Sexta feira da 30ª Semana do Tempo Comum. Outubro finalizando sextando. Novembro vem chegando, e já o avistamos no horizonte de nossas perspectivas. O mês das missões, dando lugar ao mês, em que a Igreja Católica, dedica à busca constante pela santidade e, sobretudo, reconhecer os santos e santas, que estão ao nosso lado no dia a dia, dedicando ao cuidado da vida e ao bem comum. Um mês também especial, em que teremos a oportunidade de lembrar-nos de tantas pessoas que, ao nosso redor, contribuíram e foram decisivas para que tenhamos vida, e vida com dignidade. Segundo o Papa Francisco, “ser santo é um chamado universal, não um privilégio de poucos. É uma vocação para todas as pessoas, que se constrói no dia a dia através de pequenos gestos cotidianos, vivendo os valores do Evangelho e o amor de Deus que, apesar das dificuldades, seguem Jesus Cristo com todo o coração”.
31 de outubro é uma data também especial para o universo cristão: Dia da Reforma Protestante. Há 508 anos, na data de hoje, 31 de outubro de 1517, o monge agostiniano Martinho Lutero (1483-1546), publicou as 95 teses, pregando-as na porta da Igreja de Todos os Santos, em Wittemberg, na Alemanha. Este evento foi considerado a fundação do Movimento Protestante. Esta ação de Lutero consolida sua doutrina resumindo-a no princípio de “salvação pela fé”. Ele argumentava que o fiel poderia prescindir da Igreja para conseguir sua salvação. Lutero e os seus seguidores foram excomungados pelo papa Leão X em 1520, nascendo então a tradição luterana, uma denominação protestante que surgiu na Europa a partir da Reforma Protestante no século XVI, com base na doutrina de Martinho Lutero. A salvação é alcançada pela fé, e a Escritura é a mais alta autoridade.
Mais uma vez, nesta sexta feira seguimos refletindo com o texto de Lucas, sugerido pela liturgia para a nossa caminhada de fé. A temática central do texto lucano de hoje, é a forma de se praticar a Lei. Jesus estabelece uma nova relação, no que diz ao cumprimento da Lei: “Não pensem que eu vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim abolir, mas dar-lhes pleno cumprimento”. (Mt 5,17). A relação com a lei mudou: Jesus enfatiza que o mais importante não é a Lei em si, mas a atitude do coração de quem segue esta Lei, amando a Deus e também ao próximo, com a mesma intensidade, em vez das práticas externas e cerimoniais, estabelecendo assim uma “nova lei” ou nova aliança com base nesses princípios.
Nesta nova compreensão de Jesus, a lei não deve ser observada simplesmente por ser lei, mas por aquilo que ela realiza de justiça na defesa da vida. Cumprir a lei fielmente não significa transformá-la em observâncias minuciosas, criando uma burocracia escravizante. Diferente dos fariseus do tempo de Jesus e de hoje, com o seu rigorismo moral; a perspectiva de Jesus é outra, onde devemos buscar na lei a inspiração para a justiça e a misericórdia, a fim de que a pessoa humana tenha vida plena e relações mais fraternas. Sendo assim, a necessidade de juramentos é sinal de que a mentira e a desconfiança pervertem as relações humanas. Jesus exige que a lei seja cumprida de forma amorosa, onde a misericórdia seja a força maior, que conduz as novas relações entre as pessoas, enaltecendo a vida digna e plena, sendo verdadeiros e responsáveis.
Ao curar uma pessoa em pleno dia de sábado, na casa de um fariseu, Jesus subverte aquela compreensão moralista da lei, mostrando que esta deve estar a favor da vida em sua plenitude. Lei que escraviza não é lei a ser cumprida, porque fere o principio fundamental de Deus: “Eu vim para que todos tenham vida e a tenham em abundância”. (Jo 10, 10) Tudo deu errado para o mestre da Lei e aquele chefe dos fariseus, pois Jesus os desmascaram diante da sua hipocrisia, como cumpridores fieis da Lei, principalmente porque eles cumpriam a Lei de forma literal, mas muitas vezes ignoravam completamente o espírito por trás dela. Lembrando que os fariseus cumpriam rigorosamente 613 preceitos do judaísmo, divididos em 248 mandamentos positivos (o que fazer) e 365 mandamentos negativos (o que não fazer).
Dentre estes preceitos estavam àqueles relacionados à Lei do sábado. A Lei do Sábado é o quarto mandamento, que ordena que o sétimo dia da semana seja guardado como um dia de descanso e santificação, dedicado ao Senhor. A lei original estabelecia a proibição de qualquer trabalho e incluía a todos na comunidade, como família, escravos e animais, com base no relato bíblico de que Deus descansou no sétimo dia após a criação: “O sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus; não farás nenhuma obra nele, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu”. (Dt 5,14) Os mestres da Lei e os fariseus esquecem que o propósito fundamental de Deus era para impulsionar uma relação social mais igualitária
“A Lei permite curar em dia de sábado, ou não?” (Lc 14, 3) Ao fazer tal pergunta, Jesus desmascara de vez a lógica e o raciocínio daquelas lideranças religiosas. A Lei do sábado deve ser interpretada como libertação e vida plena para as pessoas, e não como forma de escravização, pois a pessoa humana está acima de qualquer lei, inclusive das leis religiosas, que foram surgindo ao longo da história. Lei que não liberta e promove a vida com justiça, não é lei que dever ser cumprida. A lei e a sua função de libertação para vida plena! Para Jesus, a lei maior é a do amor, que se concretiza nas relações que vamos estabelecendo na rotina do dia a dia. A prática desse amor deve ser incondicional, ativa, na gratuidade, tendo como objetivo o bem do outro, mesmo que isso exija sacrifício, sendo a base do Reino de Deus. Segundo Jesus, a lei do amor é a síntese de toda a lei e os profetas, resumida em dois mandamentos principais: amar a Deus sobre todas as coisas e amar o próximo como a si mesmo. Quem não se ama, dificilmente amará quem quer que seja!


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