Francisco (Chico) Machado. Missionário e escritor.

Vigésimo sexto domingo do tempo comum.
Domingo é o Dia do Senhor. Lembrando que a palavra “domingo” vem do latim “dies dominica”. Ou seja, é o dia senhoril ou dia do Senhor. O Senhor ressuscitado. Neste dia, os participantes da vida da comunidade têm a oportunidade de participar do memorial do senhorio do Cristo Ressuscitado. Evidentemente que todos os dias da semana são dias do Senhor, mas o primeiro dia da semana é o Domingo, porque foi neste dia que Jesus ressuscitou, vencendo o poder da morte, se tornando o Deus Salvador e o Senhor da vida. Como diz a Sacrosanctum Concilium, no Concílio Vaticano II, o Domingo é o dia da festa primordial, a Páscoa de Cristo. Páscoa da vida nova.

Setembro vive os seus últimos dias. Ainda é tempo de fazermos uma leitura mais aprofundada do Livro de Josué, proposto este ano pela Conferencia Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Livro este que é uma continuação dos cinco livros de Moisés (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio). É importante salientar que Josué descreve como o Senhor ajudou o povo de Israel a conquistar a Terra Prometida. Os dois últimos capítulos do livro (Capítulos 23 e 24) salienta a importância de servir ao Deus verdadeiro em vez dos falsos deuses (ídolos) cultuados na terra de Canaã. Em tempos de um falso culto a um “Deus acima de tudo”, a leitura do Livro de Josué nos ajuda a enfrentar esta realidade de cabeça erguida e desmistificar a ideia de um Deus distante e longínquo.

Nosso Deus é o Deus da vida que caminha conosco pelas estradas da vida: “Eis que eu estarei com vocês todos os dias, até o fim do mundo.” (Mt 28,20). Jesus está vivo e sempre presente no meio da comunidade. Desta forma, pelo batismo, todos somos chamados a participar desta comunidade, nos comprometendo a viver de acordo com o que Jesus ensinou e praticou: viver a justiça em favor dos pobres e marginalizados. Ser Igreja com Jesus é fazer esta experiência mais profunda de uma caminhada rumo ao submundo dos empobrecidos. Como bem nos lembra o salmo da liturgia deste domingo: “O Senhor é fiel para sempre,/faz justiça aos que são oprimidos;/ele dá alimento aos famintos,/é o Senhor quem liberta os cativos.” (Sl 145, 6-7)

Liturgia que também nos traz uma das parábolas contadas por Jesus. Ele que está tentando convencer os fariseus, coisa difícil de acontecer. Parábola bastante conhecida de todos nós: o rico e o pobre Lázaro. Um retrato fiel da realidade que vivenciamos nos dias de hoje, de uma sociedade constituída sobre a concentração exorbitante de renda, fruto da injustiça e da desigualdade social. Realidades distintas de quem vive na opulência e aqueles que passam extrema necessidade de emprego, moradia, comida na mesa, saúde de qualidade para os seus. Jesus vai ao cerne da questão e aponta que tal realidade não está de acordo com o Projeto do Reino, numa referência direta aquilo que está prescrito nas Bem Aventuranças (Mt 5,1-12).

O Evangelho deste domingo é consoante aquilo que na Conferência Episcopal de Medellín, a Igreja Latino americana contemplou a opção preferencial pelos pobres como um dos princípios já contidos na Doutrina Social da Igreja. (DSI). A opção pelos pobres é um aspecto central da Doutrina Social da Igreja, uma vez que, falar da questão social significa falar dos pobres e das injustiças sociais. Nesse sentido, a Doutrina Social tem como objetivo primeiro a defesa dos pobres, conforme está previsto no documento do Papa João XXIII, Mater et Magistra, n.17;18.

A nossa não pode ser a religião da indiferença. Apesar de possivelmente não vermos nas nossas celebrações midiáticas uma interpretação, fazendo uso de uma hermenêutica libertadora nas reflexões homiléticas, certo é que a parábola contada por Jesus é uma crítica direta à sociedade classista, onde o rico vive na concentração de renda, na abundância e no luxo, enquanto o pobre morre na miséria. A realidade do acúmulo e da concentração é a causa direta da criação de uma realidade de fome e miséria dos pobres. Como o texto bíblico mesmo diz, o problema é o isolamento e afastamento entre o rico e o pobre, mantendo um abismo de separação que o pobre não consegue transpor. Tal realidade não condiz com aquilo que Deus projetou para os seus. Desta forma, para romper com esse isolamento, segundo os critérios de Deus, é necessário a conversão do rico. Entretanto, nada o levará a essa conversão, se ele não for capaz de abrir o coração para a Palavra de Deus. Quiçá fazendo aquilo que propôs São Francisco de Assis: “Comece fazendo o que é necessário, depois o que é possível, e de repente você estará fazendo o impossível.”