Décimo Oitavo Domingo do Tempo Comum. Agosto vocacional chegou, possibilitando-nos celebrar neste domingo a vocação presbiteral. Esta celebração ocorre no primeiro domingo de Agosto, relembrando os ministérios ordenados, que incluem diáconos, padres e bispos, em referência ao patrono (padroeiro) dos padres, São João Maria Vianney, também conhecido como o Cura d’Ars, que é celebrado no dia de amanha (04). Importante salientar que o Concílio Vaticano II, teve um impacto significativo na compreensão do sacerdócio (presbiterato) na Igreja Católica. Graças a este documento, não apenas reafirmou a importância do sacerdócio ministerial, mas também abordou a relação dos padres com a Igreja e o mundo, promovendo uma visão mais pastoral e próxima dos fiéis, ao invés de ser apenas aquele administrador de sacramentos, entre quatro paredes do templo.
Um domingo em que estamos atravessando o 215º dia do ano. Outros exatos 150 estão vindo pela frente. Uma data significativa para a nossa vivência cidadã. No dia 3 de agosto comemoramos o Fim da censura no Brasil. Foi neste dia, em 1888, que foi votado o texto da Constituição Federal. Nesta importante data histórica, foi votada, na então Assembleia Constituinte de 1987/88, o conteúdo da nova Constituição Federal, referente ao tema da censura, que havia vigorado como política de controle durante o Regime Militar (1964-1985). Nestes anos de chumbo, aplicava-se a censura às diversas esferas da sociedade, desde o jornalismo até os festivais de música, composições musicais, teatro, etc. Para esta finalidade, foram utilizados órgãos de Estado, como a Divisão de Censura e Diversões Públicas (DCDP), o Conselho Superior de Censura (CSC) e o terrível Departamento de Ordem Política e Social (DOPS). Dá até arrepios só de escrever sobre este assunto.
Mas voltemos ao nosso proposito aqui, de apresentar uma breve reflexão acerca do Evangelho do Dia. Como estamos no Ano Litúrgico C, retomamos o Evangelho de Lucas, que no dia de hoje nos apresenta uma situação inusitada. Enquanto Jesus está proferindo seus ensinamentos, um jovem o interrompe com um pedido muito pessoal: “Mestre, dize ao meu irmão que reparta a herança comigo”. (Lc 13,13) Com esta sua atitude, este jovem dá uma clara demonstração de que não havia entendido nada daquilo que Jesus ensinava. Para ele, o mais importante é possuir bens, riquezas, poder, numa completa inversão dos valores propostos por Jesus. Para Jesus, ser uma pessoa transformada e seguidora de seus ensinamentos é mais importante do que ter posses materiais ou status social.
A filosofia nos ajuda a entender esta complicada situação entre o “ter” e o “ser”. Para ela, a discussão sobre “ter” ou “ser” aborda duas formas fundamentais da existência humana, com sérias implicações para a compreensão da identidade e do propósito humano. Ou seja, enquanto “ter” se refere à posse de objetos materiais ou características externas, “ser” diz respeito à essência do humano, ao modo de existir e à realização pessoal. O filósofo humanista alemão Erich Fromm (1900-1980), por exemplo, criticava uma sociedade orientada pelo “ter”, argumentando que ela pode levar à alienação, à busca por satisfação material e à perda de valores essenciais da existência humana. Completando sua linha de raciocínio, Fromm dizia que “a ânsia de poder não é originada da força, mas da fraqueza e que a principal tarefa na vida de um homem é a de dar nascimento a si próprio pelo ‘Ser’”.
É a ganância que destrói a vida. A humanidade está cada vez mais envolvida no processo do “ter” e não na possibilidade concreta da busca pelo “ser”. É por este motivo que a Mãe Terra”, está sendo sistematicamente sendo destruída, por aqueles que vivem movidos pela ganância do ter sempre mais, não se importando com os métodos utilizados para alcançarem estes seus objetivos. Proposta esta radicalmente contrária aos ensinamentos de Jesus, que apresenta a vida humana como o dom e bem maior que alguém pode possuir: “Tomai cuidado contra todo tipo de ganância, porque, mesmo que alguém tenha muitas coisas, a vida de um homem não consiste na abundância de bens”. (Lc 12,15) O que mais importa não é acumular bens, mas integridade, humanidade, gratuidade, amorosidade, partilha, doação, entrega, sempre pensando no coletivo e não nos interesses pessoais.
No caminho da vida, nos deparamos em vários momentos com o problema do acúmulo, das riquezas, das posses. Basta ver o comportamento consumista das pessoas nos “santuários sagrados do capitalismo” (shopping Centers). Uma necessidade que vamos criando de ter sempre mais em detrimento do ser sempre mais. Jesus mostra que é idiotice acumular bens para assegurar a própria vida. Só Deus pode dar-nos a riqueza que é a própria vida como dom maior. A vida é um dom, um presente valioso que recebemos gratuitamente de Deus, fonte da criação e do cuidado. Deu-nos a vida e deu-nos a si mesmo como presença viva na arte de viver. Com sua contribuição humanista, Erich Fromm também dizia que: “a principal missão do homem, na vida, é dar luz a si mesmo e tornar-se aquilo que ele é potencialmente”: “Ser” e não apenas “Ter”.
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