Quarta feira da Décima Semana do Tempo Comum. Enquanto o outono derruba as temperaturas lá fora, aqui pelas bandas do Araguaia, as manhãs nos chegam bem agradáveis, com o frescor típico da estação, até que o astro rei mostre a sua cara e vai dizendo que quem manda é ele. As temperaturas do período da tarde flertam com a estação do verão que já se foi, com o calor tomando conta. Este é o nosso Araguaia, com as suas especificidades próprias, promovendo o nosso bem-estar único. Como a umidade vai decaindo, necessário que tenhamos os devidos cuidados com a nossa saúde, de preferência não descuidando da hidratação necessária. Felizmente, a gripe que tem assustado os lá de fora, por aqui não tem estado presente, a não ser um resfriado aqui e acola.
No frescor da manhã, rezei acompanhando os meus visitantes, saltitando alegremente de galho em galho no meu quintal. Esta é época em que eles vêm atrás das frutas, que faço questão de cuidar para eles. Por hora, são as jabuticabas e açaís, servidas com fartura. Os tucanos adoram os frutos do açaí. Dependuram nas palhas e degustam com os seus bicos avantajados. Foi em meio a esta natureza festiva, no claro escuro da manhã, que aproveitei para fazer memória rezando com o salmista: “A tua palavra é lâmpada que ilumina os meus passos e luz que clareia o meu caminho”. (Sl 119,105) Tenho para mim com convicção que a Palavra é a revelação de Deus, que nos levam a descobrir o sentido da vida e a discernir o caminho a seguir na história, em meio às diversas situações enfrentadas. Neste sentido, o evangelista São João foi sábio ao dizer: “a Palavra se fez humana (carne) e habitou entre nós” (Jo 1,14). Com a sua encarnação, Jesus é não só o maior intérprete da Palavra, mas também a sua concretização definitiva.
Nossa trajetória humana segue em direção às nossas realizações, para que assim possamos dar concretude à proposta de Deus, ao nos criar com a finalidade de alcançarmos a plenitude da vida. Cada dia que passa, é um passo dado nesta direção, por mais que não tenhamos a compreensão clara desta dimensão do existir humano. O passado vai ficando para trás e o presente ainda aponta no horizonte das nossas perspectivas. O presente está aí para ser vivido. Negar o passado é negar a memória. Um povo que não sabe olhar para o passado, é um povo destituído de memória. Cabe-nos aprender com o passado; viver intensamente o presente, sonhando esperançadamente com o futuro, em busca das nossas utopias. Nestas horas, sinto nosso bispo Pedro muito vivo quando nos dizia: “ter esperança é um ato de rebeldia”. Resistência teimosa esperançando com fé.
“Memória se faz na história!” É por isso que no dia de hoje, a Igreja nos traz a memória de São Barnabé. Chamado originalmente José, nasceu na ilha de Chipre, no início da era cristã. Não pertenceu ao grupo dos Doze primeiros discípulos. Trata-se de um apóstolo, que fazia parte dos Setenta e Dois enviados. Não conviveu de perto com Jesus, mas se converteu nos primeiros anos do Cristianismo, desempenhando um papel relevante na expansão das primeiras comunidades cristãs. A Bíblia menciona, pela primeira vez, o nome de Barnabé entre aqueles que, depois da morte de Jesus em Jerusalém, se reúnem em torno dos Apóstolos. O dia em que é lembrado, 11 de junho, corresponde à data da sua morte. São Barnabé, segundo se acredita, teria sido apedrejado na ilha de Salamina. Como um dos primeiros cristãos referidos no Novo Testamento, Barnabé é o padroeiro de Chipre e Antioquia (Síria).
José se fez gratuidade na missão de anunciar a Boa Nova do Reino. Após vender todos os seus bens e dar o dinheiro aos apóstolos, ele recebeu o nome de Barnabé, que significa “filho da consolação”. É desta forma que deve ser a missão daqueles e daquelas que fazem a sua adesão pelo seguimento de Jesus. “Seguimento” e não “imitação”, como a espiritualidade mais conservadora, faz questão de ainda prescrever para os que são de Cristo. A espiritualidade dos Mártires da Caminhada se faz através de uma mística libertadora que nos colocam pisando no chão da história dos pequenos, pobres e oprimidos, como o texto de Mateus nos orienta, segundo a liturgia desta quarta feira. “Em vosso caminho, anunciai: O Reino dos Céus está próximo. Curai os doentes, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demônios. De graça recebestes, de graça deveis dar! Não leveis ouro nem prata nem dinheiro nos vossos cintos; nem sacola para o caminho, nem duas túnicas nem sandálias nem bastão, porque o operário tem direito ao seu sustento”. (Mt 10,7-10)
“De graça recebestes, de graça deveis dar!” A missão é feita na gratuidade, porque Deus é amorosidade na gratuidade. O amor na sua essencialidade é gratuidade. Se somos, filhos e filhas de Deus, somos herdeiros desta gratuidade amorosa de Deus. Anunciar e viver o Reino, que já está aqui no meio de nós, é disseminar esta gratuidade em forma de missão, vivida na essência de nossas relações. Tal missão consiste, portanto, em convidar a todos e todas para seguir a Jesus, o novo Pastor. Esta missão se realiza mediante o anúncio do Reino e pela ação concreta dos sinais da presença do Reino. A missão se desenvolve em clima de gratuidade, pobreza e confiança, e comunica o bem fundamental da paz, isto é, da plena realização de todas as dimensões da vida humana. Devemos nos sentir como os portadores da libertação, construindo um mundo mais humano e mais fraterno em que predomine a equidade, que significa dar às pessoas o que elas precisam para que todas elas tenham acesso às mesmas oportunidades.
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