Quarta feira da Vigésima Segunda Semana do Tempo Comum. Setembro vai dando o ar da graça, em meio à desgraça humana, provocada pelo fogo, seguindo veloz, levado pelas ondas do vento. Definitivamente, a Ilha do Bananal sumiu das nossas vistas. Uma densa fumaça cobre este pedaço de chão, que nos traz todas as manhãs o sol nascente. Nunca tinha visto esta área, cercada de água por todos os lados, agonizar assim. A estas alturas, centenas de espécies, já não existem mais, assim como os ninhos das aves, principalmente as araras azuis, que escolhem aquele local para promover a sua reprodução.
Assim como eu, várias pessoas estão passando mal nestes dias enfumaçados. Busca-se o ar e ele não vem, na sua forma mais pura como dantes. Uma dificuldade enorme para respirar. Está difícil ser otimista nestes dias turvos, a espera pela desejava chuva. Todavia, como diz o cantor e compositor Milton Nascimento: “É preciso ter força. É preciso ter raça. É preciso ter gana sempre… Quem traz na pele essa marca. Possui a estranha mania de ter fé na vida”. Precisamos nos deixar ser movidos pela força da esperança, de que vamos vencer a insanidade desumana irracional. No dia de hoje, somos desafiados a sorrir e celebrar, para que assim possamos refletir e projetar novos horizontes de perspectivas.
Deus se faz presente nas nossas vidas, na nossa história, mesmo nas maiores adversidades. “Eu Sou aquele que Sou” (Ex 3,14), que era e que vem, na pessoa do Filho amado do Pai. A onisciência transcendente divinal de Deus se fazendo onipresença no Verbo Encarnado, o Messias enviado: Emanuel = Deus conosco. Deus que não abandona os seus e nem deixa de estar com eles, desde os primeiros instantes da criação. Nestas horas de aflição e dor, recorremos às sábias palavras ditas pelo apóstolo Paulo: “Que o Deus da esperança encha vocês de completa alegria e paz na fé, para que vocês transbordem de esperança, pela força do Espírito Santo”. (Rom 15,13)
Quis rezar nesta manhã na presença do profeta dos pobres do Araguaia, mas fui demovido da ideia, já que a fumaça, apossou também daquele espaço sagrado. Contentei-me em estar e rezar na companhia da centena de pássaros, que buscou refúgio em meu quintal. Como eles, também iniciei o meu dia, buscando refúgio no Senhor, rezando com o salmista: “É melhor refugiar-se em Deus do que depositar confiança no homem”. (Sl 118,8) Com o espirito do filósofo, que eu sei que não sou, busquei a confiança, que desmascara as falsas seguranças. Assim, relembrando dos filósofos que um dia estudei mais a fundo, terminei a minha manhã de oração com as palavras do ateniense grego: “Sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância”. (Sócrates)
Entre a ignorância e a sabedoria, fiquemos como os ensinamentos de Jesus, Ele que ensina com a autoridade que vem de Deus. Assim, dando sequência ao texto do Evangelho de ontem, seguimos na mesma toada. Desta vez, saindo da sinagoga e se dirigindo à residência humilde das pessoas: “Jesus saiu da sinagoga e entrou na casa de Simão”. (Lc 4,38) A sogra do pescador, estava acometida de febre alta, e Jesus pôs-se a libertá-la daquela situação incomoda, sobretudo porque, para a tradição dos antigos, a febre era de origem demoníaca. Estar com febre era sinal de que estava possuído por um espírito demoníaco, assim como qualquer doença que fosse, estava associada ao pecado que aquela pessoa cometera, ou os seus antepassados.
Liberta da febre pela ação de Jesus, “imediatamente, ela se levantou e começou a servi-los”. (Lc 4,39) Libertos do demônio, as pessoas podem levantar-se e pôr-se em diaconia. Este é um termo grego traduzido na Bíblia como “servir”. A diaconia é realizada com palavras e ações, e dirige-se ao ser humano concreto, de acordo com as necessidades que cada um traz em si. A palavra “diaconia” é usada na Bíblia de três formas: como o verbo “servir” (diakoneo), como o substantivo “serviço” (diakonia) e como o substantivo “diácono” (diakono). Este serviço visa, antes de tudo, o desenvolvimento das pessoas, em todas as suas dimensões e aspectos: “Se alguém quer ser o primeiro, deverá ser o último, e ser aquele que serve a todos”. (Mc 9,35). Servir gratuitamente sem pretensões e interesses.
Jesus e sua missão evangelizadora! Assim como aquela mulher pôs-se a servir, somos permanentemente chamados a servir, a evangelizar. Evangelizar começando por nós mesmos, convertendo-nos às palavras e ensinamentos de Jesus. Evangelização tendo em vista um processo de enculturação da fé. Dar testemunho do Evangelho. Evangelização que busca o Reino de Deus em primeiro lugar. Evangelização que não se restringe ao espaço dos templos e das devoções sacramentais, no cumprimento de ritos, normas e dogmas, mas onde quer que vivamos: na família, no trabalho, na escola, na rua, “nas quebradas”. Somos os servidores e servidoras da Palavra, vivida primeiro em nós. Que neste mês da Bíblia, nos detenhamos mais à leitura e meditação da Palavra de Deus, tendo em mente aquilo que nos disse Santa Teresa do Menino Jesus: “Do Evangelho fiz o meu tesouro mais precioso”.
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