Quinta feira da 27ª Semana do Tempo Comum. Uma manhã bem mais fresca aqui para nós do Araguaia. Depois da abençoada chuva rápida de ontem à noite, o clima amanheceu bem mais ameno, dando uma trégua na fumaça das queimadas. A Ilha do Bananal/TO agradece, até porque o maior volume de águas recaiu sobre ela, que estava em chamas. Seguimos daqui rezando pela nossa Casa Comum, como quer o nosso pontífice atual, reforçando uma preocupação do já saudoso Papa Francisco, que tinha uma inquietação com o nosso “Pecado Ecológico”. Como sabemos, após o Sínodo da Amazônia de 2019, Francisco adotou o conceito de “Pecado Ecológico” para descrever ações e omissões contra Deus, o próximo e o ambiente, como o desmatamento, a poluição e as queimadas, representando um atentado contra o próprio Deus e a vida humana, inclusive a das futuras gerações.
A “Ecologia” vista como um movimento “Integral”. Nesta perspectiva, ela é vista como um movimento integral com a interconexão de todas as coisas, integrando aspectos ambientais, sociais, culturais, econômicos e espirituais para um cuidado holístico (do grego holos: “inteiro” ou “todo”), com o Planeta e a sociedade. Uma preocupação que deve ser a de todos aqueles que fazem a sua adesão pelo seguimento fidedigno dos ensinamentos de Jesus de Nazaré. Ser cristão não é apenas manter o desejoso de “salvar almas”, como os mais conservadores assim insistem, e veem o cuidado com a Casa Comum, como uma aberração dos “comunistas infiltrados dentro da Igreja”. Por este motivo o Papa Francisco insistiu na conversão ecológica de todos nós, “como um processo pessoal e comunitário de transformação interior e de ação, inspirado no Evangelho, que leva a reconhecer a responsabilidade de cuidar da Terra (a “Casa Comum”) e a viver em comunhão com toda a criação, modificando atitudes de consumo, individualismo e exploração, e adotando um estilo de vida que promova a justiça, a fraternidade e a sustentabilidade”.
Para os amantes da literatura como eu, hoje é um dia importante a ser lembrado. Neste dia nascia em São Paulo, um dos ilustres fundadores do Modernismo no país: Mário Raul de Morais Andrade (1893-1945). Simplesmente, Mário de Andrade, o criador da poesia brasileira moderna. Poeta, contista, cronista, romancista, musicólogo, historiador de arte, crítico e fotógrafo brasileiro. Quem não se lembra destas três obras suas: Pauliceia desvairada – 1922, Amar, verbo Intransitivo – 1927 e Macunaíma – 1928. Infante nas minhas leituras, debrucei-me mais sobre esta última, que conta a história de Macunaíma, o herói sem nenhum caráter (pois assume o caráter de todos). Indígena, nascido na Floresta Amazônica, depois de perder a “muiraquitã”, amuleto dado por sua companheira, Ci, a Mãe do Mato, ele decide viajar até a cidade de São Paulo para recuperar este amuleto. Uma envolvente narrativa nacionalista, mas de caráter crítico, já que os personagens são apresentados sem nenhuma idealização colonialista, mostrando também a rica variedade da língua portuguesa.
Ficaria a aqui descrevendo a influência de Mário de Andrade sobre a cultura brasileira, mas preciso voltar à reflexão litúrgica desta quinta feira, com o texto de continuidade de ontem de Lucas. Desta vez, depois de ensinar a oração do Pai-Nosso, feita ontem, Jesus faz alguns ensinamentos sobre a atitude interior que o discipulado e nós, devemos nos dirigir a Deus, que é o Pai amoroso (Abba). Estes ensinamentos, feitos através da linguagem das parábolas, para que assim o entendimento chegasse claro para o seu grupo: a primeira é a do amigo importuno que, no meio da noite, vai pedir pão a outro amigo; a segunda, com o uso de imagens de peixe, serpente, ovo escorpião, com Jesus reforçando e aprofundando o conceito de amorosidade do Pai. Lembrando que o peixe e o pão são símbolos da Eucaristia, representando a presença e a ação de Jesus na refeição sagrada e sua multiplicação divina, como memorial da Paixão, Morte e Ressurreição do Filho de Deus.
Bater à porta! Esta é, talvez, a palavra-chave para uma melhor interpretação deste texto lucano de hoje. No dizer de Jesus, fica evidente este esclarecimento: “pedi e recebereis; procurai e encontrareis; batei e vos será aberto. Pois quem pede, recebe; quem procura, encontra; e, para quem bate, a porta se abrirá”. (Lc 11,9-10) Mas, em qual das portas devemos bater mesmo, diante de tantas outras portas que aparecem no horizonte de nosso itinerário na caminhada da fé? Escolher a porta certa é o nosso maior desafio. Para tanto, devemos fazer esta escolha e opção, fortalecidos pela presença do Espirito Santo em nossas vidas, e fundamentados numa prática orante da Palavra. Como ação pedagógica, Jesus nos ensina que devemos insistir na oração perseverante e confiante. Se somos capazes de atender ao pedido de amigos e filhos, quanto mais o Pai amoroso e misericordioso! Ele nada recusará! Pelo contrário, dará o Espírito Santo, isto é, a força de Deus que nos leva a viver conforme a vida de Jesus de Jesus de Nazaré: tudo em todos! Jesus está sempre batendo à nossa porta, como o Livro do Apocalipse de São João assim o descreve: “Eis que estou à porta e bato! Se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei e cearei com ele em sua casa, e ele comigo”. (Apoc 3,20)
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