na cadeira de rodas, um herói forte,  80 anos. Não consegui ouvi-lo bem para ser mais objetivo neste relato.

Pareceu-me uma curiosa história de vida. Escutei sua voz embargada, quando contou-me da morte de sua mãe, no Maranhão. Uma dor profunda e um ressentimento, por ter sido abandonado pelo padrasto.
Meu amigo resolveu  sair em busca da “terra prometida” para alcançar o consolo dos irmãos.
O drama de sua viagem, a pé, pelas estradinhas, peregrinando, sem parar , até desfalecer, tal era sua obstinação. Queria encontrar seus irmãos e isto era motivo para rodar o mundo.
Nessa primeira parte da viagem, quase a morrer, encontrou um “anjo” que lhe deu alimento e pousada. Voltou a acreditar que o abandono podia ser superado com o gesto daquela família que o acolheu por uns dias.
Como precisava prosseguir, seus “anjos” providenciaram uma lata com carne frita, colocada na banha para conservar. Também farinha para comer, até alcançar a cidade mais próxima. E assim, bem servido, despediu agradecido, e pôs o pé na estrada à procura dos irmãos.
Elizeu não os encontrou, nem constituiu família, vivendo sempre sozinho, mas como valente trabalhador.

Contou-me do seu ofício de líder de gente que desmatava a floresta. Sentia a dor das árvores que tombavam, mas pensava no bem que aproximariam as famílias quando se procuram. Seu trabalho foi sempre em equipe, pois antecipava o traçado da estrada para as máquinas entrarem, depois. Fez a picada de muitas delas no sul do Pará e do Mato Grosso. Enfim, veio trabalhar no Amazonas ,na BR 174 , que seguiria de Manaus para Boa Vista, RR.
Foi nessa temporada, mais perto de Manaus, que sofreu um AVC, numa noite quando estava só , no seu alojamento. Socorrido, chegou ao hospital em profundo estado de total paralisia e inconsciência.

Nesse estado crítico, à espera da morte, soube, sentiu e contou-me com grande satisfação, que médicos e enfermeiras, dedicaram-se muito pela sua recuperação. E assim se fez a nova vida.
Sem parentes, e sem ter encontrado seus irmãos de sangue, sentiu-se abençoado pelo desconhecido que lhe deu pousada e alimento, encontrou companheiros de trabalho no corte das estradas, e enfim, os cuidadores de sua saúde no hospital. Recuperado e em cadeira de rodas, trouxeram -no para morar perto de mim, onde o encontrei e me contou, apenas , um raio de luz de sua heroica vida que seus anéis cintilaram.
Em seu dedo da mão que abria estradas, tem um anel com uma pedra esmeralda, incrustada num metal. É o símbolo da vida que levou com fé e com esperança de encontrar-se com Deus.

Assim aconteceu, às  vésperas do Natal de 2021.