Sábado da 32ª Semana do Tempo Comum. Estamos atravessando o limiar do mês de novembro. O Tempo Litúrgico do Ciclo C, está chegando ao seu final. Dentro em breve, iniciaremos um novo Ano Litúrgico (A), quando então, nos debruçaremos sobre o Evangelho de Mateus. Exatamente este evangelista, que tem a especificidade de nos apresentar Jesus com o título de Emanuel, que significa: “Deus está conosco” (Mt 1,23). Entretanto, só vamos percebendo isto, à medida que lemos este Evangelho. Assim, vamos descobrindo a cada versículo, o significado desse título: Deus está presente em Jesus, comunicando a palavra e ação que libertam a nós e nos reúnem como novo povo de Deus.
Sábado em que, há 108 anos, nos despedíamos de um dos maiores intelectuais da história da humanidade. Estamos falando do judeu francês David Émile Durkheim (1858-1917). Sociólogo, antropólogo, cientista político, psicólogo social e filósofo. É considerado o pai da sociologia, inclusive, foi graças a ele, que a sociologia tornou-se uma disciplina acadêmica. A maior contribuição de Durkheim para a sociologia, foi a de incorporar a esta, os elementos como a pesquisa quantitativa para embasar os estudos. Graças ao meu professor de sociologia, Francisco Viana, no primeiro ano do curso, que pude conhecer melhor este sociólogo, através entre outros, dos estudos de dois livros básicos de sua autoria: “Regras do método sociológico”, publicada em 1895 e “O suicídio”, de 1897.
Estive ausente na “arte” de rabiscar, por motivos de trabalho aqui como Agente de Pastoral desta Prelazia. Várias pessoas fizeram a sua páscoa nestes dias por aqui. Graças a uma senhora que chegou a minha porta dia desses e perguntou: “é o senhor que é o padre dos defuntos?” Sou eu que faço a celebração das Exéquias, acompanho o sepultamento e também a “visita de cova”, como é o costume por aqui, ao sétimo dia de falecimento. Sigo uma das recomendações de nosso bispo Pedro que dizia: não há pastoral mais significativa do que esta de estar ao lado dos que sofrem a dor da partida de seus entes queridos. Aliás, ele sempre nos dizia que 80% da pastoral é concretizada na visita domiciliar as famílias, sobretudo as mais pobres. Algo que os padres mais jovens de hoje, não entenderam ainda, já que não saem de dentro de seus carros luxuosos, e das paredes do templo ou das casas paroquiais.
Por falar de nosso eterno pastor, me fiz orante hoje muito cedo em sua companhia, no espaço sagrado a beira do Araguaia. Rezei com ele no formato da oração teimosa resistente, eivada no caráter revolucionário de Jesus de Nazaré. Oração que é o tema central da liturgia deste sábado, quando Jesus recomenda a seus discípulos e àqueles e àquelas, que fazem a adesão pelo seu seguimento: Jesus contou aos discípulos uma parábola, para mostrar-lhes a necessidade de rezar sempre, e nunca desistir”. (Lc 18,1). Quem é de Jesus e com Ele, não desiste nunca, encontrando sempre na oração, uma arma poderosa para continuar na trincheira da luta diária, em favor da vida. É através da oração, que entramos em sintonia com o sagrado, buscando força para continuar inseridos no contexto da realidade em que vivemos a cada dia.
Não se trata de qualquer oração, até porque, rezar não significa apenas repetir um amontoado de palavras e chavões, mas ter a sensibilidade suficiente para escutar o que Deus tem a nos dizer a partir de sua palavra, contextualizada no momento sócio histórico da época, e também dos acontecimentos da vida que nos rodeiam. Rezar é pisar no chão batido da história, transformando as palavras de nossa oração em gestos concretos e ações que vamos realizando na defesa dos menos favorecidos. Nestas horas, recordo-me sempre das palavras da dona Maria, uma das líderes de uma das comunidades onde trabalhei. Dizia ela: “rezar é ter Deus com nós, nós com Deus; e nós com nós mesmos”. Simples assim!
No texto de Lucas de hoje, Jesus conta a historia da viúva que vivia que passou parte da vida, em busca de justiça, diante de um juiz injusto. Diante da persistência daquela mulher que não desistiu, o juiz acaba fazendo a justiça que ela tanto buscava. Assim devemos ser. Não desistir nunca e persistir sempre, em busca dos nossos sonhos e das nossas realizações. Em busca da justiça que queremos ver acontecer e, diante desta nossa insistência orante, teremos a certeza garantida pelo próprio Jesus: “Eu vos digo que Deus lhes fará justiça bem depressa”. (Lc 1,8a) Insistência e perseverança só existem naqueles que estão insatisfeitos e se indignam, com a situação presente e, por isso, não desanimam. Sem esta teimosia resistente, jamais conseguiriam alguma coisa. Deus atende àqueles que, através da oração, testemunham o desejo e a esperança de que se faça justiça.
O texto de hoje termina com este versículo emblemático: “O Filho do homem, quando vier, será que ainda vai encontrar fé sobre a terra?” (Lc 18,8b) Uma pergunta inquietante para todos nós: que tipo de fé será encontrada entre nós, quando vier esta hora? Qual a qualidade desta fé aqui encontrada? Uma fé consistente, madura, contextualizada e encarnada no chão da história? Ou uma fé que consiste apenas nas rezas, orações e adorações, na repetição de palavras intermináveis no interior dos templos, vazios da presença de Deus? Não é de qualquer oração que Jesus está pedindo que sejamos persistentes, mas daquela oração contextualizada, que incorpora elementos do cotidiano, da vida pessoal ou de acontecimentos sociais, culturais e históricos específicos do momento e local em que estamos rezando. Rezar é conectar a fé e a espiritualidade com a realidade vivida pela pessoa que reza e também pela comunidade.


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