Quarta feira da Quinta Semana da Páscoa. Seguimos firmes na trilha deste tempo litúrgico, rumo à grande Festa da Cristandade: Pentecostes. Como podemos observar, as leituras destes dias especiais, que antecedem o Evangelho, como a dos Atos dos Apóstolos, por exemplo, nos trazem uma visão teológica da história do começo do cristianismo. Tempos difíceis sempre marcados por perseguições e até mortes (martírio). Todavia, sempre demonstrando a perseverança dos primeiros seguidores e seguidoras de Jesus. Os altos e baixos de uma Igreja nascente, com as pessoas buscando o caminho do seguimento de Jesus de Nazaré, o Cristo da fé. A “Igreja do Caminho”, como ficaram, de fato, conhecidos os primeiros cristãos.
O Tempo Pascal, na liturgia Católica, é fortemente marcado pela espiritualidade teológica joanina, por ser este evangelho considerado como “Evangelho Pascal”. A catequese deste evangelista, de forma profunda, nos coloca em sintonia com um Jesus amoroso que, através da sua unicidade divina com o Pai, nos faz experimentar na própria vida, este amor incondicional de Deus. Uma catequese cristológica e eclesiológica, que nos possibilita entender toda a amorosidade de Deus, presente no Filho Amado, espalhando o sonho de vida plena, que Ele quer para todos nós, indistintamente: “Eu vim para que todos tenham vida; que todos tenham vida plenamente”. (Jo 10,10) Ele dá a sua própria vida a todos aqueles e aquelas que aceitam sua proposta.
É neste clima de amorosidade que vamos tocando em frente, sem perder o fio da meada da história. No dia de hoje, por exemplo, somos convidados a refletir sobre uma data muito importante para nós. Comemoramos hoje o “Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento”. Pensar nesta temática, é viver a diversidade cultural como um exercício de cidadania e respeito pela diversidade cultural, na promoção e proteção dos Direitos Humanos. Como está descrito no Preâmbulo da Declaração Universal de Diversidade Cultural da UNESCO: “A cultura deve ser considerada como um conjunto distinto de elementos espirituais, materiais, intelectuais e emocionais de uma sociedade ou de um grupo social”. Diversidade que acompanho de perto, com a especificidade dos Povos Originários, com os seus saberes, usos, costumes e tradições, permeados pela ancestralidade, de quem temos ainda muito o que aprender.
Mas, voltemos à especificidade litúrgica, para tentar compreender no dia de hoje, a proposta que Jesus vem nos trazer, através deste relato do Evangelho de João. O Mestre inicia a sua conversa com os discípulos fazendo uma afirmação bastante forte e significativa: “Eu sou a videira verdadeira e meu Pai é o agricultor”. (Jo 15,1) O discipulado é provocado a ser videira que produz fruto, e não como uma planta estéril que nada produz. A missão a ser realizada no seguimento do Divino Mestre, requer mais do que devoções infrutíferas e desconexas com a construção do Reino de Deus, nas que sejamos árvores que produzam frutos e que estes frutos sejam suficientes para levar adiante a proposta de Jesus, de criar entre nós uma vida em plenitude.
“Aquele que permanece em mim, e eu nele, esse produz muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer”. (Jo 15,5) Ou seja, para que sejamos árvores que produzam frutos, precisamos estar unidos à fonte da vida: Jesus e o Pai. A fonte da vida é Deus e o seu Filho presente no meio de nós. Isto porque Deus é bom o tempo todo; o tempo todo, Deus é bom! Jesus não foge desta realidade, mas integra em si esta transcendência em forma de mistério de Deus, encarnando em nossa realidade humana e nos fazendo humanos divinos, como Jesus foi, é e será. Somente enraizados neste amor de Deus, daremos conta que a árvore da nossa vida produza os frutos desejados por Deus. Sim, porque o amor de Deus é infinito, e nunca terá fim. Não há nada que possamos fazer para que Ele deixe de nos amar ou que Ele lhe ame menos. Quer acreditemos ou não, Deus nos ama incondicionalmente e quer sempre o nosso bem, mesmo que a nossa árvore não produza os frutos esperados.
“Se permanecerdes em mim e minhas palavras permanecerem em vós, pedi o que quiserdes e vos será dado. Nisto meu Pai é glorificado: que deis muito fruto e vos torneis meus discípulos”. (Jo 15,7-8) Tais palavras nos ajudam a entender que não viemos a este mundo apenas para passear, mas temos todos e todas, uma missão a cumprir. Cada dia que passa, a árvore da nossa vida está produzindo seus frutos, sejam eles adequados ou não à dinâmica do Reino. Mais do que uma participação em uma instituição cristã, somos desafiados a participar efetivamente e afetivamente na vida de Jesus. Isto somente será possível se nos colocarmos como testemunhas fiéis do projeto do Reino revelado por Jesus. O fruto principal que a nossa árvore deve produzir é o amor. Fica claro para Jesus que Ele não nos quer com uma adesão de servos que obedeçam a um senhor, mas uma adesão livre, de amigos. Assim sendo, a nossa missão não nasce da obediência a uma lei, normas, preceitos e dogmas, mas do dom livre de quem participa com alegria da tarefa comum, que é testemunhar o amor de Deus que quer dar vida a todos e todas. Diante deste desafio, devemos sempre nos perguntar: que tipo de árvore (videira) tem sido a minha vida, e que frutos ela está produzindo?
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